Mário Russo |
Após o tsunami das eleições locais (para as câmaras
municipais) que varreu o PSD, era esperada alguma reação das principais figuras
do partido e ela aí está mas muito táticas. O único candidato assumido é Rui
Rio, um quase eterno candidato e reserva moral do PSD que só esperava o momento
para avançar e acha ser este o melhor. De facto é bom porque Pedro Passos
Coelho, responsável pela catástrofe e pela teimosia num discurso ressabiado de
quem não aprendeu nada com o passado e os erros cometidos, decidiu, face à
humilhante derrota (até para o CDS), não se recandidatar.
Dois putativos candidatos que poderiam avançar eram Paulo
Rangel e Luís Montenegro, mas declinaram. Em minha opinião, porque sabem que
nas próximas eleições iriam perder, porque eram rostos da guarda pretoriana de
Passos Coelho que trucidou o país com uma política “para além da Troika”, que
nem o FMI hoje lhes defende.
Assim, dão o tapete a outro e vão desejar que perca para o
PS, para afiar as facas após as próximas legislativas.
Emerge o eterno Pedro Santana Lopes (PSL), muitas vezes
injustiçado no Partido, que tem carisma e muita experiência política e
executiva, e que neste momento está num lugar com visibilidade na Santa Casa de
Misericórdia, porém, também, com ambição de se vingar daqueles que o
crucificaram antes de tempo e mostrar que pode recentrar o Partido e torna-lo
numa grande força, descolando-se do CDS que ganhou força e independência com
Cristas e o brilharete em Lisboa. Não se deve menosprezar a vitória de Assunção
Cristas, porque foi a carta de alforria que precisava para traçar as linhas de
força da sua atuação. É uma mulher inteligente, objetiva, metódica e culta, que
não confunde a ideologia. Está a cimentar o caminho e a pautar a agenda. Já
disse que com ela não há alianças com o PS e que o PSD é que é o natural
parceiro de coligação, condicionando já o próximo líder deste partido.
A incógnita é se PSL avança ou não. Está a ponderar a sua
decisão e ainda esta semana teremos decisão.
Será que é o tempo de Santana Lopes avançar? Claro que PSL
não precisa do meu conselho. Sempre tive a impressão que PSL valia muito mais
do que aquilo que os seus correligionários queriam e tudo fizeram para
denegri-lo. PSL já deixou há muito de ser um “enfant terrible”, tornando-se num
dirigente com experiência e maduro. Mas a mim parece-me que não é altura de
avançar, porque o próximo líder será derrotado pelo PS nas próximas eleições.
Pensar o contrário é acreditar no Pai Natal. A economia
mundial, e a europeia em particular, mesmo com as incógnitas no horizonte,
passou muito tempo em baixa e o seu crescimento já não depende apenas da
estabilidade política dos países, mas da iniciativa económica das empresas e
pessoas cansadas da fase baixa da economia. Há muita poupança privada para
investimentos que não pode ficar mais tempo “amordaçada”. A América Latina está
a crescer, despontando economias fortes na região e a Ásia há muito que cresce
de forma sustentada. A Europa começa também o movimento ascendente e os EUA,
mesmo governado por um “desequilibrado”, tem empresas demasiado grandes que por
si só determinam o crescimento económico, como aliás, se pode ver.
Neste quadro o mais provável é que Portugal continue a
crescer a um ritmo como não se conhecia. O discurso de maior otimismo e muito
mais humanista de António Costa ganha força e deve ser o ganhador nas próximas
eleições, porque nem PCP, nem BE, que podem fazer algum folclore
reivindicativo, ousarão por em causa os próximos orçamentos de estado, porque
se o fizerem darão lenha para eleições antecipadas que ainda mais beneficiarão
o PS e Costa.
Por estas razões, penso que PSL deve deixar o palco a Rui
Rio para que este recentre o Partido e sofra os ódios de estimação dos
Passistas que serão aliados escondidos do PS. Será uma refrega com muita poeira
pelo ar. Assim, Pedro Santana Lopes posicionar-se-á para reserva da nação PSD
após a tormenta e a poeira assente. Se avançar vai desgastar-se nesta fase da
vida do partido, muito afetado pela estratégia do “eucalipto” que Passos Coelho
impôs. Vai fraturar ainda mais o PSD e enfraquecer o poder de fogo e a si
próprio, numa eventual derrota para Rui Rio, um político simpático, com
discurso sem azedume, com áurea de seriedade e de rigor nas contas, que deixou
os cofres da cidade do Porto cheias para Rui Moreira fazer alguns brilharetes.
Tudo boas notícias para António Costa e para a permanência
do PS na governação a cheirar a maioria absoluta.