António Fernandes |
Os partidos políticos sempre tiveram à sua volta muita gente que
à sua sombra fez percurso de vida, de que só recebeu.
Chegar a esta conclusão não é difícil nem é preciso frequentar
alguma formação especifica.
Aquilo que me admira – não sei se só a mim – é que, feito esse
percurso, não tenham um pingo de
decência para reconhecerem que, se não fosse esse percurso, uma grande
quantidade deles e dos seus correligionários, uma espécie de personagens
cinzentos, não teriam, segundo a expressão popular, aonde “cair mortos”.
Após as eleições autárquicas recentes cujos resultados foram o
que foram, as vozes da discórdia fazem um coro estranho.
Um coro de silencio ruidoso nos corredores das carpideiras de
mágoas paridas não se sabe muito bem por quem nem aonde, ou talvez saibam, mas
não tenham a coragem política suficiente para as trazer para a ribalta da
discussão política no seio dos partidos mais concretamente em Assembleias
Gerais de Militantes conforme todos os dirigentes prometem mas que raramente
cumprem. Um assunto premente por candente em que o que está em causa é o
próprio futuro desses mesmos partidos tal qual os conhecemos. Um futuro que se
nos apresenta cada vez mais distante das pessoas e demasiado próximo de arrufos
individuas sem historia nenhuma mas que influem a história ocasional das Instituições. Um futuro que nos
deve preocupar em face daquilo que vem acontecendo desde o virar do século no
que toca ao perigoso percurso em que a Humanidade se encontra por completo
desequilibro na relação de forças e na correlação dessas mesmas forças
lideradas por pessoas impreparadas para esses combates.
Estranha por isso, o cidadão comum, que sendo as vozes
dissonantes, vozes com responsabilidade política em todo o processo conducente
ao acontecido, deviam ter manifestado esse descontentamento e discórdia no seio
aonde tudo foi decidido. Tenha essa decisão sido de forma unilateral ou
consertada, uma vez que a aceitaram.
Democrática não foi na justa medida em que os militantes de base
não foram chamados a essa discussão. Tendo havido inclusive quem tenha sido
dispensado dessa discussão na vertente participativa sendo que o previsível
seria o reforço da representação partidária nos diversos teatros o que não
aconteceu.
A este coro juntam-se outras vozes que se dizem de independentes
com propalada ideologia de esquerda, do centro ou de direita, consoante a
conveniência, próximas dos diversos partidos políticos, segundo afirmam e, em
alguns casos, assim foram publicamente apresentadas. Mas que agora, em face da
remota possibilidade de virem a ser anfitriões do que quer que seja naquilo que
ao exercício do poder autárquico diz respeito, se abespinham com uma autoridade
cívica e moral arvorada, que não tem e, se “descolam” dessas peias com a maior
das facilidades argumentando sem sustentação credível em domínios que muitos
alimentaram sem terem sequer a mínima noção de que lado do interesse estavam e,
continuam prosaicamente a alimentar em outros meios, que nada tenham a ver com
“politiquices”, como se a política seja algo de descartável, de forma
despudorada, consoante a conveniência do costume, tentando convencer os pares
do estorvo que lhes causa, por incómoda.