09/04/2014

Paulo Portas e as cinco portas semi-abertas

 


Fernando Marques*
Paulo Portas, líder do CDS-PP e vice-primeiro-ministro do actual Governo, tem uma subtileza – um pouco ao jeito de Nicolau Maquiavel – na fuga aos obstáculos políticos. Assim, cinco portas ficaram semi-abertas, ou meio-fechadas (é um bocado como a perspectiva do copo meio-vazio e meio-cheio). Quais? O caso dos submarinos; o memorável “irrevogável”; a reforma do Estado que ninguém sabe o que é; o enorme relógio dos trezentos; e, finalmente, não menos importante, o Rendimento Social de Inserção (RSI) como o paradigma dos subsídios dos ricos em Portugal.
 
1. Porta metálica. O escândalo que rebentou há alguns anos, acerca da ilegalidade cometida nas negociações e posterior aquisição dos submarinos, é o “ex-libris” de uma condição "sin qua non" quase “irrevogável” dos processos levantados à elite política (e financeira também). O problema é que esta portinhola já começa a ter ferrugem e, desta forma, tudo o que é velho e ferrugento vai para os recantos esquecidos da sucata. Relembre-se que dois gestores alemães, envolvidos neste sortilégio dos metaloides da tabela periódica, foram condenados por corromper funcionários públicos estrangeiros. Pois é, os corrompidos ficam no altar.
2. O “irrevogável”. Por uma questão estilística, altere-se para “El irrevogável”. Esta porta, sorrateiramente quase fechada, mostrou-se a mais aberta de todas, na medida em que simboliza os falsos moralismos da dura política praticada e levada até ao limite por este político. A verdade é que o líder centrista nunca quis a demissão, dado que não passou de uma jogada de xadrez, ou seja, um xeque a Passos Coelho, visto que, um dia antes, havia saído Vítor Gaspar do Governo (o verdadeiro número 1). A mentira fica e o povo português não entrará nessa porta tão facilmente.
3. Porta reformada estruturalmente. Numa primeira instância, o ridículo do guião da reforma do Estado é focado logo no título, “Estado Melhor”, que evidencia uma certa prepotência ideológica. Intitula, também, um ponto como “reformar é diferente de cortar” (não, não foi o Bob, o construtor, que escreveu isto). Depois da leitura do guião, fica-se com a ideia que nem Paulo Portas sabe o que são as reformas estruturais, ou melhor, sabe, todavia, na sua porta, vendida a todos, o rótulo deve dizer reformar e não cortar. Porquê? Apela mais ao consumidor.
4. Porta temporal. Um dos episódios mais caricatos que se assistiu nos últimos tempos foi, sem dúvida, o relógio, de Paulo Portas, que marcava o fim do domínio da "troika" em Portugal. Pactuar com tal brincadeira só pode ser resumido em duas opções: Ou o vice-primeiro-ministro estava a tentar colar a propaganda política mais desavergonhada de sempre, ou, por outro lado, não fazia a mínima ideia de qual era e viria a ser a sua agenda política. O centrista fechou bem a porta da cave e, como consequência, o relógio parece esquecido. Não está. Nós sabemos.
5. Porta-rica. As últimas intervenções de Paulo Portas, acerca do RSI, são, no mínimo, algo estranhas. Então 26 mil famílias que perderam o RSI, desde que o Governo tomou posse, possuíam 100 mil euros? Que bela porta de carvalho.

*licenciado em História