Esta noite não foi apenas um senhor grego reformado que se matou, foi um símbolo de resistência e dignidade que nasceu. Por outro lado, foi um pouco de todos nós que se sente espoliado que também se foi com ele.
Hoje ouvi na CNN um antigo ministro grego dizer com todas as letras que o resgate à Grécia é uma brincadeira, porque não chega. A Grécia não pode pagar empréstimos com um serviço de dívida a juros escandalosos, mesmo estratosféricos e vai contaminar todo o continente. Pode ser o estopim para uma revolução. Tem de haver um acordo a nível mundial.
A UE, o FMI, as agências financeiras, os banqueiros e os governos devem perceber que estão a lidar com pessoas e que estas se podem revoltar, porque a fome é má conselheira e rapidamente legitima atos menos ortodoxos. Está tudo a caminhar lentamente para um tsunami social. Este suicídio é um sensor de alarme que não pode ser ignorado. E é uma vergonha para sociedades ditas civilizadas.
Em Portugal também está a chegar o desespero. Há sinais no ar.
A insensibilidade patenteada pelos nossos governantes é de bradar aos céus. A
soberba com que adota medidas de maior austeridade e de aniquilamento da
economia, como se fossem donos de uma quinta, não lembra a nenhum ditador de
plantão. O Governo aposta em reconstruir o país sobre os escombros, mas pode
não ter tempo para sobreviver ao impacto dos furacões que está a semear.
Mário Russo
*escreve ao abrigo do novo AO