06/04/2012

O suicídio de um Grego digno foi o primeiro aviso

Esta noite todos tomamos conhecimento de um trágico desfecho com a morte por suicídio de um reformado grego defronte do Parlamento ateniense a quem o Governo cortou a sua reforma, porque se recusou a ter de sobreviver remexendo das sobras do lixo.


Esta noite não foi apenas um senhor grego reformado que se matou, foi um símbolo de resistência e dignidade que nasceu. Por outro lado, foi um pouco de todos nós que se sente espoliado que também se foi com ele.
É um símbolo de resistência e de revolta que se vai alastrar logo que se agudizem as condições de vida de milhares de pessoas nada habituadas a viver nas condições que olimpicamente os governos julgam poder impor. Até podem dizer que não há dinheiro, mas não serve de desculpa para humilhar. A solução tem de passar por uma profunda mudança mundial do modelo de desenvolvimento e distribuição da riqueza concentrada em meia dúzia. Isto não é utopia, nem é académico, meus senhores.


Hoje ouvi na CNN um antigo ministro grego dizer com todas as letras que o resgate à Grécia é uma brincadeira, porque não chega. A Grécia não pode pagar empréstimos com um serviço de dívida a juros escandalosos, mesmo estratosféricos e vai contaminar todo o continente. Pode ser o estopim para uma revolução. Tem de haver um acordo a nível mundial.


A UE, o FMI, as agências financeiras, os banqueiros e os governos devem perceber que estão a lidar com pessoas e que estas se podem revoltar, porque a fome é má conselheira e rapidamente legitima atos menos ortodoxos. Está tudo a caminhar lentamente para um tsunami social. Este suicídio é um sensor de alarme que não pode ser ignorado. E é uma vergonha para sociedades ditas civilizadas.


Em Portugal também está a chegar o desespero. Há sinais no ar. A insensibilidade patenteada pelos nossos governantes é de bradar aos céus. A soberba com que adota medidas de maior austeridade e de aniquilamento da economia, como se fossem donos de uma quinta, não lembra a nenhum ditador de plantão. O Governo aposta em reconstruir o país sobre os escombros, mas pode não ter tempo para sobreviver ao impacto dos furacões que está a semear.


Mário Russo
*escreve ao abrigo do novo AO