06/04/2012
E tudo a “troika” levou…um País à beira do abismo um ano depois!
Vamos rebobinar o filme e situarmo-nos cerca
de um ano antes. Em Portugal governava um certo partido (PS) liderado por um
certo senhor (hoje, pelos vistos estudante em Paris) que de PEC em PEC e de
incompetência atrás de incompetência nos ia afundando social e economicamente
sem que vislumbrássemos nenhuma luz ao fundo do túnel. De estertor em estertor,
antes de sucumbir ao golpe final e perante a pressão nacional e internacional,
este governo quase moribundo de José Sócrates optou por pedir ajuda a
Bruxelas…com vários meses de atraso (e que muito penalizaram o País…) dado o
estado quase asfixiante a que chegaram as contas públicas e sob fortes críticas
das diversas forças políticas (da oposição - PSD e CDS), do leque empresarial e
da Banca. Sócrates até aí teimoso e autista cedeu ao apelo quase lancinante
lançado pelos Partidos, Empresários e Banca e permite a entrada no País de um
triunvirato (UE, BCE e FMI) cujo plano era o de “salvar” Portugal da bancarrota
e da quase certa falência económica. Assinado o célebre “memorandum” pelo
governo, pelo partido que o suportava (PS) e pelas principais forças políticas
da oposição – PSD e CDS. Caiu o malfadado e incompetente governo socialista, o
País vai a eleições e os grandes vencedores são o PSD (1º) passando o CDS, a 3ª
força política representada na Assembleia da República, sofrendo o PS uma forte
queda na sua popularidade. PSD e CDS formam uma coligação natural para governar
e Passos Coelho torna-se 1º Ministro num governo com apenas 13 (super)
ministros que começa a implementar as medidas (impopulares) acordadas com a
chamada “troika”, começando desde logo com a retirada- mal compreendida - dos
subsídios de férias e de Natal (já antes - no governo Sócrates - tinha havido
uma “retirada” de 5% nos vencimentos sob a forma de sobretaxa). A partir daqui
as medidas cada vez mais apertadas e quase asfixiantes, começaram a gerar um
mal-estar profundo penalizando sobretudo os mais desfavorecidos, a função
pública e a chamada classe média, num País onde o desemprego continua a subir,
o crescimento económico não existe ou continua tão lento que não se vê, a saúde
piora, a instabilidade nas ruas começa a ser preocupante quer em quantidade,
quer na sua perigosidade e onde as perspetivas de sucesso e de desenvolvimento
são cada vez mais débeis, sabendo nós também que toda uma geração de jovens - a
mais qualificada de sempre – vai ser obrigada a sair de portas para procurar
novos horizontes de sucesso pessoal e profissional. Enquanto isso, a despesa do
Estado não diminui e nós somos governados por uma classe política com muitos
vícios e cada vez mais velha e acomodada e aquilo que deveriam ser princípios
éticos do saber servir a Nação com sentido de responsabilidade e dever foram
para as calendas gregas. Um ano se passou….e qual é o retrato do País? Um País
profundamente triste, melancólico e revoltado por não acreditar nas suas
gentes, naqueles que nos governam e acima de tudo onde as assimetrias e
injustiças se acentuam, sempre com a nítida sensação que existe um País a duas
velocidades: um País para pobres onde as dificuldades são acrescidas em cada
dia que passa e um País para ricos, onde todas as mordomias e toda a espécie de
malfeitorias são permitidas e onde a justiça não atua e é permissiva. É este o
País que encontramos em 2012, um ano depois do célebre “memorandum” da “troika”:
um País deprimido que não acredita em si próprio e que continua a resvalar
muito lentamente para as labaredas do Inferno. A tempo de se salvar? A seu
tempo se verá mas os indícios não são nada animadores.
Daniel Braga
*escreve ao abrigo do novo AO