No passado dia 12, desloquei-me a Coimbra para assistir a mais um jogo de futebol no Estádio Cidade de Coimbra, onde pude compartilhar com aquela fantástica moldura humana, um jogo muito emotivo, mas nem sempre bem jogado. Já não me recordava de ter saído rouco depois de um jogo da “minha” Briosa, de me terem vindo as lágrimas aos olhos, após ver uma plateia a abraçar-se em júbilo em consequência do golo da vitória da Académica, no último lance do jogo. Esta meia-final da taça, nunca me irá sair da memória por todo o simbolismo que a envolveu, ter lá estado e adquirido o papelinho mágico, o bilhete do jogo, que independentemente do resultado em Santa Maria da Feira, irei guardar religiosamente.
O meu pai ensinou-me desde muito novo a gostar e a vibrar com a Briosa. Após o jogo, quando cheguei a casa estive, a folhear o livro da História da Académica e li atentamente as linhas que enunciavam com orgulho a vitória sobre o Benfica em 1939, na primeira taça de Portugal da História do futebol português. A Associação de Estudantes de Coimbra venceu, o poderoso Benfica por 4-3, contrariando as expectativas que davam um grande favoritismo aos que vestiam de vermelho.
Recordei as minhas primeiras visitas ao velhinho Estádio do Calhabé, onde senti, a verdadeira mística que ostentam aquelas camisolas negras. Lembro-me dos primeiros nomes que aprendi a soletrar, os Tobagenhos Latapy e Lewis, Fua ou o eterno Rocha que eram alguns dos nomes que se destacavam no início da década de 90, estávamos então na antiga divisão de honra. Memórias que eu julgava perdidas, com a transformação do futebol num negócio, onde se perdeu a afinidade ao clube local e ganharam ascendente os designados “três grandes”, que asfixiaram o crescimento de todos os outros. É a lei dos mais forte, que tal como em todas as esferas, vigora também no futebol.
Já convivi neste Estádio, com esta moldura humana, no entanto não senti, como neste jogo, a força de um público, de uma cidade, de um distrito a torcer por um emblema. Com a urgência de aumentar as receitas, a direcção da Académica viu-se na necessidade de ter o máximo de adeptos no estádio, o que conduziu que se perdesse muito da mística que existia no velhinho Calhabé, onde as capas negras e os estudantes, que neste jogo voltaram a embelezar as bancadas, puxavam em uníssono rumo a um objectivo, a vitória.
É por todas estas razões, que eu considerei este jogo muito especial e me senti orgulhoso por ser da Académica. Houve taça, assim o futebol é bonito.
Tiago Sousa
Professor de Geografia
autor do blogue Mania de Escrever