04/09/2011

A nova equipa na Agricultura - 8



Este longo arrazoado pareceu-me necessário para mostrar quais os tipos de acções que, na minha opinião, será necessário que o Ministério faça para desenvolver a agricultura portuguesa. Os aumentos dos ganhos de rendimento para os agricultores são aumentos do nosso miserável PIB. Os casos referidos como exemplos, tanto da investigação agronómica como da extensão rural foram exemplos pontuais. Certamente chegam para mostrar qual o caminho a seguir, para transformar a nossa agricultura numa muito mais eficiente, competitiva e dando ao país mais do que dá hoje, embora os nossos economistas façam esforços desesperados para convencer os portugueses de que ela pouco vale. Em vários artigos no "Linhas de Elvas" e noutros jornais tenho denunciado casos dessa nefasta acção, que tanto tem contribuído para a pobreza nacional.
O caso de Sever do Vouga refere-se apenas a um concelho. Imagine-se como bem melhor estaria o nosso PIB se tivéssemos tido, para todo o país, ao longo destas décadas, um Ministério da Agricultura a funcionar eficientemente, em vez de ter andado a destruir a agricultura! As diferenças no nosso PIB seriam espectaculares e talvez nem houvesse défice orçamental nem dívida soberana!
Assim, a receita a aplicar para conseguir a desejada transformação e independentemente de outros casos que a ajudem, será uma reactivação tão rápida e eficiente quanto possível, dos serviços de investigação agronómica e de extensão rural.
Em data que deve ter sido cerca de 1967, o Eng.º Vital Rodrigues fez uma conferência na Ordem dos Engenheiros, em sessão presidida pelo Prof. Henrique de Barros, que tinha sido o nosso Professor de Economia Rural, em que relatou o que já realizara em Sever do Vouga e mostrou o gráfico, até essa altura, que incluí no artigo anterior. Numa intervenção no debate que se seguiu lembrei que, apresentando a relação receitas/despesas e comparando-a com a percentagem do PIB que o estado recolhe em impostos, podia ver-se o fabuloso investimento que o estado fazia com um serviço de extensão. Considerei, nessa altura, que o estado recolhia, em impostos, 20% do PIB. Assim, se o estado fizer uma despesa de um escudo que cause no PIB um aumento de 5 escudos, recolhe, nos impostos, integralmente, aquilo que investiu. E se o aumento fosse de 10 escudos (nesse ano de 1967 as receitas foram quase dez vezes a despesa), o escudo vinha acompanhado dum juro de 100%.(1)
Actualmente o estado cobra mais de 30% do PIB. Se cada escudo (agora euro) investido causar no PIB um aumento de três vezes esse valor, o escudo volta, ao fim dum ano, integralmente para os cofres do estado. Se causar um aumento de seis escudos, o escudo (ou euro) seria recebido com 100% de lucro. Mas, como se pode ver no Quadro I e na Fig. 1 do artigo anterior, os resultados de 1971 deram aos agricultores 23 vezes o valor das despesas efectuadas. Deixo aos leitores a tarefa de calcular os juros de tal investimento. Recordo-me de, há anos, ter lido num Relatório do Laboratório dos Produtos Florestais, em Madison, no Wisconsin (um dos grandes laboratórios do Serviço de Investigação Agronómica do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos), que o governo dos Estados Unidos recebia, em impostos sobre as melhorias resultantes dos trabalhos desse Laboratório, 9 dólares por cada dólar ali investido.
Como já há muito sugeri, o país precisa, para recuperar do atraso e da destruição dos últimos anos, e para desenvolver a sua agricultura, dum Plano Intensivo de Investigação Agronómica e de Extensão Rural. Num artigo próximo tentarei pormenorizar um pouco a forma de executar esse Plano.

(1) Mota, M. - A rentabilidade dos serviços de agricultura. III - a Extensão, Jornal do Comércio de 16 de Julho de1969 e em Problemas da Investigação Científica. Problemas da Agricultura, pag. 258-262. Lisboa, 1969
(Continua)

Miguel Mota