06/08/2011

Oferta das Golden Share e venda a preço de banana do BPN a quem beneficia?



É certo que Portugal está hoje a pagar o que semeou nos últimos 30 anos. Mas o panorama não é apenas português, como se pode constatar pela movimentação desesperada dos dinheiros que passeiam pelas bolsas mundiais. Está toda a gente em polvorosa, como baratas tontas. O rating lixo atribuído à economia portuguesa bem pode ser dado a quase toda a Europa e até aos EUA. É a consequência do modelo depredador e selvagem implantado com base em sofisticados modelos matemáticos de transferência da riqueza global para os bolsos de meia dúzia, ou seja, modelo de ladroagem legalizada.

Este fartar vilanagem à escala global teve eco exponencial em Portugal e nenhum governo ou presidente da república teve coragem de o estancar, apesar de previsível. O último governo enterrou o país com mais 100% da dívida, sabendo que alguém teria de pagar e que esse alguém, como sempre, é o povo.

O atual governo herdou esse tesouro de governação nada agradável e prometeu rigor e austeridade para pôr as contas em dia. Prometeu que não deixaria ninguém para trás e aceitou de braços abertos a receita que a tróika de sábios cá esteve a cozinhar, como se fosse ungido por deuses. Não ousou questionar tais divindades acerca da receita.

Pôr as contas em dia, equilibrando o balanço é uma coisa passível de ser feita de várias maneiras e não de uma única.
O que parece é que este governo aceita de bom grado que a solução é só do lado da receita via impostos, redução de benefícios (alguns justificáveis), taxas, cortes salariais, correspondentes a impostos, esmagamento até à exaustão do trabalhador.

Em épocas de guerra é que se conhecem os generais. Neste contexto de muita dificuldade é que podem emergir os verdadeiros líderes políticos, que questionam políticas impostas e sem garantia de resultados. Aceitar as imposições da UE sem pestanejar não é corajoso, porque há responsabilidades da UE em ter jorrado dinheiro para os países como Portugal, porém com o recado onde gastar. Impôs leis cujo cumprimento obrigaria que o dinheiro voltasse aos ricos países contribuintes líquidos (beneficiando Alemanha e outros).

O povo está a ser esmagado com impostos, desemprego e falta de esperança. O governo já se abocanhou com 50% do subsídio de natal dos trabalhadores e, em contrapartida, com que moral dá de mão beijada aos acionistas milionários as “golden-sheres” das jóias da coroa e vende o património do BPN onde jorrou 2,4 MM de euros, por 40 milhões ao BIC?

Todos os dias há uma notícia má para os trabalhadores, de cortes em benefícios, de mais taxas, de aumento de impostos, de aumentos do preço de bens monopolizados e sem concorrência. Sempre para o mesmo lado. Para quem não pode fugir. A perseguição fiscal, condenada por Portas, afinal continua com mais requinte de malvadez.

Por isso, Sr. PM, é legítimo questionar-se a quem o governo está beneficiar? Não explicando bem, é natural pensarmos que há cambalacho. Que há dinheiro por baixo do pano a beneficiar alguém, porque ninguém acredita que haja tamanha burrice em negociações.

Mário Russo


*novo acordo ortográfico