18/07/2011

A nova equipa na Agricultura - 2


A história dos grandes laboratórios de investigação científica do estado, fora das universidades, começa em Novembro de 1936, com a criação da Estação Agronómica Nacional. Graças ao génio dum jovem agrónomo, o Prof. António de Sousa da Câmara, e um Ministro da Agricultura, o Dr. Rafael Duque, que compreendeu o que era fundamental para desenvolver a agricultura portuguesa, iniciou-se algo que serviria de modelo a tudo o que, no campo da investigação científica se viria a criar alguns anos depois. Foi, também, criada então a carreira de investigador científico, paralela da carreira docente universitária.
Instalada provisoriamente no Mosteiro dos Jerónimos, em breve se transferiu a Estação Agronómica para uma quinta e edifício próprio, em Sacavém, sempre funcionando como um bom instituto de investigação, como é possível ver no volume comemorativo dos 50 anos, publicado em 1986. Nas décadas de 1950-1960, porque a SACOR necessitou de expandir as suas instalações, em Sacavém, para os terrenos da Estação, foi adquirida a parte Norte da Quinta do Marquês, em Oeiras, e construídos novos edifícios.
Dez anos depois da EAN e decalcado dela (embora tivesse podido não sofrer algumas das limitações da EAN) foi criado um outro grande laboratório, no Ministério das Obras Públicas, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Entretanto, em 1942, nasceu em Elvas uma outra instituição, dedicada a uma especialidade da investigação agronómica, a Estação de Melhoramento de Plantas (EMP), cujo objectivo era a obtenção de melhores variedades de plantas, nomeadamente de cereais e de forragens. Algumas outras instituições foram criadas posteriormente, como o Laboratório de Física e Energia Nuclear e o Instituto Nacional de Investigação Industrial.
Considerando os três primeiros desses institutos (EAN, EMP e LNEC), de que tenho mais informação, o que deram ao país, não só em produção científica e prestígio internacional, mas também em resultados económicos, foi muitas vezes o que o estado neles investiu. A destruição que sofreram, ao longo dos últimos anos (em obediência à "lei", referida no artigo anterior, que manda destruir toda a investigação científica
pública que não seja das universidades) e que faz deles hoje uma sombra do que foram, causou ao país uma perda incalculável que, em termos económicos, se expressa no nosso miserável PIB e, consequentemente, das receitas do estado. Se, em vez da destruição desses grandes repositórios de "know how" (e fontes da agora tão apregoada inovação), eles tivessem continuado ao seu ritmo anterior (ou, mais desejável, até com algum aumento), Portugal não estaria nos actuais e tão graves apuros financeiros e económicos.
Em próximos escritos direi o que, na minha opinião, deve ser feito para recuperar, o mais cedo possível, do atraso causado pelos últimos governos. Naturalmente, apenas referirei os casos da investigação agronómica, aqueles em que é minha obrigação ter alguma competência. Como, para desenvolver a agricultura, eu considero que, além da investigação agronómica é também necessário um bom serviço chamado,
internacionalmente, de extensão agrícola (ou extensão rural), cuja função é levar até ao agricultor os conhecimentos de que necessita e, nomeadamente, aqueles que vão sendo criados pela investigação, a ele dedicarei algumas linhas. Acontece, até, que para esse
serviço existe um caso bem quantificado que mostra os fabulosos juros que rendem (até para o orçamento do estado!) os dinheiros nele investidos. Infelizmente, porque as chefias nunca quiseram pôr em prática a proposta que fiz há mais de cinquenta anos na EMP (ver "Linhas de Elvas" de 25 de Agosto de 2000), é difícil encontrar mais do que estimativas do que rendem os investimentos na investigação agronómica, igualmente fabulosos.
(Continua)

Miguel Mota