23/03/2011

Eleições à vista? E porque não?


A aprovação do PEC IV foi condição imposta pelo PM José Sócrates para continuar no governo. No entanto, a forma como foi proposto, sem conhecimento do PR, nem das oposições, retirou muita da margem de manobra, caso ainda existisse, a um entendimento. Agora é o próprio Presidente do Eurogrupo Jean-Claude Junker, estranhar este PEC, porque a versão esfoladora do contribuinte apresentada em Bruxelas teria contentado a Comissão europeia e o BCE.

Sócrates ou mentiu quanto à verdadeira situação e antecipou o desastre com estas medidas extras, ou não está seguro daquilo que o governo anda a fazer.

Agora vem Mário Soares, Ferro Rodrigues, Jorge Sampaio apelar a Cavaco Silva intervenção, e aos partidos de oposição, sentido de patriotismo e solidariedade, para que não haja eleições antecipadas, votando favoravelmente o PEC.

Lembram-se em que condições e com que justificativa Jorge Sampaio demitiu Santana Lopes. Pois eu recordo: “ O Presidente da República chegou à conclusão que o executivo «não dispõe das condições políticas indispensáveis para continuar a mobilizar Portugal e os portugueses, de forma coerente, rigorosa e estável». E este tem?

Não está em causa se o país deve ou não reduzir drasticamente a sua dívida externa (e interna, já agora). O que está em causa é se a receita é a certa em peso e extensão temporal. O que o governo está a impor ao país tem consequências benéficas futuras ou é apenas uma redução estatística com o definhamento económico progressivo e o aumento dramático do desemprego e angústia social, sem que seja o alicerce para uma retomada económica da riqueza nacional no futuro próximo?

Sendo certo que o PSD, maior partido da oposição e o seu líder, não podem continuar apenas a discordar das medidas, não parece razoável que Francisco Assis venha agora desafiar, como virgenzinha, o PSD a apresentar a alternativa. Isto porque até se pode dar de barato que tem de haver a dita austeridade, porém o que não pode acontecer é que as medidas sejam aplicadas por este governo desacreditado interna e externamente.

Qualquer medida de correção estrutural deve ser executada por caras novas, credíveis, com ideias novas, com nova força e não por aqueles que falharam sempre nas medidas que propuseram.

Ao ouvir os arautos da manutenção de Sócrates, apelando ao patriotismo (dos outros) e com o vaticínio do desastre (“ou Eu ou o Caos”) e eventual desaparecimento do país, apetece-me perguntar-lhes se acaso é possível a situação estar pior? Se a situação não está boa porque se deve manter um governo que não tem demonstrado competência nem «condições políticas indispensáveis para continuar a mobilizar Portugal e os portugueses, de forma coerente, rigorosa e estável»? Só loucos para pensar o contrário.

Medidas duras devem ser aplicadas por um governo forte, mobilizador, sem amarras e sem o cansaço que este já patenteia.

Nada mais falso que afirmar que será um desastre para Portugal. Seria o mesmo que dizer que em período normal de eleições o país vai para o brejo, porque há eleições. Quando uma equipa não ganha um jogo não se pode demitir todo o plantel, mas o seu treinador.

É preciso ter uma visão para o país e Pedro Passos Coelho não se pode apenas remeter para a discordância das medidas draconianas impostas por Sócrates. Portugal só pode aspirar a melhorar de vida com nova dinâmica governativa. Há muito a fazer e é preciso apontar já os caminhos. Medidas imediatas, de médio e de longo prazo.

Mário Russo


*novo acordo ortográfico ainda não em vigor