07/04/2010

O montado português


Miguel Mota


Há várias dezenas de anos, um grande agricultor português, o comendador João Lopes Fernandes, pretendendo melhorar a sua agricultura, fez apelo a dois grandes agrónomos portugueses, o Prof. Joaquim Vieira Natividade e o Eng.º António Sardinha de Oliveira. Um dos sectores a que foi dada particular importância foi a subericultura e foi instalado um montado com as melhores normas conhecidas. Como símbolo, foi plantado um sobreiro junto à casa do agricultor.
Passaram os anos e os seus descendentes, actuais dirigentes da Fundação João Lopes Fernandes, resolveram mandar gravar um vídeo sobre a obra desse grande agricultor. Nesse vídeo há depoimentos de várias pessoas, entre as quais tiveram a gentileza de me incluir. Não conheci o Comendador João Lopes Fernandes, mas era amigo dos meus colegas Natividade e Sardinha de Oliveira, dois agrónomos a quem o país muito deve.
O vídeo tem como título "Três Homens e um Sobreiro", este último hoje uma imponente árvore, acompanhada duma lápide descritiva do acontecimento. Algumas cenas do vídeo mostram aspectos do montado estabelecido sob a direcção daqueles dois ilustres técnicos. Que diferença em relação à enorme maioria dos montados que vemos em Portugal! Árvores bem alinhadas e com o espaçamento certo. Cada uma com um tronco direito e alto, só então ramificado, ainda jovens (para a normal longevidade do sobreiro) mas já a darem longas e perfeitas pranchas de cortiça. Valia a pena que alguém medisse a produtividade de cada hectare daquele montado e a comparasse com a dum hectare de qualidade média, com árvores mais ou menos irregularmente implantadas, muitas delas de tronco tortuoso, ramificado a baixa altura e dando certamente menos e pior cortiça. Aqueles - muitos - que falam constantemente na falta de competitividade da nossa agricultura, como se ela fosse uma fatalidade que nos caiu do céu e não apenas de ministros incompetentes e, diga-se de passagem, também um tanto da inércia e falta de iniciativa de muitos agricultores, têm naquele montado - e em alguns raros outros casos - a prova do que podia ser a nossa agricultura e, portanto, a nossa economia. Economia que os nossos governos desde Guterres julgam que é só comércio e indústria, como se vê pelo nome errado que dão ao ministro dessa pasta.