09/11/2009

Esquerda


O Dr. Sarsfield Cabral, embora compreendendo a diferença entre esquerda e direita, considera ("O Diabo" de 20-10-2009) que " 'Esquerda' é um termo demasiado vago e ambíguo para dar substância a uma estratégia política".
As designações de esquerda e direita, em política, nasceram em 1789, em plena Revolução Francesa, na Assembleia Nacional, onde se sentavam à direita do Presidente os nobres e defensores de certos privilégios e à esquerda o povo, lutando por Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Penso que na vida actual os termos continuam a ter validade. Mas, tal como ninguém é pintor ou escultor apenas porque se declara como tal, só é "de esquerda" quem pratica acções de esquerda. Podemos considerar que são acções de esquerda as nacionalizações, a redução do leque salarial (na extrema esquerda os salários seriam todos iguais), saúde, educação e protecção na velhice como encargos do estado, predomínio do trabalho sobre o capital (na extrema esquerda não pode haver capital privado), impostos altamente progressivos, em que quem tem mais paga proporcionalmente mais e quem tem muito mais paga proporcionalmente muito mais, etc. etc. etc. Por oposição, são de direita as privatizações, um grande leque salarial (desde salários de miséria a salários muito altos), saúde, educação e protecção na velhice como negócios privados, predomínio do capital sobre o trabalho, impostos pouco progressivos ou, até, todos a pagarem a mesma percentagem, etc. etc. etc.
Actualmente, pelo menos em países considerados civilizados, todos os governos praticam acções de esquerda e acções de direita. Pode variar muito é a proporção entre elas. O grande erro, em Portugal, é dizer-se "de esquerda" quem pratica principalmente acções de direita e de extrema direita.

Miguel Mota
Oeiras