12/11/2009

Casamento : homossexuais, Deus , Pátria e Família


1ªparte

Peco por considerar ser óbvio que qualquer ser humano tem direito à felicidade, seja junto de quem for, pensando que o bom senso dita que tal assim seja, e que as pessoas em nada se devem sentir feridas ou incomodadas porque o João casou com o Manel ou a Rita casou com a Mariana. Reparo que explicar que qualquer um de nós tem direito a casar com quem muito bem entender provoca os mais diversos reflexos em muitas das pessoas, sendo que uns são mais falaciosos do que outros, mas todos eles, na minha opinião, impressionantemente medievos, para usar um adjectivo mais bonito.

Uma das coisas que me dizem muito é algo do género «ai sim, quer dizer, casam agora uns com os outros e daqui a pouco já querem adoptar».
Pergunto-me qual a relação provada entre uma possível deficiência na formação de uma criança criada por um casal homossexual. Os dias que vivemos são já pródigos em criar crianças em regime monoparental, por via da escalada de divórcios a que se vai assistindo, e cujas causas não são para aqui chamadas. Assistimos, em simultâneo, a uma cada vez mais crescente demissão do papel dos progenitores no que à educação e formação da criança concerne, papel esse que é entregue aos professores, dos quais não sabemos, regra geral, a orientação sexual. Pergunto ainda qual a diferença prática entre uma criança criada por um casal hetero e um casal homo, supondo que ambos entregam à criança o que de maior valor se pode entregar, o amor, os afectos, o caminho seguro para a vida. E, por fim, pergunto se a única coisa que a criança poderá sofrer não será o insulto fácil dos outros que, no espírito da “sociedade sã”, poderão torturá-los pelo simples facto de serem filhos de um casal homossexual.

Outra muito escutada por mim é a famosa «e já agora, porque não casar com crianças, já que qualquer um pode casar?», frequentemente seguida pelo «daqui a pouco qualquer pedófilo pode adoptar uma criança, não?»
Este preocupante alerta vem da boca de pessoas que confundem alhos com bugalhos e, na sua ignorância, confundem a homossexualidade com pedofilia. Ora, pelas amostras a que temos acesso todos os dias na comunicação social e, quiçá, na nossa vizinhança, sabemos que não é assim. E sabemos que, talvez, antes pelo contrário.

Mais outra, a do «está bem que eles se juntem, ninguém tem nada a ver com isso, que façam lá o que entenderem, desde que o façam dentro de portas».
Quanto a mim, esta abordagem é das mais características dos espécimes – machos, no exemplo, embora também se aplique às fêmeas - com alguns problemas de identidade. Pouco mais há a dizer, excepto sublinhar o grau extremo de hipocrisia a que se assiste.

Das melhores que se ouvem actualmente é a do «sim senhor, eu também acho que eles têm direito à vida comum, com todos os direitos de um casal, mas casamento é que não», dividindo-se em seguida a opinião, por entre os que acham que «o casamento é algo anterior à lei, é coisa cultural cá bem metida nos entrefolhos da sociedade, e que não deve ser alterado, sob pena das maiores confusões na vida das pessoas, uma espécie de Babel nos espíritos, em que ninguém se irá entender quando um disser ‘eu sou casado’ e o outro reclamar ‘também eu’, vá alguém perguntar a um e a outro com que é casado e a confusão na tripa do cérebro seja tal, ao conceber que um deles é casado com outro de penduricalho, e a cabeça impluda levando todo o universo conhecido ou não com ela»; e pelos que simplesmente acham que «o casamento é um sacramento reservado aos que, de sexo oposto, consideram fazer família, por meio da fornicação legal, missionários em posição e credo, que deus não veio à terra para permitir disparates destes.»
Claramente, os conservadores do deus, pátria e família são-no por compromissos clubísticos, quer políticos, quer religiosos. Outros são-no por serem simplesmente ignorantes. Cá para mim, podemos embrulhá-los a todos no mesmo pano, já que se movem todos no mesmo charco.
Mas outros há que envolvem esta discussão em falácias legalistas, avançando com impossibilidades constitucionais diversas, falando em espírito da lei, como se este fosse o espírito de carnaval, mas sem travestis. E estes têm tido o seu quê de sucesso pois são os que dão um rosto, digamos que inteligente, à farsa dos anteriores.