Os trilhos - novos caminhos da guitarra portuguesa é uma experiência única, que enaltece a música nacional numa aproximação intensa e própria onde se sente a> guitarra portuguesa e as suas mais profundas necessidades. Dá a conhecer uma fusão que respeita um passado ligado ao fado e recebe de braços abertos um presente que promete revelar uma guitarra até aqui desconhecida, reinventando a guitarra portuguesa numa sonoridade que se apresenta transfigurada, fascinante, que hipnotiza os sentidos, onde na alma se lhe sentem os acordes que rasgam por completo uma túnica preta que a manteve aprisionada a um amor cruel quase nunca defrontado, vivido, como um fardo, o fado, essa a sua sina, e eis que a vejo e sinto, agora de um vermelho intenso e sedutor, capaz de nos fazer sofrer enlouquecendo, a cada nota que vai escorregando e se escapa por entre os dedos que se intimidam, entorpecem-se-nos os sentidos já arrebatados, aprisionando-nos na dor, não a sentindo, pede-se força a um par de mãos que mostram tremores em percorrer sem recato o sentir o palpitar, um desejo profundo de tocar. Sem licença invade o espírito arremessando tudo a sua volta invadindo uma alma lusitana que já não sofre de amor, confusa, magoada, abandonada. Rompe sem medo com a tradição que a liga ao fado, a guitarra é agora livre, sem pudor deixa-se ser tocada como nunca, exprimindo-se livremente sem vergonha, pelas mãos de um amante que gentilmente a percorre dando-lhe vida e alma, para que nada seja como dantes, mais madura e formosa, vai soltando toda a sua magia em notas que apaixonam ao primeiro ouvir, é o regresso da guitarra portuguesa e de um projecto que sem duvida merece uma ovação de pé por ter querido amar de forma diferente a guitarra portuguesa revelando o lado secreto de uma guitarra despida de preconceitos, que abraça com paixão a liberdade edá-se a conhecer na presença de outros instrumentos num dueto, onde nunca perde a identidade, revelando vida e voz própria. É conhecer o amor através da música, nem sei o que faço em querer partilhá-la, guardo-a num segredo entranhado na alma. Torno-te só minha, num sentimento de egoísmo de raiva grito, guitarra não sei ouvir sem ti, não me fujas, toca, a última, que importa, amante de longos cabelos pretos que trazem consigo o aroma a fuscias, olhar profundo, rasgado, que reflecte o Tejo que brilha ao longe e me torna demente, vagabundo, errante, sem ti.
Hugo Costa
Hugo Costa