JOAQUIM JORGE
Portugal precisa de ter um rumo para se desenvolver mas para isso só o conseguirá fazer se for capaz de mobilizar a maioria da população. Todavia não é isso que está acontecer, temos um primeiro-ministro mais vaiado que me lembro , mas as vaias não são proporcionais às sondagens. Aponta-se como solução a diminuição do papel do Estado. Será este o caminho? O Governo quer fazer grandes obras públicas . Ferreira Leite diz que não temos dinheiro nem capacidade para as fazer. Em que é que ficamos? Que país queremos? Qual o papel do Estado? Às vezes questiono a viabilidade deste país bipolar e sem fé , mais parecendo uma novela negra, em que cada um dos políticos fala para o seu quartel (partido) e seus correligionários. Estes senhores parece que não dão conta do recado, andando sempre a dizer uma coisa e a fazer outra, o seu discurso muda conforme estão na oposição ou no governo. Temos que escolher políticos que façam o seu trabalho , com humildade , sem épicos de espaventos de apocalipse , nos respeite o mais possível e se possível nos leve a alguma parte.
A realidade mediática substitui a realidade real , é preciso acabar com a embriaguez de tudo poder - a política deve ser exercida pelos cidadãos e não sobre os cidadãos. A prepotência e abuso do poder, mostram uma insensibilidade absoluta por quem menos tem e quem menos pode, o lema de sobrevivência é « não penso e deste modo existo».
Os políticos têm obrigação de adaptar-se a uma sociedade que mudou rapidamente, tendo que aprender a linguagem dos cidadãos e alterar a forma como se dirigem a eles . A qualidade da democarcia é posta em causa pela desresponsabilização política dos seus intervenientes e a falta de uma cultura de prática, de exemplo , gestão de rigor , conduz à «normalçização» política da corrupção. O que diz Alberto Asor Rosa sobre Itália aplica-se a Portugal: « é o país onde tudo é o contrário do contrário». É obsceno olhar para determinados salários e benesses de administradores de empresas públicas e compará-los com o que ganham os funcionários públicos.
Temos que mudar este vil estado de fazer política, ser, estar e actuar. Um padre colombiano disse que vivemos numa sociedade onde não se diz o que se pensa nem se faz o que se diz - e é verdade.
Os portugueses estão atónicos e perplexos. Será que temos de mudar de país ou de políticos? Portugal é ínvio . Adoro este país , é pena ser tão mal frequentado.
19/07/2008
PAÍS BIPOLAR
artigo publicado na revista Noticias Magazine de 13/07/2008