22/09/2007

ANALOGIAS OU TALVEZ NÃO


Isabel Carmo

Um elefante incomoda muita gente. Dois elefantes incomodam muito mais… três… começava assim uma história que a minha avó contava, passada nos interiores de Africa, em que os autóctones viviam amedrontados, mas em simultâneo deixavam os enormes paquidermes a destruir as suas culturas, sem que nada lhes fizessem, por se considerarem castigados pelas forças divinas.

Recordei a história, porque afinal, em sentido figurado, também temos manadas de elefantes: cinzentos, cor-de-rosa e brancos… que incomodam muita gente… mas os pigmentados à camaleão, são os que mais nos assustam…

Há uns tempos para cá, vou admirando mais as histórias que a minha avó contava. Tinham sempre uma profundidade que só ao cabo de tantas décadas consigo interpretar com mais clareza. E que actualidade têm!

Mas não era de nada disto que queria falar. Que analogias vamos buscar… O assunto é bem diverso e se alguma réstia de equiparação se encontrar, é pura imaginação.

O meu tema de hoje reporta-se a colocação de professores. Refere o que de incoerente há na colocação dos ditos, mesmo sendo um largo número de cidadãos imprescindível a todos, indistintamente. Os professores já foram alunos de professores, que por sua vez já haviam sido de outros e assim sucessivamente…

Pessoalmente, nada tenho a ver com o assunto. Já não conto para estatística e até bem cedo fui banida. Mas vivo em cada veia o ensino, porque acho que nasci para ser professora… gosto de ensinar, com conhecimento e amor, porque só se é bom no que se faz, quando se ama o que se faz.

Mas ser professor é quase uma maldição. A maioria é mal remunerada. Não pode ter vida própria e muito menos estabilidade emocional. São uma espécie de caracóis peregrinos, os professores contratados… que grande incentivo para transmitir conhecimentos!!!

Depois, vêm ainda outras condicionantes: a impossibilidade de evoluir, sobretudo nas áreas específicas do conhecimento que transmitem, pois que, com o baixo rendimento remuneratório, não se pode investir em livros, formações, enfim, acompanhar as mutações e evoluções que quaisquer ramos vão sofrendo. É castrador para quem ama o que faz.

Não entendo porquê há sempre no fundo da última prateleira do cofre de uma qualquer escola, aquele horário completo, que logo por azar vai para um alguém “desconhecido” ou, se o tal azar se mentem, acaba por desaguar na escola X o professor Y, que por azar nasceu na Raia, fez a sua vida na costa e é colocado na montanha… Tudo tem a ver com a sua personalidade, com a vivência e prioridades preestabelecidas para a sua vida.

Isto é consequência de um perfeito planeamento e uma planificação aplicada ao desenvolvimento…


poetisa , professora , membro do clube e frequente do blogue