07/04/2007

Portugal: que futuro? II


Mário Russo

Acho que vamos no bom caminho quando nos dispomos a “ganhar” o nosso tempo reflectindo sob temas que a todos nos dizem respeito. A formação de consciência crítica é fundamental para podermos ser assertivos. Portugal tem um desfasamento de 46% em termos de competitividade relativamente à média dos 5 melhores países europeus. Há, por isso, um caminho a percorrer. As sugestões de Tiago Rocha, Ricardo Arroja, Daniel Braga e Joaquim Jorge, com as particularidades de cada um, constituem avanços sobre o tema que sugeri. Aliás, atrevo-me a dizer que os partidos políticos, em vez de Yes-men, deveriam ter verdadeiros Gabinetes de Estudos que centracem e aprofundassem as grandes questões candentes do nosso desenvolvimento como país, mas não têm. O que vemos é um vazio, preenchido sazonalmente quando há eleições, com programas feitos à “pistola”, sem adesão, bastas vezes, à realidade, sem qualquer pragmatismo temporal e financeiro, ou seja, apenas para “inglês ver”. Quem tem paciência para ler o ideário e programas dos partidos políticos, o que constata? São generalistas, cheios de trivialidades onde cabe tudo, são massudos, por vezes intragáveis e sobretudo, fantasiosos.
Para a discussão que sugeri, Portugal apresenta alguns exemplos ilustradores:
· Baixa produtividade no seio da União Europeia: 40% abaixo da sua média;
· Baixos índices de habilitações/qualificações, com menos de 20% com habilitações equivalentes ao 12º ano, contra 60% da média da OCDE, ao contrário de algumas opiniões que referem o excesso de licenciados;
· Menor número de patentes na UE como reflexo directo do menor peso no investimento em actividades de I&D, onde apenas 0.75% do PIB são investidos, contra mais de 100% deste valor na média da UE e fraca a tender para zero a participação das empresas neste domínio;
· Reduzido, para não dizer vestigial, peso das actividades de I&D na economia portuguesa, como consequência natural da fraca aposta do país nestas actividades;
Este quadro, quase negro, revela os desafios que se colocam ao país e que não se compadecem com frágeis e atomizados objectivos estratégicos de desenvolvimento. Não podemos ser bons a tudo. Há que ser selectivo. Onde apostar? O que fazer? Ricardo Arroja faz sugestões com as quais concordo em absoluto. O mote está dado. Vamos às áreas estratégicas.
Em meu entender, Portugal deveria apostar selectivamente num conjunto de áreas de que já tem algum domínio e canalizar para aí o esforço público em organização, infra-estruturas, educação e investigação, com liberdade para que outras áreas ou domínios fossem explorados por público ou privados, porém, sem apoios directos do Estado. Assim, elegeria os seguintes vectores estratégicos, já bem conhecidos:
1. Turismo e ambiente;
2. Floresta e papel;
3. Calçado e têxteis de qualidade;
4. Novas Tecnologias de Comunicação e Informação;
5. “Cluster” automóvel e novos produtos;
6. Produtos selectos da agricultura.



engenheiro e membro do clube