15/04/2007

CANUDO DE SÓCRATES

JOAQUIM JORGE

A falta de transparência e limpidez foi nefasta e para além do canudo de Sócrates ,este pode tornar o seu futuro político visto por um canudo.

Deste enredo todo sobre se Sócrates é engenheiro ou engenheiro técnico ,licenciado em engenharia civil ou simplesmente bacharel, a mim pouco me interessa, sempre pautei a minha relação com as pessoas, pelo que são e como estão, e não pelas suas habilitações literárias ,ao contrário,da maioria dos portugueses e por que não dizê-lo dos senhores jornalistas. Muitos frequentaram um curso superior que ficou pelo caminho outros nem se quer foram à barra da Universidade.Em Portugal existe um novo-riquismo atroz na exibição de luxos ,carros ,viagens, bens,etc. Mas também um novo-riquismo intelectual em que se exibe os títulos académicos e os diversos graus (licenciado, mestre,doutor) como forma de ostentação. Muitos deles pagos a peso de ouro para a sua frequência e não pelo mérito e provas dadas.
O dramático disto tudo não é o fim em si( licenciatura ) ,mas o conteúdo ( como se adquiriu a licenciatura) . Apesar de muita gente achar, que não tem importância nenhuma, eu acho que tem e muita. Eu como português tendo votado ou não neste primeiro-ministro,ou noutro qualquer, tenho o direito de saber as suas habilitações literárias, o que pensa sobre determinados assuntos de interesse nacional,as suas opções, o seu estado civil, a sua orientação sexual, o seu percurso até aqui, a equipa que vai escolher se for Governo,etc. Isso pode ser ou não determinante na minha escolha . Não devo é segregar particularidades como ser casado ou não, orientação sexual e outras. É um direito saber em quem votamos ou queremos para nos governar,só isso.
Uma coisa, eu sei, para quem tem fama e cultiva a intocabilidade e impolutibilidade, convenhamos que foi mau demais todo este embuste .Pode dar entrevistas e tudo o mais .O que já se passou ao tentar abafar o “caso”, que para mim não é caso nenhum, mas passou a sê-lo, porque parece que queriam esconder algo , veja-se a pressão feita nas redacções dos jornais, rádios e televisões. A falta de transparência e limpidez foi nefasta e para além do canudo de Sócrates ,este pode tornar o seu futuro político visto por um canudo.A dissimulação é inimiga da transparência. O disfarce é inimigo do verosímil .O sombreado é facundo.
Uma entrevista que praticamente foi um monólogo usando não sei quantas vezes as frases “ se me dá licença” e “ se me permite” em que os jornalistas José Alberto Carvalho e Maria Flor Pedrosa, foram subservientes ,brandos e não mostraram ser capazes de provar o que os jornalistas do Público e do Expresso investigaram. Estes sim teriam muito mais argumentos para contrapor. Sinceramente a ideia que retive é que muito ficou por explicar, mas como em tudo em Portugal perante a justiça, o ónus da prova é difícil e muitas vezes infelizmente, vira-se contra quem denuncia. Para entrevista do balanço dos dois anos de governo, tornou-se um balanço da vida académica de Sócrates, mal explicada e também não interessa , os portugueses se calhar, ou não viram ,ou não ligam , ou acham que foi vítima de uma cabala.
Como cidadão pergunto : José Sócrates não foi eleito para o Parlamento como deputado e só depois indigitado para primeiro-ministro pelo Presidente da República ? Não acham que deveria de mote próprio dar uma explicação ao Parlamento e só depois em conferência de imprensa dar uma justificação cabal aos portugueses? E mais tarde ao PR que o indigitou?
E porque não aos militantes socialistas que o elegeram para secretário-geral? Ou só se cita o partido quando dá jeito? Acham bem numa entrevista dar este tipo de explicações? Se tal acontecesse com qualquer cidadão teria a oportunidade de dar as suas explicações na TV? Aonde é que esteve Cavaco Silva? Eu já tirei as minhas conclusões há muito tempo ( três semanas), o que li no Público chega-me .Este tempo de antena foi pura propaganda e uma tentativa de virar o feitiço contra o feiticeiro, mas o tempo é bom conselheiro ,posso enganar-me mas este folhetim vai continuar e não acabou. Sócrates diz que não se sente “fragilizado” com esta polémica pois eu sinto-me fragilizado com toda esta classe do “mando”.A cara não diz com a careta. Uma coisa é certa a politica do exemplo ,este governo não a pratica e é um erro esotérico.Veio-me à ideia um conto, que aprendi na escola primária em que o Sol e o Vento fizeram uma aposta se conseguiriam tirar o casaco de um homem que ia a passar na rua. O Vento começou a soprar com muita intensidade e com força fustigando o homem com rajadas. O homem em vez de tirar o casaco, cada vez agarrou-se mais a ele ,apertando-o com toda a sua força . Não conseguindo o Vento, cedeu o seu lugar ao Sol. Este com toda a sua luminosidade e brilhando intensamente fez rapidamente com que o homem tirasse o casaco, e o levasse no ombro.Moral da história, o Governo é o Vento e está constantemente contra as pessoas, não conseguindo nada ,só pela força , mas os cidadãos estão a resistir. O Sol é a politica que qualquer Governo deveria seguir: diálogo ; envolvimento das pessoas ; explicar as suas posições ; não tomarem posições contra as pessoas.


artigo publicado no PRIMEIRO de JANEIRO em 15/04/2007


F.N.- Por mim não voltarei a este assunto , a vitimização e até a sobranceria dos "intocáveis" que pertencem à classe política ,deixa - me perplexo e também o seguidismo acéfalo. Quem avalia os membros do Governo é o povo de 4 em 4 anos? E um cidadão comum ,não está constantemente a ser avaliado? E se o que estão a fazer tiver consequências irreparáveis. Porque são cegos, surdos e mudos? Não tornem o verosimil, inverosimil...