07/03/2007

Santana Lopes lamenta que a «memória» o situe como “quem governou pior”



“Não me arrependo do que fiz”

Entre várias alusões a Marcelo Rebelo de Sousa, a Jorge Sampaio e Cavaco Silva, Santana Lopes passou em revista, segunda-feira à noite, em Vila Nova de Gaia, assuntos da actualidade, respondendo ao convite do Clube de Pensadores para falar sobre «A memória e a política».
Luísa Mateus


Convidado especial para o debate «A memória e a política», organizado pelo Clube de Pensadores – grupo de reflexão fundado pelo biólogo Joaquim Jorge –, Santana Lopes revisitou alguns dos episódios que mais o marcaram na sua vida política. O antigo primeiro-ministro destacou, em primeiro lugar, que “às vezes a memória pode induzir-nos em erro”, para referir depois que “quando temos só boas memórias de uma pessoa estamos menos atentos a atitudes imprevistas”. Deu como exemplo “a relação que teve com Jorge Sampaio era eu Secretário de Estado da Cultura, era ele presidente da Câmara de Lisboa, sempre tivemos um relacionamento impecável”, por isso sublinhou, “fiquei surpreendido quando tomou uma atitude de ruptura política, decidindo a dissolução da Assembleia da República”. “Não estava à espera”, acrescentou.
Continuou o seu discurso sobre a memória, a sua em termos políticos, e afirmou que “há coisas que devemos perdoar, mas não esquecer”.
Entre várias referências a Marcelo Rebelo de Sousa, com quem diz que “a relação nunca mais foi a mesma, desde que o tive de demitir da Capital Europeia da Cultura”, recordou uma outra situação: quando perdeu as eleições legislativas e que Marques Mendes, “sem me avisar veio para a televisão dizer: isto tem que mudar”. Nesse contexto, disse: “Prometo que se um dia tiver que fazer o mesmo com ele, o aviso primeiro”. O actual Presidente da República e Durão Barroso foram personalidades a que recorreu no debate, onde esteve presente Rui Gomes da Silva, para afirmar: “Não fui primeiro-ministro da maneira certa”. E assumiu: “Teria preferido eleições, mas não podia pedi-las devido a um compromisso que assumi” com o agora presidente da Comissão Europeia. “Uma das lições que aprendi” foi que “nunca se aceita um poder que não é próprio”, uma vez que foi nomeado sem ser eleito.

Contudo, lamentou que “quando se fala de quem governou pior, normalmente falam na minha pessoa”, isto porque “há uma relação entre quem governou muito tempo e quem dizem que governou melhor”. “Não me arrependo do que fiz. Não correu bem, mas dei tudo o que tinha dentro de mim”, realçou, referindo-se à sua curta experiência como primeiro-ministro, mesmo assim, “ainda hoje sinto que não quero voltar à vida política activa”, disse.No final, em resposta aos jornalistas disse que “o PSD chega bem para Paulo Portas, por mais que o ex-líder do CDS/PP seja “um bom político, cheio de qualidades”. Considerou ainda “bom” para a política “o seu regresso”, dizendo que “o PPD-PSD tem de seguir o seu caminho”. Sobre Marques Mendes, afirmou que “não é fácil ser líder da oposição”, mas destacou “a responsabilidade que o maior partido da oposição tem de denunciar os erros políticos do primeiro-ministro”.

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À margem
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Santana afirmou que vai “colaborar na investigação do caso Bragaparques”, declarando que aceitou o levantamento da imunidade parlamentar “para ser ouvido como testemunha pelo Ministério Público”. Acerca da OTA, disse ser “inaceitável” a decisão de José Sócrates em avançar com a construção do aeroporto, uma vez que “não serve nenhuma malha urbana”. Questionado sobre o caso do Túnel do Marquês, assegurou que irá apresentar um projecto-lei para que “quem interpõe a providência cautelar seja responsabilizado pelos danos que causou”, através de um “agravamento de custas”. Comentando o facto de o seu nome ter constado algumas horas da nova lista de professores da Universidade Independente, no site da universidade, apenas respondeu: “Isso é extraordinário. Ninguém falou comigo”.