07.03.2007, Filomena Fontes
Deputado do PSD exige oposição mais firme para abalar o "pedestal de apoio" de José Sócrates
santana lembrou que, se portas tivesse seguido outra estratégia nas legislativas, talvez o ps não estivesse no poder e bem pode o centro-direita andar nervoso por causa do eventual regresso de paulo portas à liderança do cds-pp que pedro santana lopes não se mostra atormentado. se o seu "ppd/psd seguir o seu caminho, como sempre fez, se for capaz de marcar a diferença com o governo, nem o cds, nem o seu líder lhe fazem sombra", afirma, ao mesmo tempo que considera "estimulante" a reentrada em cena do seu ex-parceiro governamental. "o psd, na sua boa forma, chega para ele. e chega bem", declarou. anteontem à noite, em gaia, no final de uma conferência-debate a sobre a memória e a política, organizada pelo clube dos pensadores, santana evitou entrar por caminhos escorregadios de avaliação do mandato de marques mendes à frente do psd. santana concedeu que "não é fácil a vida de quem é líder da oposição, nunca o foi" e aproveitou para recuperar as críticas que fez à porta fechada, na última reunião do grupo parlamentar, para antecipar tempos difíceis para o executivo socialista, caso tenha uma oposição à altura. "quanto mais firme for a oposição ao engenheiro sócrates, mais depressa descerá do pedestal de apoio em que está, mas é preciso conhecê-lo bem, responder taco a taco, com mais rigor." depois fez o seu acerto de contas, lembrou que portas "ia contribuindo para perder a câmara de lisboa", quando ele, santana, se candidatou; lamentou que pareça agora mostrar-se arrependido de ter feito parte dos governos de maioria social-democrata e ajuizou mesmo que se, nas últimas legislativas, o então líder do cds tivesse seguido outra estratégia [de aliança com o psd], provavelmente os socialistas não teriam chegado à maioria absoluta. "ele julgava que ia ter dois dígitos, o que não aconteceu", comentou santana. "destreinado" dos debates públicos, menos "entusiasta" e mais "cauteloso", sem estar "desanimado", apenas continua a "ter digestões difíceis", sem desistir da "paixão, ou melhor, o amor" pela política, santana fez um espécie de zapping sobre vários passos da sua "tumultuosa" passagem pelo governo, da coabitação com o presidente jorge sampaio, da governação da câmara de lisboa, pedaços de memória que hoje o levam a fazer a diferença entre "os pequenos pormenores e os grandes detalhes". "a memória política é fugaz. quando se sai mal de um lugar, as pessoas dizem para deixar passar o tempo", observou, para lembrar que cavaco silva perdeu as eleições presidenciais depois de ter deixado o cargo de primeiro-ministro e, quando voltou, nas últimas eleições, "era desejado pelo país". "a relação entre a política e a memória é muito estranha, heterodoxa, mas nunca a devemos pôr de lado", advertiu. na sua intervenção, santana guardava o jogo, mas logo no início de debate a parada subiu, quando um dos moderadores o desafiou a dizer se podia votar nele nas próximas eleições para a presidência. "não tenho a capacidade, como marcelo rebelo de sousa, de fazer cenários, ele já sabe o que vai acontecer em 2018", reagiu, perante a gargalhada da plateia. depois, a sério: "acabámos de eleger um presidente, que em princípio fará um segundo mandato, depois veremos. se deus me der vida e saúde..." por enquanto, é no parlamento que está, um lugar onde confessa sentir-se "normalmente bem-disposto, excepto quando lá vai o primeiro-ministro". "é uma sensação muito desagradável." como no último debate mensal, onde esteve para pedir a palavra e só não o fez porque "haveria logo um happening" político". "quem tem de responder é o dr. marques mendes, talvez um dia destes me passe a desagradibilidade." definitivamente, santana vai continuar a andar por aí.