08/03/2007

POEMA

ABSTRAÇÃO

(Guacira Maciel)


Cá de cima posso perceber
fragmentos da cidade amada;
útero gerador de totalidades
fundamentadas no diverso.

Sinto-me parte dessa trama urbana
quando transito seus espaços,
que por instantes breves posso preencher,
envolvida no nervosismo do seu
e do meu cotidiano,
com medos que me impedem de enxergá-la
e satisfazer nossos sentidos ao rés do chão.

Daqui, percebo partes profundamente azuis
e os quase verdes,
misturados ao dióxido e ao carbono desbotado de papéis,
representados por personagens da colônia,
travestidos de modernidade
e, por imperativos, retóricos.

Posso perceber texturas de textos não escritos,
que se aproximam da perigosa independência
de texturas lisas, pela fuga das realidades,
impossíveis e fugazes.
Prazeres percebidos, apenas, pelo olhar
e nesse instante sou unicamente um “voyeur” que inventa,
aproximando-se da inexistência, para recriar a ficção.

Essa é uma cidade teórica!
Que rejeita tudo o que é palpável.
Construção de existência ótica; organismo visual
e, por isso mesmo, já dita inexistente!
Sem volume ou peso, mas real;
Cuja respiração bafeja os meus cabelos leves,
suados, colados ao redor do rosto,
como uma moldura, e salgados pelo mar.