14/11/2006

TRATADO DE BOLONHA







Os professores vão ter de possuir um mestrado para poderem leccionar, em resultado das novas regras do Processo de Bolonha que o Governo vai apresentar às universidades e politécnicos.



Isabel Cruz


A medida foi confirmada,recentemente, pelo secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, em declarações à “Rádio Renascença! O governante afirmou que a tutela vai alterar as regras para a habilitação à docência e apresentá-las às universidades e politécnicos que formam estes profissionais.
A qualificação de professores vai passar a fazer-se através da formação ao nível do segundo ciclo da formação de Bolonha, ou seja, através do grau de mestre.
O primeiro ciclo de formação é designado por licenciatura, tem um mínimo de 180 créditos e decorre ao longo de três anos. O segundo ciclo de formação é o mestrado e pode ir até aos 120 créditos, entre ano e meio a dois anos de duração. Valter Lemos disse ainda que esta medida deverá ter um conjunto de regras comuns a todos os professores, desde educadores de infância a professores do 1º ciclo de Matemática ou Educação Física.
Segundo a Rádio Renascença, depois da consulta às instituições o novo regime será aprovado em Conselho de Ministros e pode vigorar já a partir do próximo ano.
Interpretando a notícia, fica-se em dúvida de quem é que vai necessitar de um mestrado. Até há pouco, quase todas as licenciaturas tinham a duração de cinco anos. Tudo o que posteriormente se ia aprofundando, estava e era directamente ligado à licenciatura que se havia tirado e/ou por forma a haver cruzamento de conhecimentos e a incrementar e/ou melhorar os de base. Segundo as novas regras do Processo de Bolonha, vai haver alterações. Surgem-me várias dúvidas.
Se bem percebi, os professores necessitam de um mestrado para poderem exercer a sua função de docência. Dentro da sua área ou outra (?) … Agora pergunto:

· Será que o encurtar da duração da licenciatura é positivo?
· será que é o mestrado que vai dar aos professores a vocação para exercerem?
· Será que os professores têm tempo suficiente, para estudar, preparar as suas aulas, preparar testes e corrigi-los, participar em inúmeras reuniões e ainda participar na sua vida familiar, não pensando na sua vida cultural e social? (no caso de ser exigido aos que já estão em funções e que ainda não tenham mestrado?)
· Será que os recém licenciados entram na vida laboral activa com redução da carga horária, para satisfazer todas as solicitações inerentes?
· Será que a remuneração dos professores é suficiente para cobrir todas as despesas consequentes a esta exigência?
· E que tempo resta para o professor olhar para si próprio? Como pode cuidar das várias vertentes que lhe permitem ter a sua auto-estima elevada, para dar aulas, com plena consciência de que se sentem bem? Será que arranjam tempo para curar uma constipação?
· Será que ao finalizarem os 180 créditos (3 anos), se sentem capacitados para encetar a responsável tarefa, que é a de ser professor?
· Será que ao entrarem no mercado de trabalho, não vão desfeitear o trabalho dos “velhos” professores? Ou melhor, o que se vai fazer a estes? São reformados ou vão fazer um mestrado?

Estas foram algumas das perguntas que me surgiram de imediato, outras poderiam ser feitas, uma vez que também são parte integrante da vida dos seres vivos, isto, caso se venha a exigir que professores tenham de se dividir entre as suas tarefas, já de si exageradas em certos casos e mais as impostas pelas novas regras.
Claro que é essencial, que cada um se actualize, para que esteja sempre a par das muitas mutações e/ou modernizações que se vão verificando; mas isso, também está dependente, de muitos factores e das disponibilidades individuais, sobretudo se estiver incentivado para tal.


professora e membro do clube