Se meditarmos um pouco dificilmente a qualidade de vida se fundamenta na rapidez e muito menos na urgência ou estar dependente de bens
JOAQUIM JORGE
O quotidiano, sempre a correr, vivendo sem ter tempo para pensar, submergidos pelo excesso de necessidades, tarefas e responsabilidades. Um desejo insaciável de posse, de poder, tal que degenera numa insanidade total, levando à frivolidade, deixando a vida de ter sentido devido à procura incessante demais e mais sem parar. A partir desta forma de viver que impede de distinguir o que é essencial e o acessório.
A ânsia de querer ter cada vez mais, pensar no próximo carro, na próxima casa, no próximo emprego (mais bem remunerado e melhor “posição”). Depois de conseguirem tal desiderato, passados uns tempos já não estão satisfeitos e querem cada vez mais e continuam a correr não sei para onde até encontrar a plena satisfação que não conseguem. A avidez não tem limites e as pessoas não descobrem sentido nas suas vidas. A escravatura da agenda, da pressa, do relógio, do urgente. Será que este estilo de vida vale a pena? Durante o dia não ter tempo para atender um amigo, não poder ler o jornal, ter tempo porventura para ir à casa de banho ou estar doente. No fundo ter algum tempo para a pessoa desfrutar como por exemplo, ter a possibilidade um ou dois dias por semana para praticar um actividade física preferida, ler, ir ao cinema, às compras, etc, isto é, fazer o que lhe apetece que pode passar por não fazer nada. Ouvindo relatos de amigos, para mim é estranho e mete-me muita confusão, temos que parar para pensar se valerá a pena termos tudo que temos. O preço que se paga é muito alto. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), há cada vez mais gente deprimida devido a problemas laborais, à pressão a que se está sujeito e à angústia criada pela pressa e urgência na resolução dos problemas. Este é estilo de vida actual, adicionando às dívidas contraídas, leva as pessoas para ganharem mais uns euros, a sujeitarem-se a algo por vezes impensável. Depois quando caem com uma doença no hospital é que pensam que um dia podem morrer e que não são super-homens ou super-mulheres. Só assim temos a noção do indispensável e do anexo e procurámos dar sentido à nossa vida com amor, às pessoas que nos são próximas e por quem temos afectos e laços de amizade .
Se meditarmos um pouco dificilmente a qualidade de vida se fundamenta na rapidez e muito menos na urgência ou estar dependente de bens. Tem mais importância o que se faz e como se faz e a forma como se consegue tendo em conta o frenesim realizado. Na verdade o que deve ser mais importante são as relações humanas, estarmos bem connosco e desfrutarmos a vida podendo contemplar e parar para descobrirmos se valerá a pena o esforço da empreitada e das tarefas a realizar em tempo limitado ou senão será melhor reformular a nossa maneira de actuar e ficar a meio sem estipular prazos.
Muitas vezes os meus amigos perguntam-me:
— O que gostas de fazer? Eu respondo:
— Nada. O espanto é enorme!
— Concluo eu, por que precisamente começo a fazer o que gosto e me apetece.
Os amigos ficam a pensar e acabam depois de uns breves momentos de reflexão por me, dizer. Tens razão mas eu não tenho vida para tal, nem consigo fazê-lo.
Respondo eu:
— Não estejas tão dependente de possuíres bens e seres tão ambicioso. Por que não estipulas durante o dia sempre que possas algum tempo para ti.
Dalai Lama diz que o que mais o surpreende na humanidade “é os homens...porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido”.artigo publicado no OPJ em 9/10/2006