29/03/2008

A Violência nas Escolas


Mário Russo

Deveres profissionais levaram-me a estar ausente do país por um período mais longo do que o habitual. Quase não tinha notícias de Portugal, o que me induzia à sensação de que tudo estava em paz neste cantinho da Europa. Ao chegar sou bombardeado com notícias com vídeos sobre a violência nas escolas do ensino secundário.

Confesso que a minha experiência com este tipo de ensino é escassa e remonta a antes do 25 de Abril, quando por dois anos fui docente num Liceu. Tudo era disciplinado e corria sobre trilhos.
Depois disso ouço relatos da minha irmã e de amigas professoras, que me pareciam surrealistas. Sendo graves, não tinham o impacto que as imagens revelaram. Foi como a violência dos indonésios em Timor, só despertada verdadeiramente depois do massacre do cemitério de Sta. Cruz, mostrado pela televisão.
Até aquele dia a violência apenas relatada parecia ser como tantas outras, mas a realidade das imagens foi chocante.

Aqui também aconteceu o mesmo. A violência nas nossas escolas é mais grave do que suponha e, de certo modo, explica bem a razão do fracasso do nosso sistema de ensino e da falta de competitividade do país. Os professores não detêm o menor poder disciplinar e por isso são tratados como as imagens não mentem e os relatos de muitas das vítimas testemunham. A culpa é do Estado indigente.

O que me chocou nas brutais imagens foi a cobardia de uma turma inteira, que indicia estarmos a criar monstros com esta educação permissiva, para quem a violência é banal. Amanhã matar é banal. Isso é que é aterrador, como acontece em alguns países em que a vida não tem valor e mata-se para roubar um telemóvel ou por um copo de aguardente.

Este tipo de ensino está a criar estes cidadãos monstruosos, em que a complacência e panos quentes só pioram, como já se apressaram associações de pais a opinar.
O aluno que filmou e pôs no youtube pode ter prestado um serviço ao país, caso o Sr. Procurador seja actuante e não pactue com a “cowboiada” que por aí anda.

Sucessivos governos têm tido responsabilidades neste sector e alguns destruíram a disciplina, por complexo de esquerda. Teorias esdrúxulas “do não traumatizar as criancinhas”, arruinaram a escola portuguesa e assim continua.
Os profetas da inocuidade aconselham diálogo e mais diálogo. Obviamente que sim, no entanto umas palmadas quando necessário são melhor que remédios fabulosos, tal como a lei do divórcio não é para que todos os casais se divorciarem, mas apenas para aqueles que dela necessitam regularizar suas vidas, também umas bofetadas não são para dar a todas as crianças/jovens, mas aqueles que mais delas pedem (às vezes encarecidamente, antes que seja tarde demais).

Os professores são racionais e sabem como actuar nessas situações. O que não pode acontecer é ficarem manietados quando vândalos se lhes saem ao caminho, sob pena de terem um processo disciplinar. É precisamente este tipo de procedimento imediato nas Escolas que mais influencia a indisciplina, pois os alunos sabem que são intocáveis. Sentem-se os verdadeiros donos daquele espaço que deveria ser de educação.

O que Maria de Lurdes Rodrigues tem feito e o seu governo, ao negar a violência nas escolas é o pior sintoma de doença que pode existir – desleixo e irresponsabilidade. É pôr a cabeça na areia como as avestruzes, e nada de bom augura.

Evidentemente que a maioria dos pais não quer que os filhos sejam mal-educados, mas quando eles não tomam qualquer atitude diante do vandalismo dos seus “rebentos”, só há uma resposta, responsabiliza-los pesadamente, sem complacência, para que sejam exemplos para os demais, como se faz no Reino Unido e em muitos país com um desenvolvimento fabuloso (os Tigres asiáticos).

Até porque muitos pais utilizam a escola como depósitos de seus filhos. São relapsos, insultam as directoras de turma e até agridem professoras. Ora uma sociedade adulta e madura não pode ser tão displicente com seus cidadãos negligentes. Os pais têm um papel importante e a sua demissão deve corresponder a uma sanção pesada e inequívoca da sociedade e dos poderes públicos. A justiça tem um papel a desempenhar e não pode demitir-se de exercê-la.

É isto que se pede à Justiça portuguesa, já que o governo é relapso nesta matéria. Moralização e respeito na sala de aula e metade dos problemas do país começam a resolver-se. Chega de regabofe.

engenheiro , professsor no IPV , membro e frequente no blogue