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| Paulo Andrade |
mas querer-se aquilo que se pode!”
Jean Paul Sartre, Filósofo (1905-1980)
De uma maneira geral o vocábulo “liberdade”, aparece associado, nem que seja pela publicidade do “politicamente correto”, a atos ditatoriais e à privação da expressão de opiniões, particularmente quando estas são contrárias às verdades estabelecidas . Sejam por ação de um regime (as mais “publicitadas”) , ou seja por ação da própria sociedade, a mais perigosa .
As razões que no passado conduziram à privação da liberdade de indivíduos são exatamente as mesmas que servem de mote , atualmente, ao exercício de autênticos assassínios digitais ainda que sejam de caráter, ás ofensas em massa que grassam na internet particularmente nas redes sociais, um dos grandes cancros sociais (ou sociológicos ?), constituíndo por isto mesmo um autêntico manancial de estudo para sociólogos e afins.
Este Abril, de 2019, concretizam-se 45 anos desde a famosa “tomada da Liberdade” para o povo. Ainda que, em minha opinião, isto também não tivesse passado de uma enorme ilusão. São sabidos os reais motivos pelos quais se fez a revolução(termo que não passa de um eufemismo, do meu ponto de vista), ou seja, os reais motivos que serviram de “trigger” para que S.Maia e os outros corajosos soldados viessem “por aí abaixo” desde Santarém.
Hoje em dia, com tanta liberdade, parece-me que , como povo, não sabemos o que fazer com ela, para além do useiro e vezeiro….entretenimento, ofensas e discursos de ódio figadal nas redes sociais e na internet e…pouco mais. As pessoas acham-se livres porque podem comprar telemóveis de 500 euros, porque podem ofender os outros, navegar na Internet e assim ficar informadas “sobre tudo e mais um par de botas”, porque podem dar especial azo à sua individualidade que roça o egoísmo. Cada um entende que o seu modo de vida é que é o correto (nem que seja de aparência), e tem que ser soberano em relação aos outros. Este facto traz-me à lembrança uma conversa que tive com uma holandesa há cerca de 5 meses atrás. Ela, vegan assumida, entre outros predicados relacionados, do meu ponto de vista, com extremismos alimentares e outros, queria à viva força convencer-me do seu absoluto e correto estilo de vida em detrimento do meu, que consumo carne. Pelo que eu devia abandonar os meus hábitos porque os dela é que estão corretos.
Hummm…
Totalitarismo a funcionar, numa demonstração disfarçada do velho “ein reich ein volk ein führer” !
E disse-lhe exatamente isto. Posições totalitaristas com extremismos alimentares de fundo não combinam comigo , e muito menos a imposição de estilos de vida que se acham soberanos em relação aos outros.
Por cá reparo todos os dias em atitudes que me recordam o comportamento desta holandesa.
Bem….o que concluo, de facto, é que essa tão famosa liberdade nos permitiu, dado a libertinagem e o egoísmo associado a esta “deficiente” liberdade, começar a pensar no eu, em vez do nós. O que me preocupa é que isto tornou-se generalizado.
Mas...voltemos à realidade portuguesa.
Ganhou-se o direito ao voto livre mas, como povo, usamos a liberdade de não votar ( a abstenção ultrapassa os 40%). E, os que votam, têm liberdade para votar diferente. Não obstante utilizam a liberdade para votar sempre igual. E nos mesmos!
As pessoas têm a liberdade para sair à rua e fazer ouvir a sua voz.
Mas…uma vez mais…utilizam essa liberdade para ficar em casa ou prosseguir com a rotina. Ostracizando e quase criminalizando quem tem a coragem de sair á rua e fazer ouvir a sua voz.
Mais exemplos podia dar. Não esqueçamos contudo que se não utilizamos a liberdade, outros utilizam-na. Nomeadamente os políticos e todas as pessoas de má índole.
Por isto mesmo..a liberdade roça , em muitos setores da sociedade, a libertinagem. E em vários casos é o exato sinónimo ! E Impune !
E naturalmente a inércia de um povo que acha ser livre porque tem internet e a Coreia do Norte não tem, conduz, forçosamente, à impunidade da libertinagem! Nos mais diversos disfarces que esta assume!
Na realidade, o que penso é que, nos aspetos realmente importantes e decisivos, continuamos a ter tanta liberdade para decidir, como para decidir como estará a meteorologia amanhã.
Temos liberdade para decidir se pagamos os impostos elevadíssimos por transferência bancária ou em numerário, por exemplo, para tapar as crateras feitas pela corrupção. Mas não temos liberdade para meter na prisão todos os corruptos e retirar-lhes os bens. Temos liberdade para trabalhar em 2 sítios para conseguir ter um salário condigno ao final do mês . Mas não temos a liberdade de exigir condições condignas no serviço nacional de saúde e na justiça, por exemplo . Serviços que estão a rebentar pelas costuras fazendo lembrar um país do terceiro mundo (só mais um exemplo). Contudo o povo prefere utilizar a liberdade para a utilizar nas redes sociais em ofensas e banalidades, para se manifestar devido a crises clubísticas, ou para ir aos centros comerciais derreter tudo no consumismo desenfreado ou, simplesmente, para se manter inerte.
Porque…tem essa liberdade !
A liberdade que quer ter, e não a liberdade que se pode !
Como se Portugal fosse habitado maioritariamente por pedras!
Temos a liberdade para assistir, num país democrático,no século XXI, a que pessoas sejam escorraçadas das suas casas de sempre em nome o lucro fácil. Essa coisa de escorraçar pessoas das suas casas e do seu habitat natural aconteceu , por exemplo, com os nazis quando invadiram outrou países. Nunca num pais democrático.
Claro que não….
Temos liberdade para escolher em quantos sítios queremos trabalhar em simultâneo, e também a temos para continuar a pagar subsídios a calões e preguiçosos, que representam quase ¼ da população em Portugal, e mantermo-nos, como sempre, completamente impávido e serenos. Numa doentia lógica de “no pasa nada” !
Os nossos idosos têm liberdade, ainda que (muito) condicionada, de escolher o lar para onde ir, mas não têm liberdade nenhuma para escolher queixarem-se contra quem os maltrata. E isto porque o governo não aprovou a lei para criminalizar os maus tratos a idosos.
Mas aprovou a lei que criminaliza os maus tratos a animais.
Então mas ... não somos todos, bichos e humanos, filhos da mesma natureza ?
Atitudes desta natureza, já os nazis as tinham! Foram o regime pioneiro na adoção de leis para proteger os bichos . Quem maltratasse um bicho sofria na pele o peso da leis. E da prisão ! Mas ás pessoas faziam o que é conhecido.
Temos liberdade para assistir de camarote a inúmeros comportamentos (alguns penso que de conciliábulo) incompreensíveis, absolutamente ilógicos e ofensivos, por parte da classe política, mas continuamos a escolher , porque temos essa liberdade, mantermo-nos inertes, quase que em coma sobre questões deste género que tanto nos lesam como povo, e que nos retiram completamente a hipótese de todos termos melhor vida e aspirar a um melhor futuro .
Gerações futuras já estão empenhadas graças a “democratas” de cartilha.
E ninguém se mobiliza ....ninguém se indigna ?
O que mobiliza as pessoas hoje em dia ?
Quer dizer... á exceção dos assuntos da moda, que de súbito parece que se transformaram em “emergências nacionais”, o que mobiliza as pessoas ?
Hummm....não faço ideia.
Tenho liberdade para não fazer !
Na generalidade , o povo continua a usar a liberdade para continuar num coma doentio sobre os assuntos que formam o país, assuntos que condicionam negativamente a vida dos portugueses enquanto povo. Assuntos sobre os quais devia ter palavra.
Mas ter palavra sobre aspetos importantíssmos, impopulares e aspetos que não estão na moda vigente, implica o exercício de uma liberdade difícil.
E esta...não queremos!
