13/02/2019

CARTA ABERTA DE UM EMPRESÁRIO ANGOLANO



João Lourenço: foto TVI 24
Sr. Presidente, 

Somos uma empresa angolana desde 1999, registada no IAPI, sempre representamos Angola no exterior do país e dentro, na industria hoteleira e na industria alimentar, sempre focados na qualidade. 
Acreditando no novo executivo, desde 2018, estivemos a elaborar um novo projecto para aumentar a capacidade de produção de nossa industria mais quatro vezes, sempre focados na saúde publica, no desenvolvimento social, ambiental e económico. 
Devido à actual economia angolana, neste inicio de 2019, decidimos desistir deste novo projecto e esperamos não ter que desistir do actual pois parece que estamos a trabalhar unicamente para o Governo pois até aqui o beneficiário deste nosso trabalho tem sido quase que exclusivamente o Governo, após mais de cinco anos de arranque deste actual projecto. 
Nestes cinco últimos anos não conseguimos retirar qualquer lucro da empresa e continuamos no vermelho apesar de termos em dia nossos impostos da AGT e do MAPESS, salários dos funcionários, férias, décimo-terceiro, refeições, fazemos uma preservação ambiental e social na região. 
As razões que nos levaram a desistir de novos projectos industriais são os juros do BANCO BDA a 13%, os juros bancários comerciais acima de 26%, uma população que perdeu mais de cem por cento de seu poder de compra e o mesmo se passou com as empresas, imensas as dificuldades em lidar com o acesso às divisas, uma burocracia Institucional que continua e muitas vezes não funciona corretamente, podemos citar muitas, uma falta de apoio institucional Provincial e Nacional, etc,. 
Sr. Presidente,  os empresários verdadeiros são profissionais empreendedores com formação e muita experiência e suas empresas, para obterem sucesso, são construídas com foco numa economia de mercado, foco na qualidade de sua administração e foco na qualidade de sua produção. 
Um empresário de verdade, Sr. Presidente, de uma ideia constrói uma empresa, constrói vários projectos, busca acesso a financiamentos e desenvolve muitas atividades ao mesmo tempo para concretizar com sucesso suas ideias. 
Os empresários, quando verdadeiros, são as pessoas que melhor sabem ganhar, em todos os sentidos, inclusive dinheiro e podem ser mestres nesta arte. 
Esta é a realidade e se o Governo quer caminhar equilibradamente, não pode deixar de ouvir com muita atenção cada uma das empresas que labutam com sucesso neste nosso país, mesmo diante de tantas dificuldades criadas por uma administração pública. 
Um empresário, do nada constrói uma casa, decora, mobila, apetrecha, põe alimento, põe uma família a morar e organiza esta mesma casa administrativamente para que funcione com sucesso. 
Se uma pessoa receber esta casa totalmente funcional e ao fim de um ano, por exemplo, esta casa estiver desorganizada, funcionar mal, não tem alimentação, estiver suja, etc, então esta pessoa não é um bom administrador certamente.      …………….. 
Angola é um país que se pode incluir num grupo selecto de países potencialmente muito ricos e com a vantagem de ter uma população muito pequena em relação a este potencial, inclusive é um dos países com mais água potável em seu território, o que lhe dá vantagens comparativas imensas, muito sol, mar, clima excelente, sem grandes desastres ambientais, montanhas, ferro, ouro, diamentes, minerais, florestas, savanas, diversidade animal, localizada privilegiadamente na SADC e na África Austral, excelentes portos, população académica, etc., etc,. 
Angola é um país que tem tudo para ser excelente mas não é, após estes quarenta e três anos de independência. Temos de culpar a nós mesmos e culpar as pessoas que dizendo-se nacionalistas, desviam os dinheiros e investimentos públicos que poderiam desenvolver a educação, saúde, industria, etc,. 
O Governo deve ser mais rigoroso ao punir os responsáveis dos desvios que afectam e prejudicam milhões de angolanos. 
O Governo deve ser mais exigente na qualidade de sua indústria e comercio e nos investimentos que faz e ser mais rigoroso na cobrança dessa qualidade pois é assim em qualquer lugar do mundo. 
Se um estrangeiro for para a China ou qualquer país asiático e for vender alimentos estragados ou roubar minerais ou distribuir drogas ou construir de forma errada casas e estradas, poderá ser até condenado à morte, pois esta pena existe nestes países, mas em Angola qualquer pessoa que fizer estas coisas erradas, mesmo estrangeiro, apenas receberá uma pequena pena e muitos destes indivíduos voltam a cometer os mesmos erros pois sabem que as condenações, caso sejam flagrados, não são rigorosas. 
Angola é uma região geográfica privilegiada, é um território potencialmente muito ric0, extremamente bem localizada no continente africano, com uma pequena população, possui o que de melhor existe no planeta geograficamente, inclusive nem tem desastres naturais de realce. 
Se um gestor público recebe a incumbência de administrar economicamente Angola, recebe um país a funcionar minimamente mesmo diante de muitas dificuldades, aonde com cem kwanzas se compram dez pães, e ao fim de um ano com cem kwanzas se compram apenas três pães, num país com este potencial e que muitas outras nações gostariam de aqui investir se o país estivesse melhor organizado, que dizer deste gestor público?  É um bom administrador? 
Se um empresário receber uma empresa a funcionar bem, se a economia do país não se alterar significativamente e ao fim de um tempo esta empresa estiver a caminho da falência, este empresário não é um bom administrador.  
Angola, com seu potencial económico, não pode caminhar no sentido inverso de uma boa economia.   

Respeitosos cumprimentos,  











Valdemar Ferreira Ribeiro 
Economista, ambientalista e industrial