António Fernandes |
A mobilidade, quando pretendida em urbanização já existente
e que não foi devidamente planeada aquando da sua projeção e respetiva
construção, ou, se o foi, foi-o para a época tendo em atenção a realidade
conjuntural existente, - e só essa - , só é possível de concretizar se os
índices de construção e a dimensão das suas infraestruturas viárias o
permitirem.
Se o não permitirem, não adianta rigorosamente nada andar a
inventar soluções quando as não há, para solução nenhuma, como aconteceu
recentemente nas obras realizadas na Rua Nova de Santa Cruz e parte da Rua da
Fábrica aonde se manteve a cegueira política de empurrar o transito para uma
saída de perigo extremo e sem visibilidade no caso da Rua da Fábrica sobre a
rotunda existente e de alta densidade de tráfego e, a saída da Rua Nova de
Santa Cruz para o sentido Norte. Assim como o parqueamento de automóveis que
colide com o espaço destinado ao peão e em completo desacordo com as regras do
bom senso e do direito de deslocação de cidadãos com mobilidade reduzida.
O desnivelamento para seguimento alinhado da citada Rua Nova
de Santa Cruz para a Rua de D. Pedro V ficou para as calendas mais por falta de
engenho e arte do que por falta de dinheiro uma vez que o montante do
investimento feito na cosmética com que o município premiou o traçado visado,
presumo, foi superior à construção de uma passagem desnivelada para automóveis
e peões e respetivos acessos laterais rodoviários e pedonais.
O Urbanismo de hoje é uma solução completa e sem qualquer
complexidade.
Depende exclusivamente da forma como se “leem” os
indicadores da localidade aonde se vai intervir tendo em atenção:
Ø
o espaço;
Ø
as necessidades físicas e sociais;
Ø
o ambiente e a biodiversidade;
Ø
as infraestruturas;
Ø
os equipamentos;
Ø
o património;
Ø
outros;
A monitorização inteligente de todas as suas redes:
Ø
viária;
Ø
rodoviária;
Ø
transportes;
Ø
água;
Ø
resíduos;
Ø
energias;
Ø
outros;
A fluência efetiva de todas as suas malhas de forma a que tudo
seja mais célere na eficácia e no resultado.
Só assim as cidades responderão fisicamente às necessidades
das pessoas e estarão preparadas para os embates do futuro.
As cidades de construção a pedido, de forma avulsa, para
beneficiar alguém, sem critérios de sensibilidade e inteligência política a que
se deve acrescer a responsabilidade para com os seus eleitores, serão sempre
cidades sem qualquer qualidade de vida e que não reunirão condições para fixar
as populações do futuro.
Ora, a cidade de Braga, começa a raiar o limite daquilo que
não deve ser uma cidade que se autoproclama como sendo uma cidade virada para o
futuro, física e socialmente. E que nesse sentido o seu edil anda a promover
além-fronteiras.
O seu urbanismo é desconexo e a mobilidade dentro do seu
espaço é a possível num cenário de completo desajustamento às necessidades
atuais dos seus cidadãos tendo em atenção a sua dimensão e a dispersão da
localização dos seus equipamentos.
Sendo que, ambos, urbanismo e mobilidade, deveriam objetivar
a qualidade de vida do cidadão assim como promover a harmonia entre o Homem e o
seu habitat. Coisa que não acontece.
Assim sendo, penso que, um urbanismo que não contemple a
mobilidade como elemento fulcral aquando da sua implantação, resultará sempre
num emaranhado de betão e demais materiais cuja demolição a prazo é a única
solução inteligente a tomar, por única, uma vez que os remedeio nada resolvem,
ficam demasiado caros, e os cidadãos já não contemporizam com esse tipo de
medidas políticas que não evidenciam capacidade governativa.
Penso também que a linearidade técnica dos atos sempre foi a
mais discutível por falta de articulação política clarividente em todos os
domínios.
A atrofia derivada complica os objetivos fundados do senso
comum e coletivo em proveito de objetivos individuais ou de grupo, o que
origina a sinuosidade dos processos e, por arrastamento, o comprometimento de
soluções futuras num quadro em que a demolição é solução impossível por atentar
contra o direito e, sobra por isso o remedeio como sendo a única alternativa.
Um remedeio que tem tido, na cidade, um custo social
acrescido inverso ao prometido por quem a governa aquando da campanha eleitoral
autárquica de 2013.
“Custo” esse que uns consideram: “violação do PDM”. Outros “ocupação de zonas de equipamentos”.
E outros, fazer “jeitos” a privados em detrimento do interesse público.
Talvez por isso mesmo, o esforço que se exige aos técnicos
intervenientes na malha urbana da cidade seja de enorme capacidade criativa a
que só uma formação intelectual adequada consegue responder:
na implementação das novas soluções no âmbito das “cidades
inteligentes”;
na reformulação da malha urbana do edificado existente;
na implantação de novo edificado;
na resolução dos problemas existentes com soluções de
continuidade futura;
Todos sabemos que não é fácil conjugar interesses
antagónicos resultantes de carga ideológica de quem exerce o poder autárquico
entre aquilo que é o interesse publico e aquilo que é o interesse privado.
Mas também sabemos que o poder de onde emerge essa carga
ideológica, é efémero.
Aquilo que não é efémero é a cidade que fica para uso das
gerações do futuro e para os desafios a enfrentar em que a sua versatilidade
será posta em causa, geração a geração, acompanhando a evolução global dos
povos e das civilizações.