10/08/2018

O fogo lavra, o País e a estabilidade política





António Fernandes 
Considerados como catástrofes naturais, ao que se apura, os incêndios florestais das últimas décadas não têm sido tão “naturais” quanto se o possa considerar ou sequer afirmar.
O País teve, no dia 15 de outubro do ano passado, ano de 2017, o seu dia mais incendiário de que há registo ou memória, em que foram registados mais de 523 incêndios num só dia, de que ainda não recuperou emocionalmente, e que se centraram no Centro e Norte do País com a dramática situação que aconteceu em Pedrógão Grande a sobressair pela negativa de todos eles em face do numero de mortos e dos dramas individuais e coletivos causados no local mas também no todo nacional.
Esta ocorrência de, imagine-se (!), 523 incêndios num mesmo dia (?!).
Uma coincidência demasiado estranha que as condições climatéricas não explicam; a incúria de alguns usos e costume, também não; e muito menos o explicam a razão que não entende que fenómenos deste tipo aconteçam desorganizados.
A imprensa escrita, radiodifundida, de televisão e outros, vulgo comunicação social, a que acrescem as redes sociais, difundiram e comentaram o drama consoante a perspetiva que do citado tiveram. 
Os serviços de notícias dos diversos meios de comunicação cumpriram a sua função, informar, abrindo os respetivos noticiários com a informação disponível e os serviços de reportagens nos locais a darem conta dos acontecimentos em direto dos locais onde ocorriam os incêndios.
O País florestal, no Centro e no Norte ardeu, mas com ele arderam também pessoas e bens, carbonizados, irreconhecíveis, deixando uma áurea de dor que nenhuma intenção, por muito boa que seja, colmatará jamais, porque as marcas que deixou será eternamente indelével!
Feito este breve resumo há um facto inolvidável: A responsabilidade política.
Um argumento de peso, principal e, único, de vozes sonantes no panorama político que influíram na opinião e analise social do todo nacional.
Mas que, omitiram, com ou sem, premeditação, um conjunto alargado de responsabilidades em cadeia que, dizem outras vozes, não se souberam articular e que, porventura, não estariam preparadas para um acontecimento com a dimensão do acontecido, disseram também,  num cenário de tal forma dantesco em que nunca há a capacidade disponível para o combater e vencer.
Pediram essas vozes a demissão de um conjunto de personagens com primazia para a demissão da Ministra da Administração interna.
Ministra que acabou por apresentar pedido de demissão ao Primeiro Ministro depois da pressão publica ocasionada por uma intervenção do Presidente da República a propósito do ocorrido.
O Governo também abanou, pressionado por quadrantes políticos à sua direita, mas não caiu e a Senhora Ministra da Administração interna ao apresentar a sua demissão provocou a quarta alteração do elenco governativo desde a nomeação de António Costa para Primeiro Ministro.
Volvido um ano, corre o mês de agosto e, de novo, sendo que desta vez a Sul, o fogo assenhorou-se da Serra de Monchique que ardeu sem controlo devastando tudo por onde passou e semeando o caos nas populações residentes ou em férias em pleno coração do Algarve. Ao que parece, a crer nas notícias de hoje, dia nove de agosto, a situação de fogo estará já sob controlo.
No entanto, para memória futura, fica a sensação de que os incêndios florestais, pesem os argumentos aquilo que pesarem, deixam no fumo que espalham e nas labaredas que tudo consomem, muitas dúvidas sobre as suas origens e quais os verdadeiros motivos porque acontecem e onde acontecem no tempo em que acontecem.
O fogo do Pinhal de Leiria, dizem, foi acordado secretamente entre pessoas ligadas ao negócio da madeira, numa cave.
Outros fogos, dizem, são muitas vezes originados por queimadas a que, acidentalmente, se perde o controlo. E outros fogos, também dizem, são fogo posto. Vá-se lá saber com que intenções. E há os incêndios que acontecem provocados por fenómenos da Natureza.
Aquilo que ninguém diz, mas pensa, é que pode haver concertação de interesses: económicos, políticos, sociais, ou outros, com objetivos claros de benefício económico ou político, e que, os meios serão meras conjeturas de justificação ou resultados de investigação que demora o seu tempo. O tempo suficiente para que nesse espaço se tracem cenários hipotéticos em que o carater e a integridasão por demais denegridos e violados sem motivo ou justificação razoável e plausível por falta de informação fundada e fundamentada.
As tão célebres peças de investigações jornalísticas ficam-se pela notícia, salvo a do Pinhal de Leiria de que pouco mais se soube, para além da célebre reunião, testemunhada, de pessoas ligadas ao negócio da madeira para levar por diante o intento e acordar preço, que após denúncia anónima dizem, por exemplo, ainda não há consequências.
Assim como, pouco ou nada se sabe após o rescaldo mediático da notícia do que se passou em Pedrogão Grande, de gravidades extrema em que morreram pessoas e, haverem muitas dúvidas sobre as dádivas para a ajuda na reconstrução de casas e apoios focalizados. Das consequências sobre o crime perpetrado, publicamente, nada mais se soube.
Diz-se também, em surdina ou nem por isso, que o Governo não resistiria a outra vaga de incêndios, presumo, causados por e, com interesses obscuros que vão para além dos interesses de madeireiros e das “limpezas” obrigatórias que não chegaram a ser feitas em mais de dois terços das matas existentes no País.
Se a intenção era tirar partido político do incendio de Monchique esse interesse gorou-se porque a resposta política e de meios foi capaz e, no âmbito dos limites das respostas a dar por todos os operacionais, cumpriu.
Por isso, sobra a certeza de que o combate político se faz com argumentos; ideias; políticas estruturais; e outras; e não, com baixo nível cultural e intelectual.