António Fernandes |
Considerados como
catástrofes naturais, ao que se apura, os incêndios florestais das últimas
décadas não têm sido tão “naturais” quanto se o possa considerar ou sequer
afirmar.
O País teve, no dia 15
de outubro do ano passado, ano de 2017, o seu dia mais incendiário de que há
registo ou memória, em que foram registados mais de 523 incêndios num só dia,
de que ainda não recuperou emocionalmente, e que se centraram no Centro e Norte
do País com a dramática situação que aconteceu em Pedrógão Grande a sobressair
pela negativa de todos eles em face do numero de mortos e dos dramas
individuais e coletivos causados no local mas também no todo nacional.
Esta ocorrência de,
imagine-se (!), 523 incêndios num mesmo dia (?!).
Uma coincidência
demasiado estranha que as condições climatéricas não explicam; a incúria de
alguns usos e costume, também não; e muito menos o explicam a razão que não
entende que fenómenos deste tipo aconteçam desorganizados.
A imprensa escrita,
radiodifundida, de televisão e outros, vulgo comunicação social, a que acrescem
as redes sociais, difundiram e comentaram o drama consoante a perspetiva que do
citado tiveram.
Os serviços de notícias
dos diversos meios de comunicação cumpriram a sua função, informar, abrindo os
respetivos noticiários com a informação disponível e os serviços de reportagens
nos locais a darem conta dos acontecimentos em direto dos locais onde ocorriam
os incêndios.
O País florestal, no
Centro e no Norte ardeu, mas com ele arderam também pessoas e bens,
carbonizados, irreconhecíveis, deixando uma áurea de dor que nenhuma intenção,
por muito boa que seja, colmatará jamais, porque as marcas que deixou será
eternamente indelével!
Feito este breve resumo
há um facto inolvidável: A responsabilidade política.
Um argumento de peso,
principal e, único, de vozes sonantes no panorama político que influíram na
opinião e analise social do todo nacional.
Mas que, omitiram, com
ou sem, premeditação, um conjunto alargado de responsabilidades em cadeia que,
dizem outras vozes, não se souberam articular e que, porventura, não estariam
preparadas para um acontecimento com a dimensão do acontecido, disseram
também, num cenário de tal forma
dantesco em que nunca há a capacidade disponível para o combater e vencer.
Pediram essas vozes a demissão
de um conjunto de personagens com primazia para a demissão da Ministra da
Administração interna.
Ministra que acabou por
apresentar pedido de demissão ao Primeiro Ministro depois da pressão publica
ocasionada por uma intervenção do Presidente da República a propósito do
ocorrido.
O Governo também abanou,
pressionado por quadrantes políticos à sua direita, mas não caiu e a Senhora
Ministra da Administração interna ao apresentar a sua demissão provocou a
quarta alteração do elenco governativo desde a nomeação de António Costa para
Primeiro Ministro.
Volvido um ano, corre o
mês de agosto e, de novo, sendo que desta vez a Sul, o fogo assenhorou-se da
Serra de Monchique que ardeu sem controlo devastando tudo por onde passou e
semeando o caos nas populações residentes ou em férias em pleno coração do
Algarve. Ao que parece, a crer nas notícias de hoje, dia nove de agosto, a
situação de fogo estará já sob controlo.
No entanto, para memória
futura, fica a sensação de que os incêndios florestais, pesem os argumentos
aquilo que pesarem, deixam no fumo que espalham e nas labaredas que tudo consomem,
muitas dúvidas sobre as suas origens e quais os verdadeiros motivos porque
acontecem e onde acontecem no tempo em que acontecem.
O fogo do Pinhal de
Leiria, dizem, foi acordado secretamente entre pessoas ligadas ao negócio da
madeira, numa cave.
Outros fogos, dizem, são
muitas vezes originados por queimadas a que, acidentalmente, se perde o
controlo. E outros fogos, também dizem, são fogo posto. Vá-se lá saber com que
intenções. E há os incêndios que acontecem provocados por fenómenos da Natureza.
Aquilo que ninguém diz,
mas pensa, é que pode haver concertação de interesses: económicos, políticos,
sociais, ou outros, com objetivos claros de benefício económico ou político, e
que, os meios serão meras conjeturas de justificação ou resultados de
investigação que demora o seu tempo. O tempo suficiente para que nesse espaço
se tracem cenários hipotéticos em que o carater e a integridasão por demais
denegridos e violados sem motivo ou justificação razoável e plausível por falta
de informação fundada e fundamentada.
As tão célebres peças de
investigações jornalísticas ficam-se pela notícia, salvo a do Pinhal de Leiria
de que pouco mais se soube, para além da célebre reunião, testemunhada, de
pessoas ligadas ao negócio da madeira para levar por diante o intento e acordar
preço, que após denúncia anónima dizem, por exemplo, ainda não há consequências.
Assim como, pouco ou
nada se sabe após o rescaldo mediático da notícia do que se passou em Pedrogão Grande,
de gravidades extrema em que morreram pessoas e, haverem muitas dúvidas sobre
as dádivas para a ajuda na reconstrução de casas e apoios focalizados. Das
consequências sobre o crime perpetrado, publicamente, nada mais se soube.
Diz-se também, em
surdina ou nem por isso, que o Governo não resistiria a outra vaga de
incêndios, presumo, causados por e, com interesses obscuros que vão para além dos
interesses de madeireiros e das “limpezas” obrigatórias que não chegaram a ser
feitas em mais de dois terços das matas existentes no País.
Se a intenção era tirar
partido político do incendio de Monchique esse interesse gorou-se porque a
resposta política e de meios foi capaz e, no âmbito dos limites das respostas a
dar por todos os operacionais, cumpriu.
Por isso, sobra a
certeza de que o combate político se faz com argumentos; ideias; políticas
estruturais; e outras; e não, com baixo nível cultural e intelectual.