António Fernandes |
Os saudosistas do passado no presente, não tendo vivido
nenhum dos períodos críticos da História passada, presumem que tudo eram
facilidades tal e qual como o foram para si num estádio em que os seus
progenitores lhes quiseram proporcionar tudo aquilo que não tiveram. E por
isso, dentro do possível, num contexto político favorável de crescimento
económico e de inovação tecnológica que os libertou para um maior e melhor
acompanhamento da sua família, foi possível aos progenitores protegeram e
apoiaram em tudo aquilo que lhes foi possível, os seus descendentes, mas
também, os seus ascendentes, de forma cuidada demonstrando estar à altura da
vertiginosa mudança que se operou nos seus hábitos, usos e costumes,
ajustando-se aos tempos. Tempos de maior exigência e de aprendizagem, para
suprir o atraso geral, em que o escolar era o mais relevante por ser a base de
suporte, relativo à Europa, e fazerem as mudanças estruturais de que no tempo o
País necessitou para acompanhar essa mesma Europa. A Europa do Conhecimento; da
expansão económica; do desenvolvimento tecnológico; da investigação científica;
da liberdade, da democracia e da justiça social.
Para isso criaram as condições necessárias à formação
intelectual e cultural dos seus descendentes de forma a os capacitar para uma
realidade que desconheciam, mas que sabiam ser a melhor.
Tarefa para a qual sabiam não estar suficientemente
preparados ao nível da literacia mas que, e por o saberem, a enfrentaram e
levaram de vencida, num curto espaço de tempo em que deram um passo gigantesco
abrindo as portas da sua História enquanto Nação, criando as condições
politicas para que as mudanças em curso não tivessem atropelos e seguissem o
seu caminho no sentido da inovação dos hábitos, usos e costumes das populações,
desde o Litoral ao interior mais profundo, e a revolução cientifica e
tecnológica ocorrida proporcionasse as condições técnicas e Humanas
necessárias, ao ponto de hoje, o País, ser possuidor de uma geração de jovens
altamente capacitados para o exercício profissional em qualquer domínio e, em
qualquer parte do globo.
A geração de setenta foi uma geração de transição, mas
também, transitória, que soube fazer face a uma mudança de paradigmas e de
valores. E, acima de tudo, soube ser sensata.
Foi uma geração que cruzou experiências de guerra; de fome;
de pobreza extrema e baixos rendimentos; de baixo tempo medio de vida; de taxa
de mortalidade infantil elevada; de condições de vida e de salubridade
primitivas; de iliteracia; de analfabetismo; de dependência exclusiva da terra
e de uma agricultura de subsistência; entre outros, em contexto político de
ditadura e de todas as consequências que uma ditadura alicerçada num regime
nazi acarreta para a qualidade de vida dos povos e, de perseguição e tortura
para com todos aqueles que se lhe opunham.
Com o alvorecer da democracia no Ocidente após a segunda
grade guerra, meados dos anos quarenta, Portugal que tácita e politicamente foi
aliado dos Alemães, manteve o regime de que só se libertou em meados dos anos
setenta, mais concretamente em 1974, sendo o penúltimo País a implantar um
sistema politico democrático, influenciando a Espanha de Francisco Franco que
se lhe seguiria sendo o ultimo País da Europa Ocidental a libertar-se dos
grilhões da ditadura de pessoas doentes porque a saúde mental não compreende
como é que é possível haver Homens capazes de tão maltratar outros Homens.
Volvidos todos estes anos, constatamos que a geração de
setenta, falhou rotundamente na tramitação do seu legado escondendo-o por
debaixo da democracia, envolvendo-o numa áurea de facilitismos de que não
dispôs, mas que, aparentemente, a geração seguinte absorveu e fez transição.
Por isso, o atual contexto, em que a esquerda avança por
necessidade conjuntural de sobrevivência dos povos em liberdade, mas enfrenta a
incompetência que gera incapacidade gritante nos atuais dirigentes políticos em
saber gerir as atuais circunstancias com que as civilizações se confrontam,
completamente despolitizados naquilo que é a essência da vida em comunidade; os
requisitos e os valores; abre caminho politico ao retrocesso civilizacional
como forma de equilíbrio social, convictos de que esse equilíbrio só é possível
com regras de vida assentes em carências geradoras de submissão a que se
seguirá, impreterivelmente, um sistema totalitário.