António Fernandes |
A cidade de Braga, capital do Minho, é conhecida por ser uma
cidade de porta aberta por, em bom rigor, haver um dito popular sobre as suas
gentes de terem o habito de deixar as portas abertas quando por elas passam ao
ponto de, quando alguém se esquece de fechar uma porta qualquer, a exclamação é
sempre : “É de Braga!”. Seja em que local do País for.
Creio que esta designação, a da “Porta Aberta”, para além
das interpretações que alguns entendidos nestas coisas tem e delas dão nota
como sendo verdades absolutas, comporta uma carga afetiva de bem receber e de
franqueza no trato, mas também porque, não era hábito fechar as portas com
chaves ou ferrolhos. Uma simples pedra a segurar a porta para que não batesse
ou deixasse entrar o frio era o suficiente.
É óbvio que as razões para justificar esta conduta são
muitas. Simplesmente, o facto de pouco ou nada haver a proteger poderá bem ser
a razão maior para que na segurança das portas se refletisse essa preocupação.
O Arco da Porta Nova, que dizem nunca ter tido porta, teve,
segundo testemunhos da época, um porteiro que cobrava a entrada para dentro da
cidade muralhada o que constituía uma das receitas da cidade. A cidade tinha
outras entradas, seriam quatro, todas elas com portas que se fechavam ao
anoitecer e abriam ao amanhecer para as lides correntes numa cidade com vida, mas
que já crescia extra muralhas e que, segundo a mesma testemunha, no Arco da
Porta, Nova também haveria uma porta.
Os Historiadores dizem que não. A informação existente
também diz que não. Sobra a dúvida: Para que foi construído então um arco, o da
Porta Nova, se a intenção era não levar porta nenhuma?
A cidade de hoje tem muitas “portas de entrada” e outras
tantas “portas de saída” que dispensaram os arcos desde que o Arcebispo de
Braga, D. Diogo de Sousa, mandou construir o Arco da Porta Nova, numa época em
que o futuro das cidades as previa sem qualquer espécie de barreiras de forma a
permitir o livre transito de pessoas e bens, senão quando… eis que, um novo
poder instalado se lembra de “fechar as portas” da cidade quando lhe dá na real
gana só porque assim o entende presumindo que os seus conterrâneos são
maioritariamente amantes do automobilismo; do ciclismo; do atletismo; ou de
outra qualquer modalidade que traga consigo os meios de comunicação social.
Porque se for uma atividade qualquer levada a cabo por amadores não há “portas
fechadas” para ninguém.
Não raramente, a cidade da “Porta Aberta” converte-se em
cidade da “Porta Fechada” para gáudio de uma minoria em prejuízo de uma maioria
que se vê limitada nos seus afazeres quotidianos mais todos aqueles que tem
necessidade de atravessar a cidade em direção a outros destinos.
A cidade da “Porta Fechada” ao “trancar” com forças de
segurança as suas principais artérias, vias de acesso, passagem e de
escoamento, sem que disponha de alternativas devidamente sinalizadas, porque há
circunstâncias em que as não tem, causa transtornos irreparáveis porque fecha
completamente o acesso urbano usado com regularidade por todos aqueles que tem
vida própria, alheia aos eventos em causa, aos que só querem passar, mas
também, aos que procuram na cidade bens de consumo e, sobre tudo, aos que
necessitam com urgências de recorrerem aos seus equipamentos de saúde.
Não percebe o Bracarense mais crente porque raio é que os
trajetos dos eventos promovidos com o apoio da Autarquia se hão – de realizar
nas principais artérias e praças da cidade transtornando-lhes a vida e a de
todos aqueles que querem seguir caminho para as localidades vizinhas ou outras
cujo caminho é a cidade de Braga, quando há tantas outras ruas e praças
disponíveis a precisar de animação como de “pão para a boca”.
A cidade com as “Portas Fechadas” circunscreve-se assim, a
uma coutada de que se dispõe consoante “dá na veneta” ao poder instalado, como
se de um espaço próprio no seu todo se trate.