12/07/2018

Corporativismo



Paulo Andrade 
Este é um vocábulo que nos é caro, especialmente a nós, portugueses.
O corporativismo representa , do meu ponto de vista, todos os interesses satélite que orbitam à volta do poder governativo. Considero que tal como na autocracia ( e que lhe serve de base), o fisiologismo desempenha aqui um importantíssimo papel na perpetuação de um sistema que é , em si mesmo, altamente corrupto. Corrompe e deixa corromper com base no lobismo. Não há como escrever de outra forma. Os interesses satélite permitem, por exemplo, que não hajam culpados relativamente às vergonhosas e escandalosas situações dos casos bancários. Quantos são, mesmo ? 6 ? 7? Nem que fosse um, já era mau. Graças ao corporativismo o estado já injetou cerca de 17 biliões de Euros nas autênticas crateras financeiras provocadas pelos sucessivos rebentamentos das bombas bancárias. Contudo ainda precisa (porque as verbas não estão em lado nenhum), de cerca de 20 milhões de euros para construção de uma ala pediátrica. 
Sinónimo da obrigação para todos os contribuintes e assalariados estatais de ficarem com salários e carreiras congeladas, do cidadão comum ter um poder de compra cada vez mais diminuído, do constante e brutal aumento de impostos provocado pela vinda da “troika”, é o autoritarismo.  Foi com base nesta característica que o governo “Troikano” obrigou ao exercício de uma intensa carga fiscal (provavelmente não tinha grande hipótese de fazer a coisa de outra forma), e obrigou a toda uma série de alterações que influenciaram negativamente a vida de todos nós . Após todos os sacrifícios assistimos ao impune passeio de culpados ou, pelo menos, responsáveis pelo vergonhoso lodaçal no qual continuamos. 
Quer sejam individualidades do governo ou privadas .
Acresce a isto os escândalos vindos a público que envolvem diretamente deputados da assembleia nacional e regional, nomeadamente escândalos relacionados com corrupção, usufruto de vários benefícios nomeadamente elevados subsídios que acumulam com os salários, alguns obtidos de forma, quanto a mim, fraudulenta e vergonhosa e, cereja no topo do bolo, uma boa parte destas poucas vergonhas foi relativizada e desvalorizada pelos representantes de órgãos cuja responsabilidade máxima é...regular ! 

Tudo isto ( e muito mais) penso que culmina na existência e permanência sólida de um estado e de um governo cleptocráticos . 
Os poderes instituídos (governativos e não só), quando chamados  a intervir para justificar algo, qual Goebbels,adotam autênticas manobras propagandistas , distrativas e evasivas baseadas em questões e aspetos puramente fraudulentos , eleitoralistas e absurdamente demagógicos. 
É o marketing comunicacional a funcionar , não apenas para escamotear realidades, mas também para sustentar uma oclocracia que mantenha a “plebe” distraída. Daí a absoluta e impreterível importância da eterna trilogia dos 3 F. Com apenas uma alteração... um dos F deixa de ser Fátima, para passar a ser Facebook. 
A trilogia do F contribui de forma decisiva para o perpetuar do poder oclocrático de uns ( entidades governativas e interesses satélite), sobre outros ( uma plebe inerte  alienada pelo supérfluo e pelo fútil).
Posto isto percebe-se o porquê de uma crescente abstenção ao voto. Tal dever-se-á não apenas à qualidade da política que temos tido, que mais não faz do que infetar a democracia tornando-a enferma, mas também à crescente inércia e indiferença de um povo que continua  fazer dos 3 F um modo de vida e um modo de existência.
O encadeamento de todos as características e aspetos aqui evidenciados por mim, é o que permite que o próprio sistema se autocorrompa todos os dias. E não apenas no sentido monetário mas, mais grave, em ideais , princípios e decência !
“O estado  que chegámos “,   só é possível reverter fazendo um “format  C:”  ao país e ao sistema instalado.
 É o que se faz num computador quando se pretende eliminar de vez o sistema existente, e instalar um outro novinho de raíz.
Pior do que nos apercebermos do “estado a que chegámos”, é o estado no qual nos mantemos!