António Fernandes |
A educação é a componente mais complexa da
estrutura social porque é nela que assenta o comportamento do
indivíduo e, por via deste e do seu conjunto,
irradia diretrizes para toda a orgânica motora da evolução e organização
das sociedades. Passadas, presentes e futuras. Por isso, o desafio que se
coloca ao poder político e demais agentes envolvidos, professores e alunos, é a discussão do modelo de ensino e a educação no seu todo.
Desde o modelo corporativo, cooperativo, privado, público,
ou misto, todos eles defendem que a
primazia referencial é sempre o interesse do aluno como pedra
angular da sociedade do futuro.
O que vulgarmente não é referenciado são os interesses em disputa e dos quais o primado anunciado
- os alunos - são sempre o elo mais fraco e por isso o mais prejudicado nesta
contenda.
Não há, também
por isso, um modelo consensual de que se conclua ser o mais eficaz nos propósitos a que
todos eles se propõe. Embora se possa concluir que a maioria
dos docentes defende a escola pública como o modelo que tem melhor condição
para assegurar com qualidade, ao aluno, o futuro que merece.
As Associações de Pais tendencialmente divergem por extrato
social e os alunos não tem opinião formada segundo auscultação.
Por inerência
de conjuntura política, as questões que ultimamente se tem colocado no espectro
político prenunciam opção política de Municipalização e privatização do ensino numa lógica neoliberal da sustentabilidade
financeira do Estado na relação linear da conta global de receita/despesa no
quadro do Orçamento Geral do Estado elaborado por conceito político
conservador, de que resulta circunstância que quando incide sobre a sociedade
causa efeitos transversais em que a classe social envolvida, e por isso visada,
não é poupada. Antes pelo contrário. Acaba por ser a primeira vítima
de um alvo que é bem mais lato do que aquilo que se possa imaginar. E não é possível imaginar, porque os efeitos
colaterais são sempre incontabilizaveis. Acontecerá,
a médio prazo, um significativo abaixamento dos níveis do saber e do
conhecimento hoje existentes, empobrecendo a capacidade competitiva da geração
afetada, em todos os domínios. Desde logo o acesso à qualificação que garanta condição
de empregabilidade num mundo em permanente inovação técnica e tecnológica.
A primeira fase deste processo já faz história de luta por
direitos fundamentais de classe social de onde se extrapolam sinais claros dos
objetivos finais de opção política vincada, e vinculada, a que haja um
retrocesso civilizacional alargado.
No presente, temos uma classe profissional, a dos
professores, a ser o alvo preferencial das políticas neoliberais da direita e das
forças que a sustentam. O que não é nada
de novo na sua estratégia de poder. O que é estranho,
é a classe média não ter a noção dessa realidade e por isso, não ter
acautelado, ao longo do processo formativo de forma a que a educação que alicerça a mente no presente, aloje raciocínio inadequado ao
tempo! Porque a formação da mente não tem acompanhado a evolução dos meios.
Obviamente, de que a postura política do poder financeiro
tem objetivos ancestrais que tem que ver com o nível de educação existente nas
suas populações. Ou seja; Quanto mais inculto for um povo, mais fácil é de
governar, e com maior facilidade aceitam tudo aquilo que lhes é imposto
de forma a que os privilégios de classe superior e dominante sejam condição
existencial.
A que acresce o percurso titubeante de uma esquerda política
que interiorizou raciocínio de que as contradições sociais e do modelo político
assentes em regras com base na procura e na oferta, a produção e o consumo, e o
constante aumento da componente compulsiva introduzida pelos meios produtivos.
Desta forma surge a necessidade de ajustamento que
equilibre a correlação das forças em presença. Financeiras, económicas, políticas
e sociais.
Esta dinâmica
de evolução das sociedades tem trazido alterações de conjuntura política e
social em que a equidade distributiva dos recursos naturais existentes, face ao
nível educativo
necessário ao desbravar do conhecimento em
todos os domínios que responda com eficácia a necessidades prementes da
Humanidade, tem sido o aliado natural do pensamento político da esquerda que se
baseia essencialmente nesta componente da existência
e da vida.
Simplesmente, os tempos mudaram. Os níveis do conhecimento
e do saber atingiram patamares que ultrapassam a existência física.
E, à esquerda, a História ficou sem
pensadores políticos com alternativas de mudança.
Urge por isso, discutir com seriedade intelectual esta
problemática, que sendo vital para a Humanidade, parece ser de somenos importância
para o poder político que é quem dita as regras deste “jogo”.
Porque, o modelo a implementar, que construa uma sociedade
diferente para um mundo que é sempre diferente para a geração que se segue, será
sempre o construtor da sociedade do futuro!