06/12/2017

As mós



António Fernandes 
A mó de cima trabalha.
A mó de baixo está parada.
As pás, tocadas pela água que corre pela ribeira abaixo giram, fazendo com que o veio aonde a mó de cima está encaixada gire também, forçando assim o movimento da abertura calibrada da saída do cereal do pequeno depósito que fica no topo de toda esta engrenagem.
Um engenho de moagem vulgarmente conhecido por moinho ribeirinho por ser construído junto a linhas de água, que lhe dão o movimento necessário para que cumpra a função para que foi construído.
Temos assim, duas mós.
Uma que, aparentemente, nada faz e, uma outra que, aparentemente, se esforça pelas duas.
Puro engano.
Ambas contribuem com o seu esforço para que a farinha moída seja o mais fina possível.
O moleiro, homem encarregue de zelar pelo bom funcionamento do engenho, a quem são entregues as rasas do cereal a moer, que devolve já moído e de que fica com a maquia usual, é também um exímio artífice na arte de picar as mós. Arte essa que consiste em impedir que ambas as mós fiquem lisas pelo uso, usando para isso um pico com que pica a face das mós aonde os cereais são esmagados.
Quiçá, este será o crime que compensa, porque desbastando as pedras, acabando por as consumir, é a única forma que tem para tirar o máximo partido na fricção entre ambas, produzindo farinha.
Na vida política, o funcionamento do engenho partidário não é de tão fácil constatação. Embora, os pontos fulcrais citados tenham relevância acentuada no seu funcionamento obscuro sempre que os seus agentes descambam para a opacidade no comportamento que não olha a meios para atingir fins…