05/10/2017

Catalunha: os Senhores da guerra



Mário Russo
O momento é de eleições não só em Portugal, como um pouco por vários países da Europa, que ocupam as páginas dos jornais e televisões com as campanhas e promessas que se vão repetindo de eleição em eleição e sua mentiras.
Mas o referendo na Catalunha que mobiliza o governo da Região, favorável à independência de Espanha, e as autoridades do país, que consideram um ato ilegal, enchem as páginas dos jornais europeus e noticiários das televisões.
Tenho ouvido e lido opiniões de portugueses muito favoráveis e simpáticas aos Catalães, inclusive com jornalistas a compararem à luta que Portugal manteve com Espanha para conquistar a sua independência. Esta comparação, de facto, é de espantar, tal a ignorância. Com efeito, a reivindicação Catalã, que os Portugueses com simpatias pela autonomia da Região espanhola embarcam, é de “mais democracia” e de um direito inalienável do povo. Acontece que na Catalunha há liberdade de ação política com partidos de várias vertentes. Os catalães votam nos seus dirigentes livremente. Escolhem os seus representantes nas Cortes da nação. Têm liberdade de escolha e de governação Regional, com partidos nacionalistas (regionais) e partidos nacionais com representação em todo o Reino Espanhol. Vivem em liberdade plena, sem guerrilhas nem imposições de um Estado soberano a não ser o cumprimento de deveres, tal como a todos os espanhóis, mas garantindo os seus direitos constitucionais, como todos os seus conterrâneos de todas as regiões de Espanha. O Governo Regional goza de autonomia quase de Estado soberano, faltando apenas a representação externa e a moeda.
 Portugal, há quase 1000 anos, não gozava desses direitos, nem de longe nem de perto, e era submetido a imposições e subjugado pela força pelo poder do imperador das espanhas. Nada comparável com a atual Catalunha. Não tinha direitos, mas apenas deveres para com o Rei de Castela.
O que transparece das reivindicações dos senhores da guerra é que a tal “mais democracia” só vale se for a favor da independência da Região. Se não for, não vale, não é democracia.
A comparação que se poderia fazer é mais com os caciques das tribos da Líbia e do Iraque. Não se percebe como se pode ter simpatia por quem quer ser individualista. Não quer pertencer a Espanha porque reivindica mais dinheiro do Estado Central porque arrecada mais (não quer saber de solidariedade com as regiões mais desfavorecidas, como aconteceu com a UE, que presenteou o país com verbas dos quadros comunitários numa lógica de solidariedade). Como é que quem não quer ser solidário pode almejar algum dia poder pertencer a um espaço em que a solidariedade foi o valor fundador?
O que se está a passar na Catalunha não é mais que a aspiração de senhores da guerra que querem sangue a todo o custo. Não é para beneficiar o povo, mas para o enganar com promessas irreais, desfraldando fantasmas onde já não existem. Tal como em Angola havia um senhor que queria a guerra, Savimbi, e manteve o país a ferro e fogo durante décadas, só terminada com a sua eliminação física, também na Catalunha existem demasiados senhores da guerra que incendeiam o povo com reivindicações sem sentido num momento de união na Europa e não de desunião.
Não falo no plano económico, que será uma desgraça para a Região e para o seu povo, a despeito da visão contrária dos senhores da guerra, que prometem o que não podem e enganam os seus concidadãos com falsos estudos, baseados em premissas falsas.
Por outro lado, para a Europa seria abrir um precedente perigoso e sem sentido. Seria o mesmo que abrir a caixa de Pandora e caminhar para os egoísmos nacionalistas que são a mãe da desunião e de guerras de individualistas e invejosos, alimentadas pela vaidade dos senhores da guerra.