Mário Russo |
O momento é de eleições não só em Portugal, como um pouco
por vários países da Europa, que ocupam as páginas dos jornais e televisões com
as campanhas e promessas que se vão repetindo de eleição em eleição e sua
mentiras.
Mas o referendo na Catalunha que mobiliza o governo da
Região, favorável à independência de Espanha, e as autoridades do país, que
consideram um ato ilegal, enchem as páginas dos jornais europeus e noticiários
das televisões.
Tenho ouvido e lido opiniões de portugueses muito favoráveis
e simpáticas aos Catalães, inclusive com jornalistas a compararem à luta que
Portugal manteve com Espanha para conquistar a sua independência. Esta
comparação, de facto, é de espantar, tal a ignorância. Com efeito, a reivindicação
Catalã, que os Portugueses com simpatias pela autonomia da Região espanhola
embarcam, é de “mais democracia” e de um direito inalienável do povo. Acontece
que na Catalunha há liberdade de ação política com partidos de várias
vertentes. Os catalães votam nos seus dirigentes livremente. Escolhem os seus
representantes nas Cortes da nação. Têm liberdade de escolha e de governação
Regional, com partidos nacionalistas (regionais) e partidos nacionais com
representação em todo o Reino Espanhol. Vivem em liberdade plena, sem
guerrilhas nem imposições de um Estado soberano a não ser o cumprimento de
deveres, tal como a todos os espanhóis, mas garantindo os seus direitos
constitucionais, como todos os seus conterrâneos de todas as regiões de
Espanha. O Governo Regional goza de autonomia quase de Estado soberano,
faltando apenas a representação externa e a moeda.
Portugal, há quase
1000 anos, não gozava desses direitos, nem de longe nem de perto, e era
submetido a imposições e subjugado pela força pelo poder do imperador das
espanhas. Nada comparável com a atual Catalunha. Não tinha direitos, mas apenas
deveres para com o Rei de Castela.
O que transparece das reivindicações dos senhores da guerra
é que a tal “mais democracia” só vale se for a favor da independência da
Região. Se não for, não vale, não é democracia.
A comparação que se poderia fazer é mais com os caciques das
tribos da Líbia e do Iraque. Não se percebe como se pode ter simpatia por quem
quer ser individualista. Não quer pertencer a Espanha porque reivindica mais
dinheiro do Estado Central porque arrecada mais (não quer saber de
solidariedade com as regiões mais desfavorecidas, como aconteceu com a UE, que
presenteou o país com verbas dos quadros comunitários numa lógica de
solidariedade). Como é que quem não quer ser solidário pode almejar algum dia
poder pertencer a um espaço em que a solidariedade foi o valor fundador?
O que se está a passar na Catalunha não é mais que a
aspiração de senhores da guerra que querem sangue a todo o custo. Não é para
beneficiar o povo, mas para o enganar com promessas irreais, desfraldando
fantasmas onde já não existem. Tal como em Angola havia um senhor que queria a
guerra, Savimbi, e manteve o país a ferro e fogo durante décadas, só terminada
com a sua eliminação física, também na Catalunha existem demasiados senhores da
guerra que incendeiam o povo com reivindicações sem sentido num momento de
união na Europa e não de desunião.
Não falo no plano económico, que será uma desgraça para a
Região e para o seu povo, a despeito da visão contrária dos senhores da guerra,
que prometem o que não podem e enganam os seus concidadãos com falsos estudos,
baseados em premissas falsas.
Por outro lado, para a Europa seria abrir um precedente
perigoso e sem sentido. Seria o mesmo que abrir a caixa de Pandora e caminhar
para os egoísmos nacionalistas que são a mãe da desunião e de guerras de
individualistas e invejosos, alimentadas pela vaidade dos senhores da guerra.