13/08/2017

Quo vadis Brasil?



Mário Russo
O Brasil está a passar por um período crítico da sua existência devido à inundação de casos de corrupção em catadupa. Todos os dias as televisões e rádios, para além dos jornais, relatam casos de políticos ou agentes da administração nas esferas municipal, estadual ou federal, envolvidos em esquemas de elevada corrupção que fazem corar qualquer pessoa minimamente séria.
Segundo a voz corrente, dizem que aqui no Brasil a corrupção é endémica e está nas veias da própria população, que acha normal dar uma propina (luvas) a funcionários para a tramitação de “papelada” em repartições públicas. No entanto, esta perceção, hoje em dia, parece já não ser verdade, pois não constatei em várias situações em que pessoalmente tive de tratar de assuntos burocráticos em órgãos públicos e deparei com sistema avançado de atendimento e apoio ao cidadão, através de informatização, muitas tarefas realizadas via internet e, por isso tudo sem a necessidade das tais luvas, que eram comuns, mas há algumas décadas atrás.
No entanto, o mesmo não se passa na esfera política e económica (grandes grupos económicos), cujo comportamento foi o oposto, sobretudo após a entrada do PT na governação com o governo Lula, iniciando-se um projeto de poder em que o dinheiro seria arrecadado para comprar votos dos deputados, batizado de “mensalão”. Assim começou uma verdadeira caça a recursos públicos através de drenagem de dinheiro de grandes empresas públicas e privadas, com ênfase na Petrobras, uma das maiores companhias do mundo, à época. Também as obras públicas foram usadas como fontes de arrecadação, pois uma percentagem drenava para os cofres dos políticos, de todos os partidos, porque os partidos de poder nos diversos Estados faziam o mesmo que era feito a nível federal.
O BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social, um banco que deveria financiar o desenvolvimento do Brasil, financiou obras no Peru, em Cuba, Venezuela, Angola, entre outros países, todos com luvas pagas aos políticos, sobretudo através de uma das maiores empresas de construção do mundo, a Odebrecht, incluindo em Portugal.
Recentemente o ex-Presidente Lula foi condenado a 9,5 anos de prisão em primeira instância. Agora até o Presidente  Michel Temer, que foi vice-Presidente de Dilma Russef, que foi destituída do poder por irregularidades, escapou de ser investigado por um Congresso de deputados na sua maioria corruptos que votaram a favor do parecer de um dos compinchas da tafulhada que se vive neste momento.
O que se passou nas negociações para votar a favor de Temer, é indiscritível. Compra de votos com dinheiro público, mas tudo de forma legal, tal os instrumentos legais existentes na política brasileira,, em que deputados eleitos por um partido, passam para outro através de negociação tipo jogadores de futebol. Não consigo perceber como o Presidente consegue não esconder a cara na areia diante de tamanhas denúncias. A todo o momento há mais uma ameaça de julgamento por corrupção, barradas com as negociações costuradas nos bastidores da política rasteira.
A corrupção, comandada pelas grandes corporações económicas, comprava, literalmente, os políticos e agentes da administração de forma inacreditável. Milhões e milhões para roubar o povo, fraudar a qualidade de carne, obter contratos fraudulentos, roubar a merenda escolar, beneficiar ilegitimamente de juros em financiamentos públicos com prejuízos para o banco BNDES, entre outros.
 O que está a mudar e torna-se uma luz no horizonte é a ação dos novos promotores e juízes, com relevo para o corajoso Sérgio Moro, que são a grande esperança de mudança de paradigma, prendendo e julgando os poderosos, coisa impensável há uma década atrás. De facto, pela primeira vez na história deste país os ricos e poderosos estão a ser presos num sinal a todos, que não há ninguém acima da lei.
Na outra “ponta”, o Rio de Janeiro está entregue às traças há várias décadas, onde o tráfico é rei e comanda a vida pública na capital do Estado e cidades vizinhas. Cada governador eleito é pior que o seguinte, lambuzando-se à grande e francesa. As obras das olimpíadas foram um fartar vilanagem. O governador de então, Sérgio Cabral, está preso por roubo estratosférico de recursos do erário público.
Os bandidos já mataram só desde janeiro, mais de 95 polícias em serviço. São de tal maneira ousados que desafiam literalmente o sistema de segurança. Roubam cargas de camiões com mercadorias, camiões dos correios com encomendas ou carros de valores bancários e montam escolta enquanto saqueiam as cargas.
O que vai acontecer e para onde vai o Brasil?
É uma questão que todos fazem. A economia, no meio deste caos, começa a dar sinais de crescimento deste portentoso país, tão riquíssimo em recursos naturais e biodiversidade, quanto injusto, indiferente ao descrédito dos políticos. A ação dos empresários começa a sentir-se.
A depuração que se começa a verificar, pode ser mesmo o sinal de que o país pode mudar para o que todos os brasileiros desejam, mas não será fácil nem na mesma velocidade da ação dos promotores e juízes. De facto, diante do anacronismo dos novos políticos, filhos das velhas manhas dos caciques, numa corrente monárquica, em que são filhos e netos de deputados que seguem a cartilha passada.
Esta é a incógnita que se vive por aqui, mas ainda assim, com sinais de mudança e esperança. Após a prisão dos poderosos, com relevo para o ex-Presidente Lula, nada vai ficar como dantes.