Mário Russo |
Portugal tem diversas épocas todos os anos, como a época dos
saldos, das férias de Natal, do verão e dos incêndios, esta como se fosse uma
moda, ou seja, tem de haver uma sessão todos os anos.
Entra governo e sai governo e as mesmas promessas de sempre
e as mesmas falhas de sempre, ou seja, de não cumprimento das recomendações que
uma série de especialistas têm reiteradamente feito e que passam
invariavelmente pela prevenção e não pelo combate, quando a probabilidade de
fracasso é quase sempre de 99%, ao contrário do discurso corrente de que 99%
dos incêndios são combatidos com eficácia, porque a avaliação é feita pelo
número de eventos e não pelas consequências dos eventos, que é o que deveria
ser feito e mostraria o constante fracasso anual.
Mas se todos sabem que é preciso ordenar a floresta e
geri-la de forma sustentável porque não se faz e assiste-se ano após ano a
incêndios com perda de vidas, bens e floresta?
Porque se destruíram equipas de guardas florestais pela “nossa
democracia revolucionária” só porque eram do tempo da “outra senhora”?
Como é que se pode conceber que é corrente termos incêndios
com frentes de 30, 40 e 50 km, sem que as manchas florestais, mesmo
desordenadas, não sejam compartimentadas para estancar estas hemorragias?
De que adianta ter faixas ditas de proteção lateral nas
estradas e autoestradas antes das manchas de floresta se estas têm mato e capim
pronto a arder ao primeiro fósforo e daí à floresta um lapso de tempo, porque
não há fiscalização?
Após o desastre de Pedrógão Grande e municípios vizinhos só
podemos chegar a uma conclusão que muita coisa correu mal, juntando-se todas as
circunstâncias que podiam falhar para causar o colapso.
Insistir que temos sucesso em 99% dos incêndios e não no
resultado desastroso do 1% que não é atendido, é enfiar a cabeça na areia como
a avestruz.
Insistir no combate, queimando recursos que não salvam a
floresta nem pessoas e seus bens, só pode estar a servir os detentores privados
dos meios de combate, porque o Estado que deveria ter os meios, se desfez deles
para privilegiar os amigalhaços donos dos meios de combate (normalmente
aeronaves e todo o tipo de equipamento de sapadores).
Não é preciso ser especialista em florestas, porque já há
que chegue, para se exigir uma tomada de posição do governo. Assim como também
não é preciso mais estudos, porque já os há mais que suficientes, porque será
mais do mesmo. Basta implementar medidas há muito discutidas e apresentadas. O
que é preciso é coragem para enfrentar todos os lobbies e fiscalizar todos os
responsáveis por atividades que levam à segurança contra incêndios.
Claro que é preciso apurar a verdade e fazer o diagnóstico
do que correu mal e porque aconteceu assim, apurando responsabilidades, em
memória e respeito pelas vítimas. Mas encomendar mais estudos demorados para
estarem prontos no inverno, será concorrer para o esquecimento e voltar a
empurrar-se a solução com a barriga, como aconteceu após desastres anteriores.
Não adianta cuspir para o prato, como faz o PSD e CDS como
se a culpa fosse exclusiva do atual governo. A culpa pelos desastres e pela não
implementação das medidas é de todos os governos dos últimos 30 anos e não vale
a pena o discurso hipócrita de acusação dos outros.
Espero que desta vez seja mesmo diferente, sobretudo pela
presença omnipresente do Presidente da República que tem sido de facto o único
garante de defesa dos interesses do povo português e em especial dos mais
desprezados ou esquecidos e fragilizados.