António Fernandes |
Assistimos
a um estranho movimento de deslocação de votos entre as diversas organizações
politicas que disputam eleições assim como a oscilações quantitativas de votos
em branco e votos nulos a que acresce o aumento significativo do numero de
eleitores que se abstém desse exercício: por motivos políticos nuns casos,
apolíticos – dizem-se – noutros casos, por não se reverem no figurino dos atuais
partidos políticos uma franja significativa da cidadania, por mero desinteresse
uma larga maioria dos abstencionistas e por manifesta impossibilidade uma
escassa minoria de cidadãos eleitores.
Penso
que esta forma de participação do cidadão na delineação por delegação de
competência através do voto que dita quem vai gerir as linhas de orientação das
politicas que lhe condicionam a qualidade de vida continua e continuará a ser a
forma mais justa no atual estádio da organização da vida em sociedade que faz a
História no Planeta.
No
entanto, no seguimento do alinhamento politico identitário que todos possuímos,
o pressuposto de que a continuidade da matriz politica não sofre alterações é um
erro de palmatória na medida em que, a conjuntura politica não é estática,
sofrendo inclusive roturas que obrigam ao constante ajustamento das suas linhas
estruturantes naquilo que são as opções politicas no tempo em que
ocorrem.
Seguindo
este raciocínio temos que: o cidadão eleitor cumpre a sua obrigação, votar; são
facultadas ao cidadão eleitor as ferramentas legais de fiscalização na conduta
das politicas prometidas pelo cidadão eleito em Lista partidária ou outra; ao
cidadão eleitor é imputada responsabilidade politica pela opção maioritariamente
tomada ao sufragar o ato de eleger; ao eleito é apontado o eventual
incumprimento daquilo que prometeu, se for o caso; o eleito submete-se a eleição
em Lista partidária ou outra à mercê da vontade do
eleitorado;
Servem
por isso os resultados da eleição presidencial Francesa a juntar a outros
resultados eleitorais na Europa deste inicio de século para consolidar o
raciocínio de que as inovações industriais têm consequências politicas de
mutação em todo o tecido em sua volta porque produzem efeitos diretos sobre a
organização da vida das sociedades alterando de forma exponencial todas as
condicionantes implícitas ao simples ato de viver que se pretendem em beneficio
do Homem e da sua comodidade, aumentando os índices de produção com qualidade e
apelativos ao consumo de uma sociedade cada vez mais liberta para o
lazer.
Uma
condição elementar por básica para um raciocínio claro sobre o que leva as
sociedades mais desenvolvidas a acantonarem-se em posições mais conservadoras
procurando inclusive outras vias de saída politica que não as vias da
alternância do poder desde a transição das monarquias para os modelos
republicanos.
Neste
contexto a burguesia que surgia como uma classe intermédia – vulgo; classe média
– na pirâmide da organização social aparece hoje no sopé dessa mesma pirâmide
que deixou de ter os diversos segmentos que a compunham no inicio do seculo
passado para passar a dispor de apenas dois: os agentes produtivos e os agentes
financeiros.
Obviamente
de que este raciocínio generalizado encontrará ecos de discordância em
especificidades pontuais. Ecos esses que não são relevantes para a analise em
questão.
A
analise em questão pretende encontrar explicação para a falência técnica das
correntes de opinião na área da social democracia radicalizando posição em
preconceitos racistas e xenófobos num tempo em que os níveis de escolaridade
existentes na Europa indiciariam o contrario e também em torno dos valores que a
esquerda mais tradicional defende.
Algo
está a escapar aos partidos do socialismo democrático e sociais democratas para
estarem a passar pelo pior período da sua existência no plano da convergência
politica com as suas bases sociais de apoio e com o cidadão eleitor em
geral.
Conjuntura
politica não expectável após a mudança de modelo de organização politica
precedido por guerras mundiais fratricidas e que augurava uma maior estabilidade
na correlação mundial das forças bélicas e de controlo financeiro permitindo
crescimento económico. Crescimento esse que para ser regrado obriga à
planificação da produção das médias e microeconomias instaladas nos diversos
Países Europeus cujo inicio de interesse foi celebrado através de um acordo
internacional sobre a produção do aço e do carvão, CECA, e posteriormente, CEE.,
hoje UE.
Durante
esse período histórico os valores da social democracia fizeram caminho e
contribuíram de forma decisiva para a estabilidade mundial e para o
desenvolvimento económico conduzindo à sua globalização.
Acontece
que é precisamente no reverso dessa globalização que os partidos
tradicionalmente do centro esquerda encontram maiores dificuldades de
ajustamento ideológico não percebendo as mudanças operadas para agirem
politicamente em conformidade.
Fecharam-se
em torno de interesses individuais e de questiúnculas internas de poder correndo
sérios riscos de virem a implodir por culpa própria: uns por incompetência e
outros porque elegeram essa incompetência.
Este
é o maior problema politico com que os partidos socialistas e demais partidos
políticos que disputam o poder se defrontam, na Europa e no
Mundo.