31/05/2017

Autárquicas 2017 : o voto, a politica e a vida



António Fernandes 
Assistimos a um estranho movimento de deslocação de votos entre as diversas organizações politicas que disputam eleições assim como a oscilações quantitativas de votos em branco e votos nulos a que acresce o aumento significativo do numero de eleitores que se abstém desse exercício: por motivos políticos nuns casos, apolíticos – dizem-se – noutros casos, por não se reverem no figurino dos atuais partidos políticos uma franja significativa da cidadania, por mero desinteresse uma larga maioria dos abstencionistas e por manifesta impossibilidade uma escassa minoria de cidadãos eleitores.
Penso que esta forma de participação do cidadão na delineação por delegação de competência através do voto que dita quem vai gerir as linhas de orientação das politicas que lhe condicionam a qualidade de vida continua e continuará a ser a forma mais justa no atual estádio da organização da vida em sociedade que faz a História no Planeta.
No entanto, no seguimento do alinhamento politico identitário que todos possuímos, o pressuposto de que a continuidade da matriz politica não sofre alterações é um erro de palmatória na medida em que, a conjuntura politica não é estática, sofrendo inclusive roturas que obrigam ao constante ajustamento das suas linhas estruturantes naquilo que são as opções politicas no tempo em que ocorrem.
Seguindo este raciocínio temos que: o cidadão eleitor cumpre a sua obrigação, votar; são facultadas ao cidadão eleitor as ferramentas legais de fiscalização na conduta das politicas prometidas pelo cidadão eleito em Lista partidária ou outra; ao cidadão eleitor é imputada responsabilidade politica pela opção maioritariamente tomada ao sufragar o ato de eleger;  ao eleito é apontado o eventual incumprimento daquilo que prometeu, se for o caso; o eleito submete-se a eleição em Lista partidária ou outra à mercê da vontade do eleitorado;
Servem por isso os resultados da eleição presidencial Francesa a juntar a outros resultados eleitorais na Europa deste inicio de século para consolidar o raciocínio de que as inovações industriais têm consequências politicas de mutação em todo o tecido em sua volta porque produzem efeitos diretos sobre a organização da vida das sociedades alterando de forma exponencial todas as condicionantes implícitas ao simples ato de viver que se pretendem em beneficio do Homem e da sua comodidade, aumentando os índices de produção com qualidade e apelativos ao consumo de uma sociedade cada vez mais liberta para o lazer.
Uma condição elementar por básica para um raciocínio claro sobre o que leva as sociedades mais desenvolvidas a acantonarem-se em posições mais conservadoras procurando inclusive outras vias de saída politica que não as vias da alternância do poder desde a transição das monarquias para os modelos republicanos.
Neste contexto a burguesia que surgia como uma classe intermédia – vulgo; classe média – na pirâmide da organização social aparece hoje no sopé dessa mesma pirâmide que deixou de ter os diversos segmentos que a compunham no inicio do seculo passado para passar a dispor de apenas dois: os agentes produtivos e os agentes financeiros.
Obviamente de que este raciocínio generalizado encontrará ecos de discordância em especificidades pontuais. Ecos esses que não são relevantes para a analise em questão.
A analise em questão pretende encontrar explicação para a falência técnica das correntes de opinião na área da social democracia radicalizando posição em preconceitos racistas e xenófobos num tempo em que os níveis de escolaridade existentes na Europa indiciariam o contrario e também em torno dos valores que a esquerda mais tradicional defende.
Algo está a escapar aos partidos do socialismo democrático e sociais democratas para estarem a passar pelo pior período da sua existência no plano da convergência politica com as suas bases sociais de apoio e com o cidadão eleitor em geral.
Conjuntura politica não expectável após a mudança de modelo de organização politica precedido por guerras mundiais fratricidas e que augurava uma maior estabilidade na correlação mundial das forças bélicas e de controlo financeiro permitindo crescimento económico. Crescimento esse que para ser regrado obriga à planificação da produção das médias e microeconomias instaladas nos diversos Países Europeus cujo inicio de interesse foi celebrado através de um acordo internacional sobre a produção do aço e do carvão, CECA, e posteriormente, CEE., hoje UE.
Durante esse período histórico os valores da social democracia fizeram caminho e contribuíram de forma decisiva para a estabilidade mundial e para o desenvolvimento económico conduzindo à sua globalização.
Acontece que é precisamente no reverso dessa globalização que os partidos tradicionalmente do centro esquerda encontram maiores dificuldades de ajustamento ideológico não percebendo as mudanças operadas para agirem politicamente em conformidade.
Fecharam-se em torno de interesses individuais e de questiúnculas internas de poder correndo sérios riscos de virem a implodir por culpa própria: uns por incompetência e outros porque elegeram essa incompetência.

Este é o maior problema politico com que os partidos socialistas e demais partidos políticos que disputam o poder se defrontam, na Europa e no Mundo.