Após a vitória do Brexit
no referendo de 23 de junho de 2016, a Europa ficou sobressaltada e as
primeiras reações da União Europeia foram de alguma dureza relativamente ao
processo de negociação do divórcio. No entanto, esta decisão de saída
constituiu apenas a primeira grande consequência de uma Europa frágil e estática
face aos novos desafios que o mundo lhe apresenta.
Agora, a aproximar-se a data em que o artigo 50 do Tratado
de Lisboa será ativado, Theresa May tem que acautelar um futuro para o Reino
Unido fora da UE. O Reino Unido consegue viver sem a União Europeia, mas também
lucrou muito com a adesão – pelo menos a nível comercial –, sem ter tido a
necessidade de abdicar da moeda ou da sua particular política externa. Neste
último ponto, e nomeadamente na relação com os Estados Unidos, o Reino Unido
perdeu. Esta relação remonta ao período pós-Segunda Guerra Mundial, quando
foram celebrados vários acordos entre os países que partilham a língua inglesa
(Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia),
designadamente ligados à cooperação dos serviços secretos e àquilo que ficou
conhecido como o clube dos «cinco olhos», em inglês five eyes. Desta forma, os Estados Unidos viam o Reino Unido como
uma voz dentro do círculo europeu que zelava indiretamente pelo país do outro
lado do Atlântico.
Contudo, o Brexit,
encabeçado por Theresa May, assinala
apenas o início de uma vaga de populismo com que a Europa se tem deparado. E um
dos argumentos dos populistas reside na imigração, apregoada como nefasta para
uma nação. Na verdade, a imigração até pode constituir um ponto importante para
um país, mas, se isso de alguma forma parecer que prejudica alguém dessa
sociedade, nunca será bem digerido por ela. Existe, hoje, o sentimento de
descrença em relação ao sistema político, fruto, em parte, de não se conseguir
muitas vezes explicar determinadas medidas que se querem aplicar. Quando não entendemos, desconfiamos e muitas vezes não
acreditamos no que nos estão a dizer.
O principal problema da Europa assenta na desigualdade.
Para a ultrapassar essa desigualdade, sobretudo a económica, tem de haver mais
flexibilidade. Recuar e ajustar as políticas é mais frutífero do que mergulhar
numa crise que dá azo à formação dos populismos. A moderação recente de Merkel
prova que também a Alemanha reconhece o tempo conturbado que se vive na Europa
e que, neste momento, não é prudente a inflexibilidade.
Neste momento, anda muito em voga o estudo de um eventual
fim do euro. Arrisco-me a dizer que, a curto prazo, nenhum país sairia
beneficiado. Em vez de se explorarem terrenos perigosos e incertos, proponho
que se invista naquilo de que o populismo se aproveita: a falta de eficácia na
comunicação entre a esfera política e a social. É importante aprofundar um
diálogo sério mas sustentado numa ação condizente.
Ao longo dos tempos, como nota Robert Skidelsky,
prestigiado historiador britânico, a História faz-se de muitas pequenas
decisões. Às vezes, as grandes mudanças não são exatamente desejadas da forma
como acontecem. Às vezes, nem se percecionam imediatamente essas mudanças. Mas
elas acontecem. Hoje, relativamente à Europa, tudo é incerto mas tudo é
possível. É preciso agir para que tudo se conjugue da melhor forma, ainda que
eventualmente isso possa não acontecer.
Tiago Morgado
estudante de Humanidades
Tiago Morgado
estudante de Humanidades