04/10/2016

Espaço




Quando nascemos o nosso espaço é restrito. Raramente saímos do berço, ou quando o fazemos, ficávamos no colo da nossa mãe. Contudo antes de um ano começamos a gatinhar e a deambular pela casa. Lentamente começamos a expandir o nosso espaço com os primeiros passos que é sinónimo de quedas e perigos. O triciclo permite-nos ir mais longe, assim como o carro de pedais. A bicicleta aumenta-nos o raio de acção.
A continuação do aumento de novos espaços costumava acontecer com a primeira viagem com os nossos pais. Quando vamos para a escola há as excursões e descobres novas cidades e paisagens que aprecias.
Mais tarde, o teu espaço aumenta em exponencial se viajas assiduamente por locais exóticos, hotéis e cidades pelos cinco continentes.
Porém, quando passas os 50 anos, de repente, todo esse espaço já não te diz muito e essa avidez de conhecer novos espaços desvanece-se.
Nada te deslumbra e te põe boquiaberto. Ficas com a sensação que já viste tudo e nada te surpreende. É na fase da vida que começas a ficar mais velho.
O problema maior é não teres pachorra para esperas em aeroportos, viajar de carro já não te dá gozo como antigamente. Frequentar festas e aturar pessoas é uma seca.
Começas a viver mais serenamente e, num ápice, descobres que a tua casa tem tudo do que necessitas. Um bom sofá para leres, uma boa cama para descansares, uma boa televisão com os teus  programas preferidos, longe do prime-time. Um bom computador com Internet e um telemóvel para estares comunicável com o mundo exterior.

Vendo bem, voltas ao local de onde saíste. Não ficas por um berço, mas ficas numa casa com as tuas comodidades. O espaço vai retrocedendo, lentamente. Um dia doente te confinarás a uma cama e mais tarde serás levado numa caixa de madeira com um espaço semelhante a um berço, dois metros por um.

JJ