Mário Russo |
Tenho a honra de ser um dos convidados para participar no
dia Mundial do Ambiente que as Nações Unidas celebram este ano em Angola, na
cidade de Luanda. Apesar das temáticas serem mais dedicadas à biodiversidade e
ao combate ao tráfico da fauna e flora selvagens, os resíduos foram integrados
no ciclo de palestras dada a sua relevância a nível mundial, painel esse em que
apresentarei uma proposta de gestão integrada de resíduos num contexto prático
e concreto em África.
De facto, a produção de resíduos é um dos grandes desafios
colocados à sociedade nos nossos dias pelas quantidades descartadas anualmente
no ambiente, perdendo-se recursos finitos e muitos com um fim à vista na nossa
geração, se nada for feito em contrário.
Com efeito, gera-se anualmente no mundo mais de 4 biliões de
toneladas de resíduos de origem municipal, industrial e perigosos
(http://www.unece.org) que contribuem para 5% dos gases de efeito de estufa
(GEE). Os resíduos municipais gerados são entre 1,6 e 2 biliões de toneladas,
sendo a maior parte resíduos orgânicos putrescíveis, alimentos e restos de
alimentos e resíduos verdes, cujo crescimento é estimado em 44% até 2025 devido
ao crescimento da população e do consumo. Esta situação provocará um acréscimo
da emissão de GEE de 8 a 10% relativamente à atualidade.
A reciclagem em todas as suas formas emprega 12 milhões de
pessoas apenas em três países - Brasil, China e Estados Unidos. A triagem e o
processamento de materiais recicláveis sustentam dez vezes mais empregos do que
operações em aterros ou em incineração, numa base por tonelada (Towards a green
economy - UNEP). Por outro lado, deve referir-se que a reciclagem conduz à
economia de recursos substanciais. Por exemplo, para cada tonelada de papel
reciclado, 17 árvores e 50 por cento da água podem ser evitadas. A reciclagem
de cada tonelada de alumínio, conduz à economia de recursos evitando 1,3
toneladas de resíduos de bauxita, o consumo de 15 m3 de água de
refrigeração, 0.86 m3 de água de processo e 37 barris de petróleo. Para além de
evitar 2 toneladas de CO2 e 11 kg de SO2.
O panorama a nível mundial não é nada confortável sob o
ponto de vista ambiental. Com efeito, cerca de 70% dos resíduos municipais são
depositados em lixeiras ou em aterros sanitários, 11% são tratados por métodos
térmicos em incinerações com produção de energia elétrica e apenas os restantes
19% são reciclados ou tratados por tratamentos mecânico-biológico (TMB), que
inclui a compostagem. O desperdício de recursos, como se pode deduzir, é
imenso.
Sob o ponto de vista da saúde pública o espelho mostra-nos
uma imagem distorcida, dado que se estima que cerca de 3,5 biliões de pessoas
no mundo não têm acesso a sistemas de gestão de resíduos, que representa cerca
de 52 % da população da Terra (dados de 2008), que inclui população sem a
recolha para fora das suas áreas de residência e menos ainda qualquer tipo de
tratamento.
O crescimento rápido da população sugere que o problema se
agravará com a rápida urbanização das populações, sobretudo no hemisfério sul,
para onde se dirige o crescimento económico mundial e o da população.
Há o perigo de cerca de 40 metais e metaloides acabarem nos
próximos 30 a 40 anos, dadas as reservas conhecidas e o ritmo de consumo. Se
nada for feito, isso inviabilizará no futuro a fabricação de ecrãs táteis tanto
do nosso agrado. A impossibilidade de construção de máquinas ferramenta e via
disso, uma série de produtos que fazem as nossas delícias na atualidade. Pode
evitar-se este desastre com a reciclagem e, sobretudo com uma mudança de
atitude de todos nós, separando os resíduos orgânicos putrescíveis (restos de
comidas e alimentos, etc) dos restantes resíduos secos.