Mário Russo |
Os banqueiros no passado eram mesmo homens ricos que tinham
capacidade de emprestar dinheiro e de guardá-lo em cofres seguros e guardar
sigilo absoluto da titularidade dos valores, para preservar o banco e os
clientes de eventuais roubos, sequestros, etc. Eram homens honrados e sérios.
O tempo foi passando e muito se alterou. Os banqueiros
passaram a ser homens de negócio que lucram com a gestão do dinheiro dos
outros, não sendo detentores do dinheiro e na maior parte dos casos, como há
farta prova, pessoas nada sérias e muito menos honradas. Também mantiveram
sigilo por muito tempo, mas paulatinamente as máfias, ladrões, corruptos e
similares, também usaram os bancos para as operações com dinheiro, muito
dinheiro. O terrorismo e o narcotráfico obrigaram governos (muitas vezes a
contra gosto) a alterar regras e a impor a abertura do sigilo bancário em nome
na segurança das pessoas e dos países.
Ora, os bancos regem-se por legislação e regras emanadas dos
Estados. Os ditos Offshores também são bancos que se regem por regras emanadas,
igualmente pelos Estados e instâncias internacionais, com determinadas
prerrogativas de sigilo em que ninguém pergunta pela origem das fortunas e
ainda por cima pagam poucos impostos, que perduram até hoje.
Quase todos os países têm desses bancos (paraísos fiscais),
desde os EUA, a Portugal e países Europeus em seu território ou em territórios
ditos ultra periféricos (colónias europeias). Muitas empresas viram-se quase
obrigadas a ter contas nesses paraísos, devido à sua atividade internacional.
Quem declarou os valores e pagou o imposto devido em seu país, estará dentro da
legalidade. Só que serão uma minoria, até porque pela génese dessas sociedades
financeiras sigilosas, porque haveria alguém de declarar ao fisco de seu pais, muitas
vezes tão ladrão como os offshores, as quantias ali detidas?
Portanto, não foi nenhuma surpresa para mim a revelação dos
Panama Papers. O que tem sido revelado não constitui nenhuma novidade para mim
e acho que para ninguém, porque é da essência da atividade dessas casas
financeiras, criadas por Governos para esconder dinheiro, permitir que
amigalhaços possam fugir a impostos e a fomentar a corrupção ao permitir pagar
as comissões sem rastos a políticos corruptos. Só não sabia, como é evidente, o
nome seja de quem for.
As virgens ofendidas se quiserem moralizar a coisa pública
só têm uma coisa a fazer: acabar com todas as offshores, porque são todas vergonhosas
que roubam o dinheiro de impostos não pagos em todos os países, obrigando que seja
o povo a paguar mais para compensar a falta de verbas perdidas nestas lavagens.
A União Europeia é a primeira a permitir esses ofshores em países
como a Holanda, Irlanda, Luxemburgo, Liechtenstein, Mónaco, entre outros, que
atraem empresas e indivíduos para ali instalarem as residências fiscais para
pagar menos impostos (mas o menos é todo para esses paraísos ladrões e piratas).
O curioso é que o Presidente do Eurogrupo, que obriga, por exemplo, Portugal a
aumentar impostos, seja o ministro das finanças da Holanda, um desses paraísos
ladrões sem pudor.
Haja vergonha e decoro.