Mário Russo |
A criação da União Europa, antiga CEE, foi uma visão de
homens de elevada estatura política, verdadeiros estadistas com visão
estratégica para o velho continente que a miúde se via envolvido em conflitos
militares internos, destruição de nações, morte de milhares de cidadãos
europeus.
Deram-se passos muito importantes, mas ainda há muito a
fazer, designadamente em matéria de harmonização fiscal, aduaneira e bancária,
entre outras, para que o desenvolvimento dos vários Estados Membros seja mais
harmonioso do que tem sido. De facto, não faz sentido que milhares de empresas
da UE se deslocalizem em matéria fiscal para a Holanda, a Bélgica, Irlanda ou
Luxemburgo, para fugirem ao pagamento dos impostos que deveriam pagar nos seus
países de origem, como em Portugal acontece com 19 das empresas do PSI 20 terem
sedes na Holanda, deixando rombos de centenas de milhões de euros todos os anos
nos cofres nacionais, deixando que o fisco compense estas faltas com mais
impostos sobre o trabalhadores portugueses.
As desigualdades económicas entre Estados têm-se acentuado
depois da crise americana do subprime em 2008 que a Europa não soube lidar e,
pior, incorporou essa crise para si, precisamente porque só tem moeda comum,
com tudo o resto completamente desarticulado. A crise dos refugiados está a
desagregar o que restaria da dita União Europeia. Constroem-se muros e emergem
os egoísmos nacionais em que cada um só vê o seu lado. Os princípios fundadores
são uma miragem e o que se passou nos últimos dias com a capitulação da UE
diante das chantagens impostas pelos ingleses, evidencia que a UE está falida e
não passa de uma piada. Os atuais lideres não passam de anões que acabam de
trair os pais fundadores de uma Europa solidária, fraterna e igualitária.
Os ingleses foram sempre piratas e ladrões. Para amenizar o
termo, eram considerados Corsários, porque roubavam e saqueavam para o Reino de
sua Majestade. As frotas portuguesas que vinham dos confins do mundo, da Índia
e China, ao chegarem à Madeira, tinham os ladrões ingleses para saquear e levar
o produto para a Inglaterra. Portugal, para agradecer, firmou uma aliança, uma
Santa Aliança que sempre serviu os interesses dos piratas.
Mas agora é a própria UE que se verga diante dos mesmos piratas
de sempre. Até António Costa se curvou diante de sua Majestade o rei Cameron, a
recolher migalhas que lhe eram jogadas. Com exceção da Polónia e mais 2 ou 3
Estados que se opuseram, os restantes países, vergaram-se aos caprichos dos
ingleses.
A falta de visão estratégica está a matar o que resta desta
UE. Os anões que hoje governam os países europeus estão a construir o caixão
para o enterro desta patética União. Liderada por um político a contas com a
corrupção no Luxemburgo e apoiado por governantes lacaios da alta finança,
fingiram que fizeram um acordo com os ingleses com vantagens mútuas. Concederam
tantas exceções às regras da União, que dificilmente um mentecapto aceitaria
como razoável sequer.
Se a Inglaterra exige exceções que a beneficiam em
detrimento de todos os restantes membros, numa clara desigualdade de
tratamento, ao melhor estilo de desrespeito pelas mais elementares regras de
igualdade de tratamento, num profundo desprezo pelos demais países, num
pedantismo e arrogância só dignas de ditadores de republiquetas das bananas,
tem todo o direito de se retirar voluntariamente do Clube. Os restantes países
só teriam de aceitar esse desejo.
Após a saída do Reino Unido, que nunca quis ser de facto da
UE, mas apenas beneficiar economicamente de lá estar, a UE só terá de trata-lo
como um país qualquer fora da UE, a começar por sobretaxar os produtos ingleses
que entrem no espaço Schengen, fim da mobilidade dos ingleses pela UE sem um
visto, entre outros.
Esta caricatura de União como se comportará quando algum dos
outros Estados unilateralmente exigir algo impensável? Mas fará hoje qualquer
sentido fazer parte desta farsa? Hoje tenho dúvidas que faça e cada vez menos
acredito nesta amálgama burocrática comandada por incompetentes egoístas com
miopia em último grau.