Miguel Mota |
O solo agrícola é algo
muito precioso. É ele que está na base da agricultura, seja um pequeno canteiro
de alfaces ou uma floresta. Leva dezenas ou centenas ou milhares de anos a
formar, mas pode ser destruído em pouco tempo. Há que tudo fazer para o
conservar e melhorar.
A área agrícola tem
vindo a sofrer reduções muito grandes, com o incremento das áreas ocupadas pelas
construções para habitação, indústria, estradas, caminhos de ferro e aeroportos.
As recentes cheias, que assolaram várias regiões do país, vieram lembrar outro
mal, que é a degradação do solo agrícola em consequência da erosão a que tem
estado sujeito.
Aquelas imensas
quantidades de água da cor de chocolate arrastam para o mar muitas toneladas da
parte mais preciosa do solo de onde foi arrancada.
A melhor forma de
combate, para evitar ou reduzir os males das cheias, é actuar sobre toda a bacia
de recepção, a área onde cai a água que se vai acumular nas zonas mais baixas, a
caminho para um rio ou o mar. Esse combate visa que toda ou parte da água caída
nessa área se infiltre no solo. Nas zonas montanhosas, é normalmente possível
com a arborização, de forma a conseguir reter a água. Também são úteis, para
reter a água e reduzir a sua velocidade, as pastagens de montanha, quando é
possível instala-las. Note-se que estas ações têm interesse económico, além da
sua importância para evitar ou atenuar as cheias. E a água que se infiltra vai
aumentar os aquíferos, um outro ponto importante. As lavouras segundo as curvas
de nível são outra forma de evitar o escorrimento
superficial.
Por várias vezes
lembrei – e outros também o fizeram – que é muito importante a arborização da
serra do Algarve, uma faixa de cerca de 100 km de comprimento e 20 km de
largura, que vai da serra de Monchique até perto da fronteira com Espanha. Quase
toda descarnada, apenas com alguns pontos arborizados é, em grande, parte pouco
ou nada produtiva e incapaz de reter a água. Disso muito se ressentem os
aquíferos da zona baixa, uma faixa de cerca de 20 km de largura. Monchique, a
única parte bem arborizada, é uma boa indicação do que pode ser o resultado da
arborização.
Quando, apesar do que
se fizer, ainda muita água corre em ribeiras, especialmente com grande
inclinação, há processos de correcção torrencial, para atenuar a velocidade da
água. No século XX Portugal teve um especialista nessa técnica, o Engenheiro
Silvicultor Mário Galo, que deu um bom contributo para a correcção torrencial,
através de pequenas barragens de lajes.
Naturalmente, quando a
precipitação é muito intensa em curtos períodos ou é muito prolongada, como já
tivemos este ano de 2016, mesmo com as melhores técnicas é impossível evitar
muitos males.