15/01/2016

Leguminosas



Miguel Mota 
A FAO declarou 2016 o Ano internacional das leguminosas. O objectivo é aumentar o cultivo e o consumo das plantas deste grupo, com vantagem para a melhoria do solo agrícola onde são cultivadas, e da saúde das pessoas e animais que as consomem.
As leguminosas são das plantas com maior teor de proteínas, variadíssimos compostos químicos formados por um grande número de aminoácidos. Estes são apenas 20 mas, tal como peças de Lego, é possível formar com eles variadíssimas proteínas.
Os animais não são capazes de fabricar aminoácidos, que são apenas sintetizados pelas plantas. Como são essenciais à vida, os animais têm de comer plantas ou animais que comeram plantas para os adquirirem.
O valor das leguminosas para a melhoria dos solos resulta de viverem em simbiose – uma  associação com beneficio para ambos – com bactérias capazes de captarem o azoto do ar e sintetizarem compostos azotados, algo que o homem é capaz de fazer, mas com elevado consumo de electricidade, para produzir os nitratos, adubos muito usados na agricultura.
A bactéria, de seu nome científico Rhizobium leguminosarum, forma pequenos nódulos nas raízes, fáceis de ver quando se arranca uma faveira, um trevo ou qualquer outra leguminosa. Vive à custa da planta. Mas cede-lhe grande parte dos compostos azotados que fabrica a partir do azoto do ar pelo que, ao contrário das gramíneas, como o trigo, não necessitam de adubos azotados. E os resíduos que deixam no solo, tornam este mais fértil que antes dessa cultura.
Como quaisquer outros seres vivos, também as bactérias apresentam variabilidade genética e algumas são mais eficientes que outras na captação do azoto do ar. A investigação agronómica selecionou estirpes mais eficientes do que as que geralmente existem no solo e hoje não se justifica a cultura de leguminosas sem inocular as sementes com uma estirpe apropriada do Rhizobium. Nos artigos sobre “O azoto”, que publiquei no  Linhas de Elvas em 2010, relatei os ensaios realizados na década de 1950, na Estação de Melhoramento de Plantas, em Elvas, pelo Prof. Villax, ensaios que acompanhei e fotografei. Como se pode ver nas fotografias, é espectacular a diferença de desenvolvimento entre os talhões das plantas inoculadas e das não inoculadas.
Quando me encontrava a trabalhar na tese então necessária, descansava um tanto desse trabalho escrevendo um pequeno livrinho, que editei em 1954, intitulado “Uma guerra entre as plantas”. Embora também entrem humanos, as principais personagens são plantas de duas famílias, a das Gramíneas e a das Leguminosas, que travam entre elas uma guerra surda. O chefe das Gramíneas é o Senhor Trigo, que mostra um certo desdém pelas Leguminosas. Estas, sentindo-se diminuídas, enviam uma delegação aos engenheiros agrónomos da Estação de investigação para saber como podem melhorar a sua situação. Quando lhes são referidas as verrugas nas raízes, confessam-se envergonhadas por esse “defeito”. É-lhes explicado que, ao contrário, devem orgulhar-se de tão valiosa qualidade.
Ao fim de alguns ensaios e demonstrações em que entram membros das Gramíneas e das Leguminosas, compreendem que não há razão para se guerrearem mas antes para colaborarem. O que era uma guerra entre as duas famílias termina com um final feliz, num almoço de confraternização.
A pesar de tudo isto, que já é tão antigo, creio que a agricultura portuguesa ainda semeia muitas leguminosas sem inoculação.