Mário Russo |
O sonho Europeu foi construído por grandes Homens, mas está
a caminhar para o cadafalso às mãos de gente medíocre que nós temos contribuído
para se elegerem nos diversos países Europeus.
É confrangedor verificar esta deriva reacionária neo-liberal
que se amantizou com o egoísmo, a injustiça, a indiferença, a insensibilidade,
a crueldade, o chauvinismo, a ganância, o preconceito e o racismo.
Esta Europa que criou um sistema social que é o desejo dos
outros povos, que é reconhecida como o berço da cultura e civilização, dá
mostras exatamente do retrocesso, tal como na Idade Média se regrediu
civilizacionalmente. Estamos também a regredir nos valores da fraternidade, da solidariedade
e do bem-estar social Europeu por que tantos se bateram.
Os governos europeus, em vez de batalhar para manter estes
valores, estão a sucumbir a essa deriva direitista no pior sentido do termo.
A solidariedade é uma miragem. A fraternidade é afogada no
Mediterrâneo pelo medo que os desgraçados dos refugiados sejam todos
terroristas.
Vários países construíram muros para impedir a passagem dos
refugiados;
A Holanda adotou um confisco de 75% dos salários dos
refugiados que estejam a trabalhar, para pagar o acolhimento;
A Dinamarca revista os refugiados e confisca-lhes tudo o que
estiver avaliado acima de 1340 €, para pagar o acolhimento;
A Suécia reviu o seu plano e após avaliar os refugiados
concluiu que entre 60 e 80 mil não terão estatuto de asilado e por isso serão
deportados.
A União Europeia ameaça a Grécia, que tem sido o porto de
chegada de milhares e milhares de desesperados, morrendo às centenas, muitos
são crianças, culpando-a de não controlar as fronteiras.
O problema dos refugiados é complexo, bem sei, mas a culpa
tem sido das potências ocidentais. Primeiro porque destruíram os equilíbrios
que os africanos e árabes tinham estabelecido, porque nós, na Europa e EUA,
achamos que não eram democratas. Não praticavam o regime que nós queríamos. É
verdade. Mas o resultado de mais uma vez acharmos que nós é que sabemos como os
outros se devem comportar está à vista.
As justificativas de dificultar ao máximo, para dar exemplo
aos que estão nos seus países, para que de lá não saiam é cruel e de um mau
gosto, que Hitler se orgulharia de ter a ideia.
Enquanto não permitirmos que os países com problemas se
organizem, se desenvolvam e possam suportar com dignidade os seus povos, não
teremos o problema resolvido. Mas a política do toca e foge não serve. A
política de lançar bombas e destruir tudo e inclusive a esperança, não serve.
Se não se gizar um plano “Marshall” para toda a região, que
envolva exércitos em número de homens e equipamentos no terreno necessários a
assegurar a estabilidade, erradicando os extremistas, seguido da implementação
dos planos de desenvolvimento com apoio de técnicos das mais variadas
profissões para assegurar a reconstrução conjuntamente com as populações desses
países, continuaremos a ver desaguar milhões na Europa à procura da terra
prometida. Será necessário mobilizar recursos financeiros avultados, bem sei. Porém,
por mais que possam ser, será pouco comparado com o que poderá acontecer se
continuarmos com os medos de tudo e mais alguma coisa e a assobiar para o lado
como se o problema não fosse nosso e que é suficiente ser cruel, insensível e
afogar todos os que ousarem vir para “este paraíso”, construindo mais muros da
vergonha.
A Europa está a desmoronar-se à nossa vista e ninguém está a
fazer nada. É a PAZ que se conquistou a duras penas que está em risco.