30/01/2016

Europa da vergonha a desmoronar-se



Mário Russo
O sonho Europeu foi construído por grandes Homens, mas está a caminhar para o cadafalso às mãos de gente medíocre que nós temos contribuído para se elegerem nos diversos países Europeus.
É confrangedor verificar esta deriva reacionária neo-liberal que se amantizou com o egoísmo, a injustiça, a indiferença, a insensibilidade, a crueldade, o chauvinismo, a ganância, o preconceito e o racismo.
Esta Europa que criou um sistema social que é o desejo dos outros povos, que é reconhecida como o berço da cultura e civilização, dá mostras exatamente do retrocesso, tal como na Idade Média se regrediu civilizacionalmente. Estamos também a regredir nos valores da fraternidade, da solidariedade e do bem-estar social Europeu por que tantos se bateram.
Os governos europeus, em vez de batalhar para manter estes valores, estão a sucumbir a essa deriva direitista no pior sentido do termo.
A solidariedade é uma miragem. A fraternidade é afogada no Mediterrâneo pelo medo que os desgraçados dos refugiados sejam todos terroristas.
Vários países construíram muros para impedir a passagem dos refugiados;
A Holanda adotou um confisco de 75% dos salários dos refugiados que estejam a trabalhar, para pagar o acolhimento;
A Dinamarca revista os refugiados e confisca-lhes tudo o que estiver avaliado acima de 1340 €, para pagar o acolhimento;
A Suécia reviu o seu plano e após avaliar os refugiados concluiu que entre 60 e 80 mil não terão estatuto de asilado e por isso serão deportados.
A União Europeia ameaça a Grécia, que tem sido o porto de chegada de milhares e milhares de desesperados, morrendo às centenas, muitos são crianças, culpando-a de não controlar as fronteiras.
O problema dos refugiados é complexo, bem sei, mas a culpa tem sido das potências ocidentais. Primeiro porque destruíram os equilíbrios que os africanos e árabes tinham estabelecido, porque nós, na Europa e EUA, achamos que não eram democratas. Não praticavam o regime que nós queríamos. É verdade. Mas o resultado de mais uma vez acharmos que nós é que sabemos como os outros se devem comportar está à vista.
As justificativas de dificultar ao máximo, para dar exemplo aos que estão nos seus países, para que de lá não saiam é cruel e de um mau gosto, que Hitler se orgulharia de ter a ideia.
Enquanto não permitirmos que os países com problemas se organizem, se desenvolvam e possam suportar com dignidade os seus povos, não teremos o problema resolvido. Mas a política do toca e foge não serve. A política de lançar bombas e destruir tudo e inclusive a esperança, não serve.
Se não se gizar um plano “Marshall” para toda a região, que envolva exércitos em número de homens e equipamentos no terreno necessários a assegurar a estabilidade, erradicando os extremistas, seguido da implementação dos planos de desenvolvimento com apoio de técnicos das mais variadas profissões para assegurar a reconstrução conjuntamente com as populações desses países, continuaremos a ver desaguar milhões na Europa à procura da terra prometida. Será necessário mobilizar recursos financeiros avultados, bem sei. Porém, por mais que possam ser, será pouco comparado com o que poderá acontecer se continuarmos com os medos de tudo e mais alguma coisa e a assobiar para o lado como se o problema não fosse nosso e que é suficiente ser cruel, insensível e afogar todos os que ousarem vir para “este paraíso”, construindo mais muros da vergonha.
A Europa está a desmoronar-se à nossa vista e ninguém está a fazer nada. É a PAZ que se conquistou a duras penas que está em risco.