Mário Russo |
Fiquei muito surpreendido quando apareceu o nome de Tiago
Brandão Rodrigues como Ministro da Educação. Primeiro porque é uma área da
maior importância para que o nosso país possa posicionar-se competitivo num
mundo económica e tecnologicamente global, que se esperaria um Ministro com
densidade técnica, política e educativa.
Com efeito, o setor da Educação precisa de estabilidade e
merecia alguém com muita experiência, conhecimento e paciência. Mas o que se
viu foi um jovem investigador com carreira de meia dúzia de anos no estrangeiro
ser escolhido para uma tarefa superior à sua capacidade juvenil, revelada
apenas alguns dias após ser nomeado.
Surpreendeu-se por um lado, mas não por outro. Pois revela o
atraso e o provincianismo do nosso país. Só porque tem um doutoramento e
trabalhava numa universidade estrangeira já é um sábio. Mas pior é quando são
os próprios doutorados a acharem-se sábios, sobretudo de TUDO.
Eu sou licenciado, tenho dois mestrados, uma equivalência a
doutoramento e um doutoramento, e pelo meio uma especialização. Mas isto não me
faz mais que um melhor conhecedor, por obrigação, dos temas que abordei, mas
alto lá, hoje já não sou especialista em estruturas, porque há muito tempo que deixei
de praticar/estudar o tema. Ora, acerca de um mundo de saberes não passo de um
aprendiz, curioso, estudioso amador como toda a gente. Porque cargas de água se
poderá pensar que TIAGO Brandão Rodrigues tem capacidade para esta missão? Só
porque é doutorado?
O Jovem Ministro revelou logo inabilidade, que se poderia
confundir com falta de Educação: queimou por completo o sistema de avaliação em
vigor, por decreto e só depois de uma semana veio dar explicações, atabalhoadas
e de pura profissão de fé.
Revelou uma arrogância, que certamente não é sua, mas revelou,
ao sentir-se ungido por um Deus (talvez Grego) da suprema sabedoria, arrasando
o que estava para trás, apenas meia dúzia de dias de se sentar na cadeira de
Ministro.
A prudência aconselharia que o Sr. Ministro fizesse uma
profunda reflexão sobre o que se passa na Educação em Portugal, porque desde
que ele se licenciou algumas coisas se passaram e merecem, essas sim, serem
avaliadas. Desde logo avaliar a qualidade das instalações, dos recursos das
Escolas, dos orçamentos, da qualidade dos recursos educativos, dos professores,
das metodologias, dos progressos dos alunos, comparando-os internacionalmente.
Temos os Programas de benchmarking: PISA, PIRLS, TIMSS… porque não estamos
sozinhos neste mundo cada vez mais global e competitivo.
O Ministro entrou pelo facilitismo abolindo os exames de
avaliação para não traumatizar as criancinhas. Uma ideia peregrina do “cancro”
da Educação (as ditas Ciências da Educação que na verdade são as ciências da
deseducação, onde pululam pessoas que nada ou pouco sabem de conteúdos de
conhecimento e sabem muito de como ensinar… ludicamente.. os eduquêzes).
Revelou-se um Ministro fraco, um aventureiro sem conhecimento do setor que
aceitou o que as esquerdas lhe “venderam” como bom, mas que aconselharia
prudência para não enfeudar o nosso futuro mais do que o que ele já está.
O Ministro não se preocupou em saber como estão as escolas
inseridas no seu meio social. Se tem carências ou não. Se é preciso cuidar dos
meios para se poder exigir individualmente e corporativamente um ensino
consequente com as exigências do século XXI, onde muitos Estados encorajam os
responsáveis pela educação a adotar padrões internacionais exigentes para
competir ao mais alto nível e vencer.
Como uma das contradições está o Sr. Ministro pensar que a
avaliação no 4º ano traumatiza a criança, mas não achar que “aferir” conhecimentos
(fingir que se avalia) a uma criança do 2º ano não traumatiza. Claro que em
nenhum caso traumatiza coisa nenhuma. O Fundamental é saber como avaliar e o
que avaliar, treinando as crianças para este mundo competitivo e não deixá-las
às “feras”. Nem é preciso inventar a roda. Basta ver o que fazem os países mais
competitivos e ricos, como o Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Singapura (Tigres
Asiáticos). Não brincam em serviço. Felizmente os meus netos estão a estudar em
Singapura em ambiente exigente para estarem preparados. Eles não estão nada
traumatizados com as avaliações e classificações e estão muito felizes, tal
como o avô não ficou nada traumatizado com os exames que teve na 4ª classe, nos
2º, 5º e 7º anos do Liceu. Nem conhece nenhum ex-colega que tenha ficado.
Até nem é mau fazer uma avaliação intercalar, mas o inconsequente
é não avaliar nos fins de ciclo. Se a aferição serve para saber se a “mensagem”
dos professores chega bem ou não chega e, assim, poder-se corrigir a rota,
reforçar quem esteja mais atrasado, saber o que se passa no contexto escolar e
do meio social, etc, faria sentido que se avalie se as terapias e métodos estão
a resultar.
De qualquer modo, nunca seria uma medida a adotar em pleno
ano escolar em andamento, ao arrepio do bom senso, aliás, nem precisa ser bom,
basta ser senso comum, revelador do desprezo pelas nossas crianças.
Tenho pena que se tenha perdido um bom investigador e se
tenha ganho um Mau Ministro. Mais um exemplo do provincianismo e obscurantismo
português.