Edgar Silva / Mário Russo |
O Clube dos Pensadores recebeu a convite de Joaquim Jorge o
Candidato Presidencial Edgar Silva do Partido Comunista para um debate sobre as
próximas eleições presidenciais, naquele que é o 102.º debate ao longo de quase
10 anos de intensa atividade cívica realizada em Portugal.
Após a apresentação breve do CV do candidato, cuidadosamente
pesquisado pelo moderador, Edgar Silva iniciou a intervenção explanando as
razões da sua candidatura. Edgar Silva é um destacado membro do PC que chegou à política através da Igreja Católica, onde foi Padre com intensa atividade em
prol dos oprimidos e desfavorecidos, sobretudo na Ilha da Madeira. O seu
caráter humanista e solidário, com raízes na doutrina social da Igreja e das
Comunidades Eclesiais de base, de que o Papa Francisco é um bom exemplo,
granjeou no jovem Padre grande protagonismo que transbordou a própria atividade
missionária e o levou diretamente ao PC, sendo convidado em 1998 a integrar o Partido.
Edgar Silva, sente-se em todos os poros, é um Homem Bom,
acima de qualquer suspeita. Continua a ser um cristão e devoto lutador em prol
dos mais desfavorecidos. Por constatar que os diversos Presidentes da
Republica, com ênfase para Cavaco Silva, que jurou defender, cumprir e fazer
cumprir a Constituição, não o fizeram e deu o exemplo de 13 diplomas do Governo
de Passos Coelho que foram promulgados pelo PR e que foram considerados
inconstitucionais, todos eles violando e prejudicando gravemente o interesse
público e o povo.
Edgar Silva disse que hoje, como em Abril de 1975, os 3 D
estão por concretizar e explicou porquê. O primeiro D, da democracia, porque
falta liberdade e uma verdadeira democracia, pois a que temos é mitigada e
entregue à gestão de diretórios políticos capturados pelo interesse económico.
A democracia está em perigo porque está descredibilizada, tendo perdido a
dinâmica libertadora, sendo apenas um veículo administrativo facilitador da
grande corrupção que se verifica em Portugal. Tem vindo a dificultar o acesso
livre à justiça pelos mais frágeis da sociedade. Edgar Silva não aceita que não
haja alternativa, porque há.
O segundo D, de Desenvolvimento, também não está cumprido
quando se tem no país cerca de 3 milhões de pobres e quase miseráveis, grandes
assimetrias regionais e enriquecimento de grupos económicos, com os resultados
conhecidos.
O último D, da Descolonização, também, embora de forma
diferente, precisa ser cumprido, porque o país tornou-se uma colónia de
interesses económicos. Exemplificou com os 12 mil milhões de euros que o erário
público injetou para salvar a banca porque esta se serviu, a seu bel-prazer,
para financiar amigos e amigalhaços sem que alguma vez socializasse os
dividendos, mas fazendo-o em relação aos prejuízos, sem consequências nenhumas
para os malfeitores. Portugal deixou de ser senhor de si, com a captura
completa do poder público pelos interesses económicos.
O PR não governa, mas deve ser o garante de defesa do país e
do povo, respeitando a Constituição não apenas pela metade mas na sua
totalidade, coisa que manifestamente não tem acontecido.
Joaquim Jorge fez um conjunto de seletivas perguntas ao
candidato, designadamente sobre o preconceito que ainda existente contra o PC,
figurativamente questionando se afinal “os comunistas ainda comiam criancinhas
ao pequeno almoço”? dado que gerou muita celeuma o sua apoio ao novo Governo de
António Costa. Também questionou-o sobre as críticas de Marcelo Rebelo às
despesas do candidato comunista na campanha, porque ele (Marcelo) só prevê
gastar 150 mil, contra mais de 700 mil do candidato comunista.
Edgar Silva, quer a estas perguntas de Joaquim Jorge, quer às
da plateia, esteve sempre bem, com exceção a incómodas perguntas sobre a
fidelização canina do PCP a odientas ditaduras de esquerda em África, América
Latina e Ásia, onde os direitos humanos são constante e reiteradamente violados
e a liberdade e a democracia são meras figuras de retórica. Edgar Silva
preferiu contornar a questão, com o que deve ser a postura das relações Estado
a Estado da República Portuguesa.
Sente-se que Edgar Silva, com a sua genuína formação e
caráter solidário não se sente confortável neste apoio acrítico do PC. Eu diria
mais, apoio bajulador e inacreditável do PCP a ditaduras com as de Chavez,
agora de Nicolas Maduro (ou Nicolas Maluco ?), ao ditador da Coreia do Norte,
um sanguinário. À China e a diversas ditaduras ditas de esquerda em África.
Aliás, emerge a pergunta, se o PCP, que defende os mais fracos e frágeis e
muitas das suas posições são mais que justas, porque é que não é maioria nas
Legislativas (e Governo) e porque é que não consegue eleger um PR? Não será por
ter esta faceta obscura na sua atuação, aliada ao apregoado coletivismo e
desestruturação da família e da sociedade que o impede? Neste aspeto o PCP não
precisa de se modernizar e democratizar verdadeiramente, saindo deste mofo
doutrinário?
Às outras questões, Edgar Silva não fugiu, designadamente à
crítica a Marcelo, pois este esteve décadas a receber dinheiro para fazer
comentário em TV e a preparar veladamente a sua caminhada à Presidência, não
precisando de palco, ao passo que a imprensa reluta em fazer passar a mensagem
dos outros candidatos e em especial a sua e do PCP.
Considerou a imprensa cobardemente acrítica, bajuladora do
poder e enfeudada a interesses económicos e que estão a levar ao colo Marcelo.
Considerou Edgar Silva uma vergonha o que se passou com a
banca e a forma de intervenção encontrada, nomeadamente o último caso o do
BANIF, sem se apurar responsabilidades pelos descalabros, empurrando os
prejuízos para os mesmo de sempre, o povo que pagará mais pelos desmandos dos
senhores do capital. Também comentou o terrorismo social sobre o SNS com cortes
e mais cortes, com consequências mortais de doentes que seriam evitadas.
Também comentou o perfil de um PR, que deve ser identificada
com o povo para o defender como refere a constituição e não apenas parte ou
quem não se sente representante do povo.
Joaquim Jorge lembrou a pedofilia na igreja e que isso era
muito nefasto e negativo para uma instituição prestigiada e que agora tem no
Papa Francisco um acérrimo defensor em expurgar esse mal da Igreja. Edgar Silva
também concorda, mas diz que o problema é muito grave e infelizmente a Igreja é
apenas uma parte muito limitada do iceberg, onde pululam redes de tráfico de
crianças para a exploração sexual, ligadas a interesses económicos poderosos,
com a conivência e cumplicidade de diversas autoridades e responsáveis para que
tudo continue. Uma verdadeira vergonha e um atentado aos direitos humanos que
ele tem vindo a combater com as forças que tem.
Parabéns Joaquim Jorge pela condução de mais um belo debate,
construtivo e esclarecedor dos verdadeiros poderes do PR, muito maiores que os
que temos assistido e que deveriam estar a serviço do Povo, como Edgar Silva
reclama se fosse eleito PR.