30/12/2015

Edgar Silva abre o missal da sua candidatura no Clube dos Pensadores




Edgar Silva / Mário Russo
O Clube dos Pensadores recebeu a convite de Joaquim Jorge o Candidato Presidencial Edgar Silva do Partido Comunista para um debate sobre as próximas eleições presidenciais, naquele que é o 102.º debate ao longo de quase 10 anos de intensa atividade cívica realizada em Portugal.
Após a apresentação breve do CV do candidato, cuidadosamente pesquisado pelo moderador, Edgar Silva iniciou a intervenção explanando as razões da sua candidatura. Edgar Silva é um destacado membro do PC que chegou à política através da Igreja Católica, onde foi Padre com intensa atividade em prol dos oprimidos e desfavorecidos, sobretudo na Ilha da Madeira. O seu caráter humanista e solidário, com raízes na doutrina social da Igreja e das Comunidades Eclesiais de base, de que o Papa Francisco é um bom exemplo, granjeou no jovem Padre grande protagonismo que transbordou a própria atividade missionária e o levou diretamente ao PC, sendo convidado em 1998 a integrar o Partido.
Edgar Silva, sente-se em todos os poros, é um Homem Bom, acima de qualquer suspeita. Continua a ser um cristão e devoto lutador em prol dos mais desfavorecidos. Por constatar que os diversos Presidentes da Republica, com ênfase para Cavaco Silva, que jurou defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição, não o fizeram e deu o exemplo de 13 diplomas do Governo de Passos Coelho que foram promulgados pelo PR e que foram considerados inconstitucionais, todos eles violando e prejudicando gravemente o interesse público e o povo.
Edgar Silva disse que hoje, como em Abril de 1975, os 3 D estão por concretizar e explicou porquê. O primeiro D, da democracia, porque falta liberdade e uma verdadeira democracia, pois a que temos é mitigada e entregue à gestão de diretórios políticos capturados pelo interesse económico. A democracia está em perigo porque está descredibilizada, tendo perdido a dinâmica libertadora, sendo apenas um veículo administrativo facilitador da grande corrupção que se verifica em Portugal. Tem vindo a dificultar o acesso livre à justiça pelos mais frágeis da sociedade. Edgar Silva não aceita que não haja alternativa, porque há.
O segundo D, de Desenvolvimento, também não está cumprido quando se tem no país cerca de 3 milhões de pobres e quase miseráveis, grandes assimetrias regionais e enriquecimento de grupos económicos, com os resultados conhecidos.
O último D, da Descolonização, também, embora de forma diferente, precisa ser cumprido, porque o país tornou-se uma colónia de interesses económicos. Exemplificou com os 12 mil milhões de euros que o erário público injetou para salvar a banca porque esta se serviu, a seu bel-prazer, para financiar amigos e amigalhaços sem que alguma vez socializasse os dividendos, mas fazendo-o em relação aos prejuízos, sem consequências nenhumas para os malfeitores. Portugal deixou de ser senhor de si, com a captura completa do poder público pelos interesses económicos.
O PR não governa, mas deve ser o garante de defesa do país e do povo, respeitando a Constituição não apenas pela metade mas na sua totalidade, coisa que manifestamente não tem acontecido.
Joaquim Jorge fez um conjunto de seletivas perguntas ao candidato, designadamente sobre o preconceito que ainda existente contra o PC, figurativamente questionando se afinal “os comunistas ainda comiam criancinhas ao pequeno almoço”? dado que gerou muita celeuma o sua apoio ao novo Governo de António Costa. Também questionou-o sobre as críticas de Marcelo Rebelo às despesas do candidato comunista na campanha, porque ele (Marcelo) só prevê gastar 150 mil, contra mais de 700 mil do candidato comunista.
Edgar Silva, quer a estas perguntas de Joaquim Jorge, quer às da plateia, esteve sempre bem, com exceção a incómodas perguntas sobre a fidelização canina do PCP a odientas ditaduras de esquerda em África, América Latina e Ásia, onde os direitos humanos são constante e reiteradamente violados e a liberdade e a democracia são meras figuras de retórica. Edgar Silva preferiu contornar a questão, com o que deve ser a postura das relações Estado a Estado da República Portuguesa.
Sente-se que Edgar Silva, com a sua genuína formação e caráter solidário não se sente confortável neste apoio acrítico do PC. Eu diria mais, apoio bajulador e inacreditável do PCP a ditaduras com as de Chavez, agora de Nicolas Maduro (ou Nicolas Maluco ?), ao ditador da Coreia do Norte, um sanguinário. À China e a diversas ditaduras ditas de esquerda em África. Aliás, emerge a pergunta, se o PCP, que defende os mais fracos e frágeis e muitas das suas posições são mais que justas, porque é que não é maioria nas Legislativas (e Governo) e porque é que não consegue eleger um PR? Não será por ter esta faceta obscura na sua atuação, aliada ao apregoado coletivismo e desestruturação da família e da sociedade que o impede? Neste aspeto o PCP não precisa de se modernizar e democratizar verdadeiramente, saindo deste mofo doutrinário?
Às outras questões, Edgar Silva não fugiu, designadamente à crítica a Marcelo, pois este esteve décadas a receber dinheiro para fazer comentário em TV e a preparar veladamente a sua caminhada à Presidência, não precisando de palco, ao passo que a imprensa reluta em fazer passar a mensagem dos outros candidatos e em especial a sua e do PCP.
Considerou a imprensa cobardemente acrítica, bajuladora do poder e enfeudada a interesses económicos e que estão a levar ao colo Marcelo.
Considerou Edgar Silva uma vergonha o que se passou com a banca e a forma de intervenção encontrada, nomeadamente o último caso o do BANIF, sem se apurar responsabilidades pelos descalabros, empurrando os prejuízos para os mesmo de sempre, o povo que pagará mais pelos desmandos dos senhores do capital. Também comentou o terrorismo social sobre o SNS com cortes e mais cortes, com consequências mortais de doentes que seriam evitadas.
Também comentou o perfil de um PR, que deve ser identificada com o povo para o defender como refere a constituição e não apenas parte ou quem não se sente representante do povo.  
Joaquim Jorge lembrou a pedofilia na igreja e que isso era muito nefasto e negativo para uma instituição prestigiada e que agora tem no Papa Francisco um acérrimo defensor em expurgar esse mal da Igreja. Edgar Silva também concorda, mas diz que o problema é muito grave e infelizmente a Igreja é apenas uma parte muito limitada do iceberg, onde pululam redes de tráfico de crianças para a exploração sexual, ligadas a interesses económicos poderosos, com a conivência e cumplicidade de diversas autoridades e responsáveis para que tudo continue. Uma verdadeira vergonha e um atentado aos direitos humanos que ele tem vindo a combater com as forças que tem.
Parabéns Joaquim Jorge pela condução de mais um belo debate, construtivo e esclarecedor dos verdadeiros poderes do PR, muito maiores que os que temos assistido e que deveriam estar a serviço do Povo, como Edgar Silva reclama se fosse eleito PR.