Mário Russo |
Portugal vive por estes dias um momento político histórico
muito rico. Só não sei se hei de rir ou de chorar. Os Portugueses deram um
cartão amarelo a quase todos os partidos políticos nesta última eleição, de
modo que nenhum conseguiu a almejada maioria. Nada que outros países não tenham
resolvido com as alianças pós eleitorais entre partidos. Já se esperava este
desfecho empastelado, que indiciava a necessidade de conversações entre
partidos em Portugal. Mas todos resolveram atacarem-se de forma absolutamente
inqualificável na campanha, que sugeria ser difícil sentarem-se à mesma mesa.
Mas afinal, lá se sentaram, sem resultados muito palpáveis, a não ser o
rompimento de Passos Coelho com António Costa e o PS, com acusações primeiro de
PPC, mas o “trabalho sujo” veio pela voz de Marco António Costa, para condizer
com a figura. Restava uma alternativa á esquerda, que de facto tem a maioria
dos votos e deputados na AR.
António Costa, que perdeu as eleições (face à expectativa)
viu a oportunidade de transformar a sua derrota pessoal em vitória, governando,
tendo possibilidade de oferecer Jobs for the Boys para pacificar o Partido e a
matilha de herdeiros que já se saliva com o poder. Para tanto, tinha de engolir
uma caixa de sapos e namorar o BE e o PCP, partidos que disseram do PS o que o
gato não diz do bofe. Costa disse ao Presidente da Republica que o entendimento
para uma governação estável durante a legislatura estava conseguido e que não
viabilizaria um governo PaF, sendo a sua indigitação uma perda de tempo. BE e
PCP, repetiram o discurso.
Diante deste quadro, o que deveria fazer o Presidente? Tinha
toda a legitimidade para dar posse a qualquer das opções, mas preferiu seguir
uma tradição e deu posse a Passos Coelho: nada de mais, só que não contente, fez
um discurso agressivo e inábil. Um verdadeiro mamute numa loja de porcelana.
Radicalizou o que deveria ser evitado. Classificou os portugueses que votaram à
esquerda de indigentes. A Cavaco bastava dizer que dava posse a Passos Coelho,
membro do seu partido. Se quisesse alongar-se mais, deveria ser um magistrado a
acalmar os espíritos mais desassossegados, mas não o fez. Estigmatizou a
solução à esquerda, como se tivessem lepra. Independentemente de AC não ter
feito o seu trabalho de casa, tal como o BE e o PCP que vieram dizer, após a
reunião com o PR que viabilizavam um governo PS.
Cavaco Silva, sem a menor sombra de dúvida, é o pior PR da
história recente da democracia portuguesa e provavelmente o pior da história de
Portugal. Poderia acabar o seu penoso mandato com um pouco de dignidade. Nunca
foi uma pessoa polida, revelando-se até em alguns momentos ser quase um boçal.
Todos se lembram quando numa campanha colocou uma porção de bolo exagerada na
boca para assim não ter de dar uma resposta a pergunta de jornalistas. Agora
repete essa inabilidade e, pasme-se, diz com a maior candura, que não retira
uma palavra do que disse, revelando a tal insensatez.
A opção de Costa por uma união à esquerda que é contranatura
e perigosa, exigia do PR uma postura diferente, de magistratura equidistante,
criando pontes para o futuro, evitando o extremar de posições. PS que está
ansioso e sem rumo. Senão vejamos a falta de bom senso: sem se saber qual será
o Programa do Governo, o PS comportou-se como os partidos de contestação,
rejeitando liminarmente o que não sabem (podem desconfiar, mas não sabem).
António Costa já está a reboque do BE e PCP, que não indicia nada de bom.
Poderia esperar a sua apresentação para então justificar esta opção de rejeição,
mas não antes do tempo. Será que o PS tem conselheiros ou carroceiros a
aconselhar Costa?
Costa continua a dar tiros no pé. Pois pode muito bem o
governo minoritário de PPC começar a trabalhar para ser vítima e na próxima
queda conseguir a maioria.
Não se compreende como é que, havendo um acordo entre a
Esquerda, ele não seja claro, para desmontar a direita que ainda julga que os
comunistas comem criancinhas ao pequeno almoço. Faltou trabalho de casa de
todos que não querem PPC nem com molho de tomate.
Com efeito, é até confrangedor ouvir uma pessoa que tão
maltratou os portugueses e com arrogância durante 4 anos, dizer que está
preocupado com eles. Mas a alternativa é perigosa, porque não é dito como
resolver a equação do compromisso do défice com a UE e as mãos largas já exibidas.
De onde vem o rendimento para a generosidade? É algo que deve ser bem explicado
para evitar ser cozinhado em lume brando. Mas Costa não diz, nem qualquer outro
membro do PS, BE ou PCP, ou porque não sabem.
Por outro lado, o argumento que é impossível a conciliação
de interesses antagónicos de partidos
contra o tratado orçamental e os interesses do PS, que apoia, não parece ser
razoável. Como diria o Dr. Mário Soares, só os burros é que não mudam. O
momento histórico é o BE e PCP deixarem de ser partidos de contestação, para
passarem a ser da governação. O país ganharia com uma nova postura política.
Estabelecia-se mais competição política e provavelmente melhoraria o nível dos
deputados no futuro. Mas o que me preocupa é precisamente a generosidade demonstrada,
que é sempre bom de ouvir, mas que deve ser suportada por fundamentos sólidos.
Distribuir antes de se criar riqueza é muito perigoso.
É muito perigoso desfazer contratos feitos pelo governo PPC,
porque traz descrédito do ente Estado, perante investidores estrangeiros,
porque ninguém vai investir num país em que não há respeito por contratos. Por
mais maus que sejam, há que honrar compromissos, que não são de A ou B, mas do
Estado. É preciso mudar de políticas, sem dúvida, mas é preciso seriedade nas
propostas. A economia só cresce com confiança. O atual PS não está a conseguir
esse capital de confiança, que tanta falta faz ao país.
É o resultado da inabilidade dos políticos que temos: todos
ao nível da mediocridade.