21/10/2015

Eleições em Portugal: as leituras dum empastelanço




Mário Russo
O resultado das eleições indiciava um verdadeiro empastelanço na política caseira e é o que está a acontecer. De facto, os resultados podem ter várias leituras e diversas legitimidades. A primeira é que a coligação venceu porque obteve a maior votação com 38,36%, porém, sem ser maioria. No entanto, já deveria ter apresentado uma solução de governação, caso a nossa legislação não fosse anquilosada e o nosso Presidente não fosse tão lento a decidir.
Mas esta coligação obteve nas eleições anteriores (2011), 50.35%, ou seja, perdeu 30% dos seus eleitores. Enquanto isso, o PS obtendo 32,3% aumentou em relação à anterior 15%, mas insuficientes para merecer ser chamado a apresentar uma solução, a não ser se a coligação PáF não conseguir passar pela votação na AR e assim o PS juntar-se ao BE e PCP.
Pela primeira vez se assiste a uma cambalhota tática do BE e do PC, que estão nitidamente a mentir ao viabilizarem um governo PS, com o argumento que é o povo de esquerda que assim o deseja, sendo uma das legitimidades desta eleição. Nada mais falso. Uma armadilha para Costa e o PS.
Emerge dos resultados que o país perdeu, porque não tem governo estável. Os partidos do arco da governação perderam todos e só o partido da contestação BE pode considerar-se vencedor.
A estratégia do PCP e do BE, foi captar o descontentamento seja do Governo, seja da oposição do PS. Uma quase reedição do PRD. Fartaram-se de bater no PS. Muito mais que á coligação.
A coligação, na voz de PPC e de Portas, e António Costa pelo PS, fartaram-se de acusações mútuas, com indelicadezas, para não chamar faltas de educação cívica e até insultos. Lideres que deveriam pensar no “day after” em que seria preciso um mínimo de respeito mútuo para eventuais conversações. Como podem agora encarar-se?
Todos olharam para o seu umbigo e esqueceram-se do país.
Costa preferiu o partido e esqueceu-se que o povo queria mudanças em tudo, inclusive no PS, afastando as aves agourentas da camarilha Sócrates e Seguro. Perdeu credibilidade e o país, sem ganhar o partido. O PS está à beira da Pasokisação. A tentativa de Costa ser governo a todo o custo, ser-lhe-á fatal. O povo não gosta deste Governo. Acho que só eles se gostam, mas o povo também não gosta da atitude de Costa, porque cheira a batota.
Os líderes do PSD/CDS serão exímios a retirar os maiores benefícios desta situação. Costa, que deveria ter-se demitido no dia das eleições ao ser derrotado, está a fazer um haraquíri que pode ser um bumerang.
 O país está a afundar-se com estes senhores a sorrirem, mentindo sobre o verdadeiro estado na nação. Não se fizeram as reformas nestes 4 anos, que se impunham com maioria, agora será um descalabro. As contas na Europa Comunitária, que é comandada por um corrupto, são uma fraude. Fingiram que resolveram o caso Grego, subjugando o povo a uma austeridade que a nada levará, a não ser defender os bancos alemães e franceses, que iriam à falência se a Grécia claudicasse. Portugal é o “senhor” que se segue.
Mas, em Portugal há gente que pensa que estamos a salvo. Já começou o regabofe dos bancos a emprestar dinheiro para banalidades, aumentando ainda mais a dívida que já não é pequena. É este o sinal do impulso económico, mas um passo em falso.
O país continua, como após o 25 de Abril, com navegação à vista, sem um desígnio que mobilize o povo Português. Não conseguimos rentabilizar o muito de bom que por cá existe, por falta de lideranças com visão de estadistas. Em contrapartida sobram-nos aventureiros incultos e alguns quase boçais que comandam os aparelhos partidários e infetam o espetro político nacional.
Este é que é o verdadeiro fado nacional.