Pedro Passos Coelho conta com apoios de socialistas de peso,
como é o caso de Maria de Belém Roseira, que quebra o PS a meio e desvia do
essencial as energias que deveriam ser canalizadas para as legislativas.António Costa tem de lutar contra adversários externos e contra
estes inimigos internos, assim como um contexto externo que favorece
nitidamente o Governo em funções.
Com efeito, depois de 4 anos de dieta a pão-e-água, um pouco
de manteiga já faz uma grande diferença. Mais ainda num país com um povo pouco
esclarecido e com fraca educação. O preço do petróleo está a afundar países
produtores e a fazer flutuar países importadores, que agora precisam menos de
metade das divisas. O BCE de Mário Draghi decidiu, à cautela, baixar a taxa de
juro de referência e a comprar dívida soberana quanta a necessária, acalmando
os ditos mercados. A Grécia, que tinha um governo revolucionário, foi esmagada
pelo peso das botas cardadas duma Alemanha … quase nazi, para gáudio do
PSD/CDS. A arrecadação de impostos é anunciada como record e a encher “os
cofres”.
São demasiadas boas notícias económicas (ainda bem) para um
governo que ferrou sem piedade os portugueses e agora, o algoz anuncia as prebendas
para o futuro… se…se…, apesar de serem mentiras.
Por isso, António Costa tem de começar por pôr ordem na casa
para evitar os constantes “tiros-nos-pés” que diversos membros narcisistas que
pensam apenas nos próprios e não nos superiores interesses do partido.
A começar pelo hóspede da cadeia de Évora, o ex-PM José
Sócrates, que continua a causar embaraços ao PS cada vez que se lembra de
travar-se de razões com a Justiça, muito bem aproveitado pela imprensa PSD que tudo
faz para dar protagonismo ao preso e constranger António Costa.
Qualquer partido deve pugnar para que os seus membros sejam
pessoas de bem. Quando algum membro está a contas com a justiça com processos
graves, se for pessoa séria, é a primeira a pedir suspensão até aclaração da
situação. Quando tal não acontece, como é o caso de Sócrates, com as acusações
gravíssimas que sobre ele impendem, sem ter a estatura ética e moral de pedir a
sua suspensão do Partido para não o prejudicar, aliás, mantendo o seu
narcisismo à frente de todos os interesses coletivos, deveria ser suspenso
preventivamente de membro do partido. Sócrates continua a dominar uma franja de
militantes que o acompanhou enquanto governante, de má memória para os
portugueses. É uma intromissão na vida do partido de oposição e fácil de ser
usado, como está, pela oposição que vale tudo.
António Costa tem-se afastado de Sócrates, mas não é
suficiente. Há membros socráticos que causam repulsa à maioria dos portugueses
que continuam no ativo, comentando política nacional em colunas de opinião na
imprensa escrita ou a convite da imprensa controlada pelo PSD que fazem de
propósito para condicionar o líder do PS. António Costa tem de encostar esses
militantes à parede: querem continuar a prejudicar o partido?
António Costa tem de centrar-se no essencial e explicar bem
o que se passa na frente política, desmontando os argumentos do Governo
CDS/PSD, que nada fez para que o preço do petróleo esteja 50% abaixo que que
estava, nem para a decisão de Mário Draghi inundar o mercado com a compra de
dívida soberana (contra a opinião de Passos Coelho, que foi além da Tróika) que
tem levado à redução drástica dos juros respetivos. A melhoria económica que se
sente no país não pode ser negada, mas não é mérito deste Governo. É uma
melhoria assente na procura interna que teve uma forte ajuda do Tribunal
Constitucional que evitou o confisco de mais de 2,7 mil milhões de euros que
Passos Coelho pretendia sacar aos portugueses. Mas é uma melhoria que tem de
ser bem acolhida pelas oposições, realçando que a mesma está alavancada por
compras de bens imobiliários e automóveis, que é um perigo.
Também a insegurança que a Primavera Árabe trouxe ao Norte
de África desviou os turistas ricos da Europa (franceses à cabeça) para
Portugal. Uma boa notícia para o turismo português, que deve ser realçada, mas
bem enquadrada. Isso iria acontecer fosse quem fosse o Governo. Até o rato
Mickey.
António Costa vai ouvir até à exaustão o argumento de que
foi ele que livrou Portugal de ser uma Grécia, tal como Salazar disse ao povo
português que o livrou da II Guerra Mundial. Deve demarcar-se desta colagem,
mostrando que a Europa não está a lidar bem com o caso Grego. Nada foi
resolvido. Apenas fingiram que a situação foi resolvida. É uma questão de tempo
e tudo voltará como um bumerang, atingindo Portugal e o sonho europeu.
António Costa, tem de reunir forças e canalizar energias sem
dar o flanco. São pormenores que vão levar os indecisos a optar por um ou outro
partido. Costa não pode dar-se ao luxo de deixar socratistas terem
protagonismo. Deve tirar o máximo partido da recusa incompreensível da
Coligação entrar nos debates plurais, porque Passos Coelho tem medo de estar
sem Paulo Portas, um manipulador profissional que iria confundir e manobrar os
debates como bem sabe.
Costa também tem de repetir até à exaustão os perigos das
propostas de Passos Coelho privatizar a Saúde, a Segurança Social e a Educação.
Deve mostra o que se passa em alguns países com a privatização destas áreas e
as consequências nefastas para os mais pobres. António Costa deve antecipar-se
à tentativa de colagem do seu PS ao PS de Sócrates, tal como o Benfica de Jorge
de Jesus não é o mesmo do de Rui Vitrória. Porque raio há-de António Costa
andar a defender o que de mal foi feito por Sócrates? Tem de fazer o mea culpa
naquilo que não concorda e mostrar o seu próprio caminho. Foi por pensar
diferente que se submeteu a votos no seu Partido. Não pode deixar-se imolar
pelas trapaças de gente como Portas e a máquina de propaganda do PSD que o
querem levar às cordas.
Costa tem de ouvir quem achar conveniente, mas não se pode
deitar no regaço seja de quem for, em especial dos académicos, que têm o seu
valor, mas que não são necessariamente bons executantes. Há modelos matemáticos
que servem de base ao apoio a decisões, mas que não podem ser confundidos com a
realidade como alguns académicos (maus) pretendem fazer crer, com os resultados
que já sabemos. António Costa tem de escutar o seu mais profundo instinto
político e a racional experiência executiva e seguir o seu caminho, que é para
o bem de um povo e não dos amigos do aparelho partidário.
Há assuntos que podem ser bem usados: consequências das
privatizações realizadas até agora. A
Destruição de empregos. A desmistificação dos números
exibidos pelo INE sobre desemprego, forçado pelo raspanete do PM que não gostou
da mensagem e mandou matar o mensageiro. AC tem de evitar entrar por
facilitismos, porque os portugueses não confiam quando a esmola é grande. Se há
uma boa notícia na área económica, tem de mostrar que a sua política teria dado
ainda melhores resultados que os anunciados e quantificar, coisa que não é
difícil, pois são os mesmos argumentos porque há melhoria económica (sobretudo
alavancada pela procura interna).